domingo, 24 de março de 2013

A afinidade com a moto definiu minhas amizades e paixões


Por que andamos de moto? Quem é motociclista sabe que há centenas de motivos, todos facilmente defensáveis, mas desta vez quero deixar de lado os fatores externos e fazer uma viagem interior. A moto não leva muita gente, só você e um (a) eventual garupa. Sob este aspecto, seria um veículo individualista, que deixa o motociclista voltado para si mesmo.
Sabemos que não é assim, e ao contrário da “turma da gaiola de aço”, mesmo sozinho na estrada o motociclista não se sente isolado, porque faz parte do cenário e está integrado à paisagem. Um anúncio do passado até dizia que determinada moto já vinha com “teto solar”. Bem, isso vale para todas, assim como o vento, a chuva e as inclinações nas mudanças de direção, que ao contrário dos carros, incidem para dentro da curva, um mergulho preciso, harmônico e veloz.
Nos encontros com outros motociclistas, de maneira organizada ou não, a vida é mais feliz, com direito a cumprimentos, buzinadas e piscadas de farol. E os encantos da vida de motociclista não se esgotam quando se vira a chave e desliga o motor. A camaradagem, as conversas sobre aventuras, novidades e ocorrências continuam em pauta nos momentos pedestres. Você enxerga alguém de capacete na mão, o vê com simpatia, como alguém do seu time, da sua família. 
Desde que fui “popotizado” pelas motos, com cerca de quatro anos de idade, não sosseguei até conseguir uma só para mim. Naquela época, eu era tímido. Tinha alguns amigos, mas meu relacionamento com eles era distante. Com o sexo oposto então, a coisa ia de mal a pior. Eu era um romântico incorrigível, daqueles que se apaixona facilmente e fica vermelho com um simples “bom dia”. As motos acenderam minha luz. Assunto inesgotável no colégio, na rua, em casa. Em pouco tempo me tornei especialista (teórico) no tema, o motociclismo era a minha religião, a moto para mim era como a guitarra do Jimi Hendrix, a sanfona do Luiz Gonzaga.
A afinidade com as duas-rodas-e-um-motor definiu minhas amizades, distúrbios e paixões. A ampla maioria dos meus amigos é usuário ou simpatizante das motocicletas. Através delas, conheci pessoas e lugares de todos os tipos e padrões. Às vezes, encontro gente que não via há décadas, como no Salão Bike Show 2013, onde ministrei uma palestra que conta a história da motocicleta. Capitaneados pelo esfuziante motojornalista João Mendes, um grupo de pilotos veteranos homenageou Delmar Muniz, o popular “Contrapino”, astro da motovelocidade nacional com 11 títulos cariocas e 2 brasileiros nos anos 60.
Delmar Muniz, o Contrapino, astro das corridas brasileiras nos anos 60
“Pino”, o mago dos motores, hoje com 75 anos, segue esbanjando saúde e lembrou a “poção mágica” que criou para minha Honda CR 250 na temporada 1980, quando o álcool foi combustível obrigatório em todos os esportes a motor no Brasil. Como diz o ditado, você não pode comprar felicidade, mas pode comprar uma moto e ser feliz...
Fonte: Fausto Macieira é repórter do canal SporTV e colunista de Duas Rodas – Blog: www. mundomoto.esp.br

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