Atribui-se erroneamente às forças
Armadas a iniciativa de romper com a Constituição de 46 e afastar o presidente
João Goulart. Quem o afastou do cargo foi o Congresso Nacional, quando o
presidente ainda se encontrava em território nacional. E nisso foi apoiado pelo
Supremo Tribunal Federal, governadores, igreja, imprensa, lideranças
empresariais, e por expressivas figuras, entre as quais o doutro Ulisses
Guimarães, que depois viria a pontificar como grande líder da oposição e
artífice da Constituição
redemocratização de 88.
Todos se confraternizaram quando
o Congresso deu posse ao presidente da Câmara, Ranieri Mazzili, no lugar de
Goulart. Importante entender que antes dos quartéis se mobilizarem havia a
inquietação dos empresários preocupados com os rumos da economia, a Marcha com
Deus Pela Família, capitaneada pela Igreja Católica, por governadores e classes econômicas. Os principais veículos de
comunicação do país faziam coro pelo afastamento, além de uma série de outras
iniciativas, temperadas pela Guerra Fria.
Os Estados Unidos apoiavam as correntes que queriam depor o governante e
já deslocava tropas para o Atlântico Sul. No meio militar a grande queixa era o
presidente ter apoiado praças e marinheiros em quebra da hierarquia.
Depois de declarada a vacância da
Presidência da República, e na iminência
de ocorrer uma guerra civil,já que considerável parte das Forças Armadas
apoiavam o presidente deposto, os militares assumiram para evitar piores
conseqüências à quebra constitucional já praticada pelo Congresso
Nacional. O quadro daquele 31 de março era caótico. Depois de tanta
radicalização restavam duas opções de ditadura.
A de direita, e a de esquerda,
que os adversários de Goulart diziam ser seu propósito implantar. Na
perspectiva dessas cinco décadas passadas, é impossível não cotejar como
deveria estar o Brasil de hoje se, em vez da direita que assumiu e todos
sabemos no que deu, tivesse assumido a
esquerda. Teria optado por qual dos
modelos vigentes: russo, chinês ou cubano? Cuba, por ser um país latino, talvez
seja o melhor espelho. Será que o Brasil de hoje também estaria “exportando”
médicos e ficando com os salários por eles recebidos no exterior? Será que
teria médico? Será que teria se desenvolvido tecnologicamente? Será que hoje
teria uma democracia, eleições livres, e os brasileiros o direito de ir-e-vir e
de viajar ao exterior livremente?
Por uma questão de preservação
histórica, devemos lembrar que, antes da inquietação nos quartéis, as forças
civis da sociedade se movimentavam pelo golpe (ou revolução ou
contra-revolução). O que veio a acontecer depois de consumada à quebra
institucional é pura conseqüência. Mas, ainda assim resta-nos a dúvida: como
teria sido se a esquerda tivesse assumido o poder?...
Fonte: Tenente Dirceu Cardoso
Gonçalves – Dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais
Militares de São Paulo) – Jornal Diário da Amazônia
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