quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Brinde espúrio

Não se passa um dia sem uma péssima notícia sobre a Petrobras. Ou ela registrou o seu pior balanço nos últimos 60 anos ou chegou a um inédito grau de endividamento. Ou terá de vender oleodutos, gasodutos e navios-petroleiros - o que eles chamam de "fatias de subsidiárias" - a preços de avenida Passos, ou precisará receber "injeção de recursos da União". O resultado é a "forte redução de recursos e investimentos" (as aspas são oficiais) ou a ameaça de ser rebaixada para a segunda divisão no ranking mundial de empresas.

Em todos os casos, sobrará ainda menos dinheiro para a cultura. A Petrobras já não é a maior patrocinadora estatal da cultura brasileira, coincidindo com as revelações dos assaltos contra o seu patrimônio praticados por administradores e operadores, em benefício de ministros, políticos, tesoureiros de partidos, doleiros e outros heróis do povo brasileiro.

A cada milhão desviado para esses ilustres uma companhia de teatro encerrou suas atividades, um grupo de dança nunca sairá do projeto uma sinfônica foi obrigada a dispensar um naipe de oboés e milhares de bolsas deixarão de ser concedidas. Muitas dessas companhias - pela sua própria natureza, sem lucro - jamis atrairiam o interesse de empresas privadas. Era aí que a Petrobras entrava, e não fazia mais que sua obrigação.

No atual panorama de terra arrasada, quantos empregos relativos à cultura (de cenógrafos, carpinteiros, coreógrafos, ensaiadores, maestros, arranjadores, copistas, diretores de cinema, assistentes de direção, fotógrafos, diretores de arte, divulgadores da arte, divulgadores etc. etc) não estão deixando de ser criados? Quantos milhões de espectadores não ficam em casa assistindo ao "Bi Brother Brasil" em vez de estar consumindo coisa melhor?

Para cada evento cultural que a Petrobras deixa de ajudar, um corrupto brasileiro ergue um brinde com uma taça de vinho francês.

Fonte: Ruy Castro - Folha de São Paulo / Impresso


Nenhum comentário:

Postar um comentário