Forma-se uma cadeia nacional de comunicação. Todas as plataformas se abrem para transmitir a palavra do governante. Vai do Periscope ao radinho de pilha salvo de uma loja de usados. De uma smart tevê a um celular que não acessa internet, mas tem FM. Da poderosa emissora de tevê à humilde rádio comunitária de Taiaçupeba. O governante, ao vivo, respira fundo, olha o público através das lentes e com voz firme começa a falar. Primeiro assume a responsabilidade dos erros cometidos pelo governo. Depois repudia veemente e claramente esses erros, demonstrando sincera intenção de não reincidir. Finalmente exprime o arrependimento pelos transtornos causados aos cidadãos. Estes ficam emocionados por ele se mostrar sinceramente enojado de si próprio e daqueles que transgrediram em nome do governo. Um acerto de contas com a própria consciência. Muito mais do que um ato político, um desabafo pessoal. A audiência bate recorde. Quem estava na rua parou em bares, lojas de eletro domésticos, telas de elevador para acompanhar o programa. Não se ouviu o maldito panelaço. Foram dez minutos de programa como todos os partidos têm direito no Brasil para apresentar solução para os grandes problemas nacionais.
O público viu pela primeira vez, desde a proclamação da independência, em 1822, um ato dessa natureza. Para alguns foi um ato de fraqueza, de falta de coragem para enfrentar a crise econômica, o desemprego e a falta de credibilidade da área econômica do governo. Afinal ele foi eleito por quatro anos e segundo a constituição apenas em casos especialíssimos o governante pode ser apeado do poder. Ninguém pode ser impedido de governar porque não tem o apoio da maioria da população. Ele não tem a obrigação de agradar a todos, e muitas vezes, para se avançar é preciso ministrar remédios amargos, geralmente impopulares. Portanto aparecer em público e pedir desculpas pelos erros é uma covardia. Outros porém entendem que o gesto foi grandioso. Não é fácil se expor dessa forma. É preciso coragem, determinação, convicção que é possível consertar os malfeitos e seguir adiante. Um governante como esse deve ser respeitado, ainda que tenha reconhecido em público que errou, que não ouviu as vozes das ruas, nem as críticas da oposição, que, ainda que ácidas, eram procedentes. Enfim, o programa em cadeia nacional motivou o país a discutir não só o gesto, mas o conteúdo que foi apresentado as 20hs, horário de novela.
Os assessores do governantes também estavam divididos. O grupo chamado de pomba era favorável a convocação da cadeia nacional. Expor as entranhas do governo, reconhecer que errou quando nomeou funcionários corruptos, maquiou os números da economia para não prejudicar a campanha de reeleição e mentiu para os eleitores. Essa atitude se assemelha a uma águia que arranca as penas e as unhas, hiberna no alto da montanha, mas se recupera e pode voltar a fazer grandes vôos nas alturas. Um ato de dignidade há muito esperado pela sociedade brasileira. O grupo dos falcões era radicalmente a qualquer concessão a imprensa golpista e a oposição entreguista. Era preciso esmagar essas resistências e punir severamente os que atacaram o governo sistematicamente, certamente são esbirros a serviço do imperialismo e daqueles que não querem dividir o aviões com os pobres.
Fonte: Coluna do Heródoto Barbeiro - Record News - São Paulo/SP.
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