Cirurgias na região podem causar perda da
sensibilidade e prejudicar vida sexual
Não é incomum ouvirmos relatos de pacientes
que sentem dificuldades com o próprio corpo, achando inúmeros defeitos que só
elas observam. Existe na nossa sociedade um controle da beleza de forma
ditatorial e qualquer coisa fora deste padrão deixa de ser bonito ou normal.
Quando o assunto é a região genital feminina, a situação
fica ainda mais complexa. Isso porque não existe um padrão de cor, tamanho e
proporção dos grandes e pequenos lábios. É importante salientar que, na grande
maioria dos casos, essas características não apresentam relação direta com o
prazer, higiene ou dificuldades durante a relação sexual.
As exigências cada vez maiores do mundo moderno têm feito
com que a mulher observe também essa região e estabeleça um novo padrão de
beleza. Além dos cabelos, rosto, seios, formas, dentes, unhas e cílios, chegou
a hora e a vez da vulva, que é a designação da área na entrada da vagina.
Alguns fatores levaram à maior observação e exposição desta
área,
como:
·
A depilação radical que, hoje em
dia, deixa mais regiões expostas. Os pelos formam uma camada de ar criando
proteção local. Aparar e tirar excessos, mantendo uma faixa em volta dos
grandes lábios seria o ideal. O raspar com lâminas ou cera quente levam ao
aparecimento de inúmeras micro lesões de pele, além de traumas pelo atrito das
roupas, que podem favorecer o aparecimento de infecções secundárias. A
depilação a laser diminui esses problemas e pode ser definitiva, dependendo da
pele e cor dos pelos
· O crescimento, permissividade,
divulgação e consumo da indústria pornográfica (sem entrar no mérito de ser
contra ou a favor), com censores que selecionam modelos brancas, esculturais,
mostrando as regiões genitais róseas, simétricas, sem pelos, beirando o
infantil e ingênuo
· Toda uma indústria de sabonetes,
perfumes, lencinhos, absorventes e cremes focadas neste segmento que, de uma
maneira subliminar, mostram que uma genitália feminina pode ser feia, suja, com
uma umidade "não normal" e com odor pouco agradável que "deve
ser tratado". Com isso, pode-se estimular um excesso de higiene e fazer
com que a mulher perca a proteção natural da pele, contribuindo para o
aparecimento de infecções ou alergias
· As roupas e biquínis arrojados devem
ser mais colados para que a silhueta, inclusive com calças jeans, mostre a
proeminência dos grandes lábios
· Não é incomum o uso de editores de
imagem para ajustar vulvas em que os pequenos lábios não sejam róseos,
simétricos, que não ultrapassem os grandes lábios ou que o clitóris fique muito
aparente.
Com isso, vemos um sem número de mulheres inconformadas com a
cor, tamanho, ou simetria da vulva, criando uma falsa necessidade de tratamento
e insatisfação com o próprio corpo.
Quando a anatomia da vulva
realmente é um problema?
Durante a formação embrionária da região genital, podem
acontecer mal formações e anormalidades do desenvolvimento da vulva, vagina,
útero, vias urinárias e intestino. Estas, mais graves, podem levar a mulher a
riscos, e por isso devem ser avaliadas, discutidas e tratadas com profissionais
competentes. Essas, entretanto, são a minoria entre as pacientes, cujas queixas
mais frequentes têm fundo estético.
Apesar das cirurgias
terem quadruplicado em alguns países nos últimos oito anos, não observamos um
aumento da felicidade e qualidade da vida sexual das mulheres nesta mesma proporção
A maior queixa que observamos são as hipertrofias e
assimetrias dos pequenos lábios. Devemos lembrar que eles, principalmente a
parte superior que recobre o clitóris, apresentam maior sensibilidade e
contribuem para o prazer durante a relação. Muitas cirurgias estéticas são
apenas amputações grosseiras e podem diminuir a sensibilidade local. Algumas
técnicas podem ser mais eficazes, reduzindo a possibilidade de perda desta
sensibilidade. Portanto, antes de se submeter a qualquer procedimento de labioplastia
(cirurgia que reduz os grandes e pequenos lábios ou muda a sua forma)
informe-se bem sobre as opções.
A segunda queixa igualmente frequente é a respeito da
coloração da região. Em nossa cultura, o loiro é belo. Como nossa população é
na maioria morena, o acúmulo de melanina nesta região faz parte da nossa
genética. A fricção de roupas ou da própria pele, depilações, infecções,
diabetes, gestações e a idade podem piorar este quadro. Estas manchas podem ser
atenuadas com laser, cremes e outros produtos indicados por especialistas.
A terceira queixa é a diminuição da gordura dos grandes
lábios com o envelhecimento. Esta mudança pode ser atenuada pelo preenchimento
da área com gordura de outra parte do corpo.
O tamanho do clitóris também aparece na lista e a causa
deve ser investigada, pois pode estar relacionada a problema hormonal, uso de
hormônios ou anabolizantes. Existem cirurgias que podem diminuir sem a perda da
sensibilidade local.
Em resumo, é nesta região onde se concretiza a relação sexual.
Muitos problemas com o corpo, com a sexualidade e seu desenvolvimento, abusos
na infância e outras questões se escondem por trás de uma queixa puramente
estética, de higiene ou de conforto. E isso independe do nível socioeconômico e
cultural.
A mulher deve discutir o caso com uma equipe
multiprofissional que inclua um ginecologista, psicólogo ou sexólogo antes de
pensar em cirurgias agressivas. Como o procedimento normalmente é irreversível,
pode haver ainda mais frustração por não ter sido resolvido o problema
psicológico de base. Vale lembrar que hipertrofias citadas não causam danos ou
riscos para a mulher.
Apesar das cirurgias de preenchimentos e das labioplastias, cuja
prática quadruplicou em alguns países nos últimos oito anos, não observamos um
aumento significativo da felicidade e qualidade da vida sexual das mulheres
nesta mesma proporção, muito pelo contrário.
Como diz Jessica Marie, dona da loja virtual Vulva Love Lovely,
que confecciona produtos alusivos à genitália feminina: "As vulvas da indústria
pornô são como os dragões: não existem no mundo real".
Antes de achar que
você tem um problema, busque a avaliação de um profissional imparcial e tente
identificar o que pode estar escondido por trás desta queixa. Leia mais nos
sites abaixo. Recomendamos também uma olhada no painel de vulvas do artista plástico Jamie McCartney, que
mostrou o quanto esta região pode ser diversificada, sem deixar de ser bonita!
Fonte: Fábio Laginha –
Ginecologia e Mastologia / minhavida.com. br
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