sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

PROTAGONISTA DA VIDA

Hoje, eu quero contar uma história para aumentar nossa esperança na vida. O protagonista é um irmão no sacerdócio, padre Gianni Giomo, que também é meu confrade de congregação religiosa PIME. Creio que esse testemunho seja um incentivo para todos nós para apostarmos na vida e não na morte. E isso pode acontecer até em situações mais destrutivas e impossíveis da nossa história: sermos protagonistas de histórias de vida. Assim iniciou o seu testemunho, padre Gianni: “A biomédica Dra. Nadja, em seu laboratório de análises clínicas, constatou uma gravidez. Era Maria Vitória que pedia para chegar a este mundo lindo e dramático. L., a mãe de Maria Vitória, ao saber que estava grávida, ficou desesperada. Queria a todo custo matar a criança. Nadja insistiu comigo para que fosse falar com a jovem mulher de 27 anos. Pensem: aos doze anos L. foi viver com um rapaz de 16 anos, pai de seus primeiros dois filhos, um menino e uma menina. Agora ele está com 31 anos e está humanamente destruído. É alcoólatra e usuário de crack, embora, de vez em quando, consiga exercer sua atividade de pescador. L. ficou com ele durante oito anos, até que não suportou mais sofrer todo tipo de violência e se separou. Pouco depois, infelizmente, ela entrou na triste vida da prostituição, das drogas e de vários abortos. Desta vez, porém, o Senhor, morto pelos nossos pecados e ressuscitado para a nossa justificação, fez com que Maria Vitória estivesse entre nós e ela veio ao mundo no oitavo mês de gestação, por meio do parto cesáreo, no dia 15 de março e está forte, sadia e crescendo. Sem dúvida, Nossa Senhora de Lourdes se fez presente com toda a força da sua intercessão. Quando fui falar com L. e aconselhá-la para fazer um ato de fé na vida (“A vida não é obra nossa, vem de um Mistério maior, mais alto do que nós”), lembro que precisei ir à casa dela três vezes para encontrá-la. Apresentei-me desarmado, sem julgar, sem preconceitos, e confiante no sucesso de minha missão de dissuadi-la. Como minhas palavras poderiam contribuir para algo grandioso no meio de una situação desesperada? Existir, poder vir a existir, é o primeiro milagre, é tão grande! Entre o ser e o nada, por pequena que seja nossa existência, a diferença é infinita. Aconselhei e animei L., a fim de que ela tivesse coragem e, sobretudo, a fé. Dizia-lhe: ‘A vida... é de Deus, vem de Deus. Leve à frente esta gravidez. Não se arrependerá’. Ela me respondia: ‘Será que vou conseguir amar esta criança? Com que recursos vou criá-la? Já tenho duas crianças para cuidar!’. Os vizinhos me disseram que ela continuava procurando abortar com garrafadas populares. Não tinha dinheiro para recorrer a clínicas clandestinas, como aquela vez quando o pai dela a mandou abortar e a levou a uma enfermeira aposentada, parteira, que em sua casa mantinha um quarto bem aparelhado como uma sala de parto moderna, com ultrassom e tudo. Esta mulher tirou dela um nenê de três meses, depois de matá-lo com uma longa agulha que enfiou no cérebro e no coração do bebezinho. 

Este foi o aborto que mais a impressionou e que a feriu. Mas o Deus da vida é mais forte. A gravidez de Maria Vitória continuou. Um dia encontrei L. em frente à minha casa. A barriga dela não aparecia muito. Pediu-me dinheiro para comprar um botijão de gás. Dei, mas quis mais tarde averiguar se era verdade e não fosse desculpa para comprar droga. Contou-me que fazia alguns dias que estava perdendo ‘água’. Chamei a Dra. Nadja para examiná-la e vimos que era necessário tomar precauções para a vida da criança não correr risco e conseguimos uma ambulância para que no dia seguinte fosse atendida na capital do estado, na maternidade de risco Nossa Senhora de Lourdes. Assim, Maria Vitória chegou a este mundo. O irmãozinho dela, por parte de mãe, lendo a certidão de nascimento, perguntou por que no dele havia um sobrenome e no da nenê, sua irmã mais nova, não tinha. A mãe respondeu: ‘Ela é Maria Vitória de Jesus’. Fiquei feliz em batizar Maria Vitória, no dia 31 de maio, festa da visitação de Nossa Senhora, a mulher bendita porque acreditou que iria acontecer com ela tudo o que o Senhor lhe prometeu.

L. luta agora com quatro filhos de três pais diferentes, mas cuida também de Isaque, um irmãozinho da parte de mãe com 12 anos. A mãe de Isaque e de L., vó dos outros quatro, infelizmente, continua numa vida triste de prostituição, dando bastante dor de cabeça. Isaque, abandonado na rua, sem frequentar a escola, se não tivesse sido recolhido pela irmã, acabaria num internato pela intervenção do Conselho Tutelar. A Providência me deu a possibilidade de sustentar esta mãe e seus pequenos durante todos esses anos com os pouquíssimos recursos a minha disposição até que aconteceu mais um milagre, quando consegui para eles uma casa própria, depois que passaram por quatro casas de aluguel e uma de invasão, sem nada conseguir. Mas os recursos de onde vieram? A Providência! Benfeitores de carne e osso que fazem da minha história, a experiência de Comunhão concreta que é a Igreja.”

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.


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