terça-feira, 24 de abril de 2012

Ansiedade tem cura?

Essa pergunta é surpreendentemente muito comum. Eu digo surpreendentemente porque “cura” não é um termo que deveria estar relacionado à ansiedade!

Para compreender o que quero dizer, é preciso, em primeiro lugar, entender que a ansiedade não é uma doença e, por não ser uma doença, “cura” não é um termo que deveria ser utilizado em um questionamento que busca uma solução para o problema.

Vale mencionar que estamos falando aqui somente de ansiedade, não de distúrbios clínicos como síndrome do pânico, distúrbio bipolar, depressão, entre outros casos que requerem acompanhamento médico e medicação. Muitas dessas condições envolvem ansiedade também, mas são, em primeiro lugar, problemas biológicos. Nosso foco aqui com este artigo é avaliar a ansiedade comum, aquela que todo mundo enfrenta vez ou outra na vida, mas que não requer tratamento farmacológico.

A ansiedade comum é aquele sentimento de apreensão, insegurança e medo que aparece quando enfrentamos situações desconhecidas, quando as coisas não acontecem como esperado ou quando estamos esperando pelo desenrolar de certos eventos.

Essa condição não é biológica, ou seja, o que gera esse tipo de ansiedade não é um distúrbio hormonal ou químico no cérebro – o que pode ser a causa de problemas mais sérios, como depressão e bipolaridade.

A ansiedade comum nasce no “nível das ideias”, ou seja, em sua mente. Assim como a agressividade que faz com que uma pessoa perca as estribeiras e se envolva em uma briga de bar, a ansiedade comum envolve escolhas e opiniões pessoais. Comparo a ansiedade à agressividade porque é fácil julgar alguém que, estando em sã consciência, toma uma atitude agressiva, como se envolver em uma briga física. Entendemos que essa pessoa teve uma escolha e, conscientemente, escolheu entrar na briga. O cérebro dela não a fez brigar, ela fez, ela escolheu.

Com a ansiedade comum ocorre o mesmo. A pessoa ansiosa, por mais que acredite que não tem controle sobre sua ansiedade, está fazendo uma escolha. A começar pelo drama que ela faz dentro de sua própria cabeça com relação à situação: é a opinião pessoal (ou seja, as ideias, os conceitos sobre “como é” passar por alguma experiência) que dita como ela irá se sentir. Se você morre de medo de falar com estranhos em festas, você tenderá a se sentir extremamente ansioso sempre que estiver nessa situação. Seja por medo de rejeição, baixa autoestima ou más experiências passadas, o fato é que esse medo é criado em sua mente pela percepção que você tem da perspectiva de falar com estranhos. Isso não tem “cura”!

“Cura” não é um termo adequado para descrever a solução para problemas que nascem em suas ideias e conceitos.

Muitas pessoas procuram a “cura para a ansiedade” como se a ansiedade fosse como uma gripe que se pega acidentalmente por aí. Usamos a palavra “cura” quando falamos de problemas medicáveis ou tratáveis clinicamente. Não é possível tratar suas próprias ideias! Só mesmo você puder mudá-las e, através dessa mudança, alterar a raiz do que o faz se sentir ansioso.

Não há remédio que faça você mudar de time de futebol, não é mesmo?! Então, o que o faz acreditar que há remédio que “cure” a ansiedade? Se a ansiedade é um problema de opinião (assim como a sua escolha de time de futebol), é nesses conceitos que você deve mexer para alterar como você se sente no final das contas.

É importante ter consciência da gravidade do seu problema antes de procurar ou mesmo de aceitar ajuda médica. Hoje em dia, qualquer reclamação com relação à ansiedade ou depressão costuma ser medicada com remédios para ansiedade crônica e condições mais graves, que criam dependência. Se a pessoa está sofrendo de síndrome do pânico ou está à beira do suicídio, remédios não são apenas indicados, mas absolutamente necessários. No entanto, devido à leviandade com que a comunidade médica vem tratando casos de ansiedade (colocando tudo no mesmo saco e prescrevendo os mesmos medicamentos para todo mundo), é importante que você tome as rédeas da própria vida e tenha noção primeiro da severidade do seu próprio caso, sem fazer drama e, principalmente, sem qualquer ilusão de que um medicamento pode ser justamente do que você precisa. Se você sabe que seu problema não é sério, evite procurar quem lhe receite medicamentos, pois não é por aí.

