A conquista do oeste brasileiro deu-se, de várias formas e paulatinamente. De forma definitiva só veio ocorrer, até onde a vontade política permitiu, com a construção e consolidação da BR-364, a rodovia que ligou Brasília, no Distrito Federal ao extremo oeste do Brasil, o Acre e que permitiu as ligações com outros locais da Amazônia Ocidental, como Manaus, no Estado do Amazonas, Santarém, no Pará e Boa Vista, em Roraima.
Primeiro os navegadores, os bandeirantes, os desbravadores. Em outra fase os destemidos nordestinos e o líder e herói inconteste no Acre, o gaúcho Plácido de Castro, aliado a sensibilidade do Barão do Rio Branco. Daí surgiria á ligação da Bolívia ao Atlântico, com a construção da lendária Estrada de Ferro Madeira Mamoré - EFMM, uma epopéia que custou muitas vidas de brasileiros e estrangeiros.
A engenharia militar brasileira, traria a integração definitiva. A experiência da instituição na construção de açudes, ferrovias, rodovias, pontes, viadutos e obras complementares, em lugares inóspitos, isolados, em cenários dos mais difíceis, inspirada em seu passado de glórias, realizações, princípios de determinação, legado de exemplos, coragem moral e autoridade para fazer afirmações baseadas na racionalidade, aceitar o desafio e desenvolver trabalhos tidos por muitos como impossíveis. Ainda assim pesava sobre a Arma de Engenharia do Exército uma grande responsabilidade. Envidar todos os esforços para construir definitivamente uma rodovia, num lugar tido como, praticamente impossível, cortado por rios caudalosos, atravessando pântanos e atoleiros, com densidade pluviométrica das mais elevadas do globo, num lugar tido como dos mais endêmicos e isolado do planeta. Em sua visão profética, o coronel Weber afirmava: “O avião voa, sobrevoa, mas não povoa. Só a implantação definitiva de rodovias ocupa os espaços vazios, fazendo com que populações se instalem as suas margens e surjam povoações, vilas e depois cidades.” Com conhecimento de causa e propriedade, grande mentor de toda esta epopéia, em idéias e ações, o General Rodrigo Octávio, oriundo e orgulho da Arma de Engenharia do Exército: “Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia, muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados, em conquistá-la e mantê-la”.
Estudioso da região como Artur Ferreira Reis afirmava: “O rio comanda a vida na Amazônia.” Antes da construção de rodovias na Amazônia as vias naturais sempre foram às fluviais. Estas vias, sinuosas e morosas permitiram ocupações esparsas as margens dos rios regionais. Estes locais eram dependentes do transporte fluvial e raramente servidos por aeronaves, rápidas, limitadas e onerosas. A grande ligação aérea, à época, se dava através do CAN – Correio Aéreo Nacional. Eram aviões da Força Aérea Brasileira que serviam e servem populações isoladas na Amazônia, suprindo-as em suas necessidades básicas, particularmente nos aspectos de assistência médica, odontológica e em medicamentos, assim como este papel sempre foi desempenhado, também, eficaz, necessário, preciso e sistemático, mas, anonimamente pela Marinha Brasileira, nos moldes das demais instituições que compõem as Forças Armadas do Brasil, que disto não fazia e não faz alarde.
O primeiro comboio, do 5º Batalhão de Engenharia de Construção, chegou em Porto Velho, no dia 20 de fevereiro de 1966, após um epopéia que iniciou em 16 de janeiro do mesmo ano, portanto, após 35 dias de viajem por atoleiros, charcos, árvores caídas, bueiros e balsas quebradas, subidas e descidas íngremes, caminhos de serviço estreitos, praticamente intransponíveis e que não permitiam a transposição de um veículo por outro, densidade pluviométrica elevada, isolamento quase absoluto, sem prospectiva de retorno ou ter como repor suprimentos, combustíveis ou manter qualquer tipo de comunicação com o destino ou a origem, dormindo ao relento, sujeitos as intempéries, muitas vezes sem ter o que comer, com escassez de água potável, em região endêmica, assolada pela malária, além de uma infinidade de óbices.
Fonte: Carlos Alberto Camargo Lima - Blog do Lima - Militar de Engenharia do Exército, Pioneiro do 5º Batalhão de Engenharia de Construção, Administrador, Especialista em Estudos de Política e Estratégia, e Presidente da Academia Maçônica de Letras de Rondônia.
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