domingo, 29 de junho de 2014

Embuá, Avestruz e Caracol

Critiquei o caracol nas vezes em que se escondia dentro da casa. Critiquei o embuá nas vezes em que se enrolava em si mesmo. Critiquei o avestruz nas vezes em que se enterrava em seu mundo - deixando que todos viessem aquela posição de temor.

Considerava falta de coragem correr para dentro e fechar os ferrolhos. Enxergava que enrolar e se enterrar eram atitudes desonradas. O caracol deveria enfrentar os obstáculos. O embuá deveria seguir destemido. E o avestruz - que vergonha!

Hoje somo as vezes em que fiz o mesmo. Humanos também correm e fecham os ferrolhos. Tentam deixar a ameaça do lado de fora. Se aninham em si mesmos. Buscam a perdida posição uterina de segurança. E sentem medo, muito medo, enorme medo e agigantado pelas desilusões, incertezas, maturidade e dores.

O caracol vive uns cinco anos. O embuá atinge o dobro. E o avestruz pode somar sete décadas de vida. A diferença é que todas as vezes em que eles se protegem, não se preocupam com o que os outros dirão. Enquanto os humanos - ah! Pesamos mais na reação dos outros do que em nossas próprias sobrevivência! E mesmo com cinco décadas de vida ainda receio o que os outros dirão quando eu falto e falho.

Mas, acredito que melhorei. Hoje sou capaz de dizer que tenho medo. Que quando adoeço prefiro estar em casa. O que vez por outra não tenho vontade de fazer nada. Que amo estar na rede, lendo um livro e ouvindo a centenária Clair de Lune. Que tremo incontrolavelmente nas nas noites de extrema tensão. Que sair de casa já não me entusiasma. Que não mais acredito em nenhum político nem desejo votar.  Que até mesmo ir à Igreja tem sido desafiador... Quanta imperfeição, a minha!

Os bichinhos que citei são bons professores. Alertam o perigo para os humanos que exigem tanta perfeição e coragem de si mesmos. Imagino-os querendo dizer a mim e a você o quanto somos frágeis e ao mesmo tempo privilegiados por sermos à imagem e semelhança de Deus. E que devemos viver honestamente cada momento da vida, até mesmo quando nos parecemos com um avestruz, embuá ou caracol - na firme esperança do depois.

Fonte: Moisés Selva Santiago  / Jornal Alto Madeira

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Chaddad.
Obrigado por divulgar meu artigo. Senti-me honrado.
Abraços,
Moisés Selva Santiago

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