É de conhecimento geral, ou seja, não é um “segredo” que remédio nenhum cura a ansiedade – ou mesmo outros distúrbios mais sérios, como depressão ou pânico. Medicamentos apenas estabilizam o paciente e têm vida curta, ou seja, o remédio deixará de fazer efeito após certo tempo de administração. Em casos graves, o medicamento é usado para que o paciente tenha condições de manter a normalidade de sua vida enquanto um trabalho paralelo é feito no nível das ideias. Se o paciente não progredir nesse aspecto, mudando os conceitos que possui e que causam a ansiedade, ele jamais poderá melhorar, uma vez que o remédio em si não resolverá o problema, não importa por quanto tempo ele seja administrado. O objetivo é que o paciente possa ter uma “mente clara e objetiva” com a ajuda dos medicamentos e, nesse meio tempo, consiga lidar proativamente com a raiz dos seus problemas.

Essa abordagem está correta e não estou aqui para criticá-la! O problema, no entanto, é que, hoje em dia, muitas pessoas que não precisam de medicação estão sendo medicadas e esse processo está dificultando a solução do problema real, pois a cultura do remédio engana muito. Muitos pacientes erroneamente acreditam que o remédio está de fato curando sua doença – não está – e quando se sentem melhor, perdem a motivação para dar prosseguimento com a terapia paralela que pode realmente resolver o problema.

A minha dica, se você ainda associa o termo “cura” à ansiedade e se pergunta se “ansiedade tem cura”, é desvincular esses dois termos e compreender que ansiedade não é uma doença para ser curada, mas uma questão de conceitos e ideias em sua própria cabeça. Se você sofre de ansiedade comum e com sinceridade avalia seu problema como “não clínico”, ou seja, se você consegue levar sua vida normal, mas tem picos de insegurança que enfatizam a sua ansiedade, você não precisa (e não deve) procurar medicamentos, nem procurar uma “cura” fora de você, pois ela não existe.

Assim como não existe “cura” para a agressividade, somente uma mudança de comportamento, também não existe “cura” para a ansiedade, somente uma mudança de conceitos que fazem com que você se sinta ansioso. Ou seja, a questão que estamos discutindo aqui é semântica. Ansiedade tem sim “solução”, mas é um erro chamar essa solução de “cura” pois ao fazê-lo você acaba desenvolvendo uma expectativa de que algo fora de você, como um remédio, poderá resolver o problema, quando na verdade, somente uma mudança de perspectiva dentro da sua cabeça pode acabar com a ansiedade.

A verdadeira cura para a ansiedade é a sua mudança íntima que fará com que você pare de fazer os dramas que o desestabilizam emocionalmente. Se você precisa de ajuda para passar por esse processo, procure um terapeuta, seja um psicólogo, um coach ou outro profissional que o ajude a navegar pelo seu universo interior. Mantenha em mente que a cura não está fora de você e que remédios jamais resolverão o seu problema. Se você tem ansiedade em níveis anormais, procure um psiquiatra e analise a possibilidade de passar por um tratamento em que a medicação é acompanhada por terapia. Nunca perca a perspectiva de que qualquer medicação terá apenas o objetivo de estabilizá-lo para que você possa pensar com clareza e que o efeito do remédio irá diminuir com o tempo. Uma vez que você siga esse caminho, é uma corrida contra o relógio para resolver o real problema antes que o remédio deixe de fazer efeito e você comece a precisar de doses cada vez maiores ou de medicamentos ainda mais fortes, o que nunca é bom!
Fonte: Excellence Studio-Tradução: Lumos Traduções
Autora do Texto: Heidi Grant Halvorson, PhD. Psicóloga



Nenhum comentário:

Postar um comentário