quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

DEUS NOS FALA

Evangelho de Lucas 4,1-13

Lucas relata que toda a existência de Jesus foi marcada pela tentação da sedução do poder e da riqueza para dificultar, impedir o Reino de Deus. Porém, diz o evangelista, Jesus foi categórico ao rejeitar tudo isso. Continua Lucas: “Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias.”, isto é, com a força de Deus foi para o deserto. Mas, por que foi para o deserto? Você se lembra de quando o povo hebreu se libertou do Egito e passou pelo deserto para poder chegar à terra prometida? Muito bem. Aquela libertação ficou incompleta. Agora Jesus tem a missão de libertar de maneira definitiva o povo que ainda é escravo. Por isso, diz Lucas que Jesus ficou quarenta dias, fazendo alusão ao êxodo conduzido por Moisés.

Aqui precisamos esclarecer logo que os números na Sagrada Escritura tem sempre um valor figurado e nunca aritmético. Dito isto, quarenta representa uma geração. Assim sendo, significa que toda a vida (geração) de Jesus foi submetida a essas tentações de falsificar o projeto de Deus de salvação. E quem provocou tudo isso foi o diabo. Com isso, Lucas contrapõe o Espírito Santo ao diabo. Duas maneiras de ser totalmente diferentes. De um lado, Deus que serve porque ama e liberta, do outro lado, o diabo que quer de todo jeito o poder que divide, que escraviza.

“Passado esse tempo, teve fome”, isto é, cheio de Espírito Santo, quis manifestar a plenitude da sua missão através da doação total de si. Portanto, não uma fome física, mas, sim, de revelação do projeto do Pai. Por isso, o diabo, não se conformando pela rejeição de Jesus, insiste em colocar a prova o Mestre Nazareno: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Veja a ousadia do diabo: desconfiar que Jesus seja o filho de Deus. Quantas vezes também entre nós surgem e se alimentam esse tipo de dúvidas sobre o nosso Mestre Jesus. Isto é, segundo Lucas, obra do diabo.

O ser humano, por quanto errado possa ser, nunca tem a capacidade de minar na raiz o projeto de Deus Pai. Não tem capacidade para chegar assim à fonte de Deus. Único é o diabo, que tem o poder de identificar tudo o que procede de Deus, porque, segundo o catecismo da Igreja Católica “são anjos decaídos por terem se recusado livremente a servir a Deus a seu desígnio”. Qual foi a reação de Jesus? Ele cita o trecho do Deuteronômio: “Não só de pão vive o homem”. Isto significa que tem algo mais importante do que isso, e, portanto, não podemos absolutizar a matéria, por quanto importante seja.

A segunda tentação: "Eu te darei todo o poder e riqueza desses reinos, porque tudo isso foi entregue a mim, e posso dá-lo a quem eu quiser”. Lucas quer dizer que o ‘poder e a sua glória’ são tentações do diabo para impedir que o Reino de Deus se realize entre nós. No entanto, o Reino se manifesta com o amor e não com a conquista de ‘poderes de glória’. E Jesus insiste com a Palavra de Deus: “Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá”. Quer dizer que o amor que se doa, que serve não pode conviver com o domínio. Enfim, a última tentação: “O demônio levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do templo, e disse-lhe: Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Ordenou aos seus anjos a teu respeito que te guardassem. E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra. Jesus disse: Foi dito: Não tentarás o Senhor teu Deus.” Com isso, renova a total confiança em Deus Pai. E você, perante a tentação, consegue renovar a sua confiança em Deus? Deixa-se atrair pelo poder ou ser servidor dos outros? Uma santa Quaresma e uma boa Campanha da Fraternidade!

Fonte:  Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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