Conheça qual a melhor forma de usar a visão para pilotar com maior precisão e segurança
O motociclista passeia tranqüilamente pela estrada até que numa suave curva ele enxerga um buraco, olha com atenção para não passar por cima e "cabram". Acerta o buraco em cheio e quase leva um tombo! Se nosso amigo tivesse olhando para o ponto certo (o caminho por onde queria passar e não o buraco) dificilmente o incidente teria acontecido. Saber olhar para o lugar certo e até conhecer o funcionamento dos olhos é essencial para uma pilotagem segura.
Segundo o oftalmologista e professor da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp Paulo Mello, o olho humano oferece dois tipos de visão: a visão focal, projetada pela pupila, e a visão periférica, captada pela íris. Na visão focal as imagens de um determinado ponto são detalhadas, permitindo ler uma placa, por exemplo. Uma das características da visão focal é a tendência de perseguir objetos em movimento. Já a visão periférica não oferece nitidez, no entanto é extremamente sensível ao movimento e variações de brilho. Outra diferença entre as duas visões é a velocidade: apesar de ambas serem interpretadas pelo cérebro, a visão periférica é mais ágil e imediata que a focal.
Essas características do olho podem ser percebidas facilmente quando estamos sendo ultrapassados. Não é preciso desviar o olhar da estrada para saber se é um carro, moto ou caminhão, pois a íris já detecta o movimento e a forma. Entretanto, é impossível perceber detalhes como o modelo ou placa sem desviar o olhar. O ideal é aproveitar esta "pré-visão" e manter uma velocidade constante para facilitar a ultrapassagem, pois, no caso de um imprevisto adiante, a atenção não será desviada.
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O simples fato de aproveitar a visão periférica, muitas vezes mal explorada, já nos poupa de desviar a atenção da pista. Dessa forma se aproveita melhor a visão focal - que deve estar sempre direcionada para onde estamos indo e não diretamente para os obstáculos. "O ser humano está habituado a caminhar para onde os olhos apontam", comenta o oftalmologista Paulo Mello. "Por isso, se houver um obstáculo na pista, olhe por onde você vai passar e não para o obstáculo", avisa.
No escuro
Durante a noite, a atenção com o olhar deve ser redobrada. Como a visão focal tende a "perseguir" objetos, é comum os olhos acompanharem faróis no sentido oposto. Desviar o olhar do caminho para acompanhar os faróis, além de provocar ofuscação, tende a resultar em desvio da trajetória. Quando a noite cai, o melhor a fazer é procurar referências na pista, sejam faixas ou olhos de gato.
Podemos complicar um pouco mais. Durante a ultrapassagem numa curva, para onde olhar? Gilson Scudeler, cinco vezes campeão brasileiro de motovelocidade na categoria 1.000 cc, aconselha a olhar rapidamente para ver o que há adiante - se não existem obstáculos na pista - e então focar a visão na rota de ultrapassagem. "Com a atenção focada na moto da frente os olhos copiam o traçado em vez de procurar um melhor". Para Scudeler, a visão deve ser trabalhada de diferentes formas, de acordo com o objetivo, mas sempre fixada ao ponto que se quer atingir (e não a ser evitado). Antes de frear, por exemplo, ele se fixa a um ponto de referência; já para ultrapassar ou contornar uma curva, no traçado a ser feito, e não no piloto à frente ou no guard rail.
Se nas pistas a preocupação é com os adversários, na cidade é com a aproximação dos carros. Nos corredores entre duas filas de carros a distância do guidão da moto para os retrovisores dos outros veículos não deve impedir o motociclista de olhar à frente e perceber um pedestre ou buraco. Olhar adiante ajuda a prevenir freadas ou mudanças bruscas de direção dos carros à frente. Já a aproximação de um carro perto do motociclista é percebida pela visão periférica. O mesmo vale para quem se habituou a seguir a moto da frente nos corredores: se houver uma freada brusca... melhor que piloto esteja olhando à frente!
Melhor prevenir
Exames periódicos também são fundamentais. "Em minha clínica é comum atender pacientes que se envolvem constantemente em acidentes de trânsito sem saber que o motivo é um pequeno problema de visão", diz o oftalmologista Paulo Mello. O mais comum nesses casos é o glaucoma, que diminui gradualmente a visão periférica e impede que o condutor perceba a aproximação de um pedestre ou de veículos. "Um simples exame pode diagnosticar e evitar complicações futuras", completa. Outro hábito que aos poucos causa problemas é o uso de óculos escuros que não impedem a entrada de fuligem nos olhos. O ideal é manter a viseira do capacete fechada ou usar óculos de proteção que vedem a entrada de fumaça e fuligem pelas laterais.
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Fonte: Francis Vieira - Revista Duas Rodas
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