É assim a inquietação: ou você nasce com ela ou não. E, se nasceu, vai passar a vida inteira com uma pressão no peito e outra na alma, querendo entender a vida e não entendendo direito, trocando sempre de casa, de objetivo, de marido e de analista, sem nunca chegar a uma conclusão.
Um inquieto não tem sossego. Se é pobre, gostaria de ser rico; se é rico, acha que o dinheiro atrapalha e que talvez fosse mais feliz se morasse numa pequena cabana. Se é inverno, ele se lembra com saudade do verão, mas, s está debaixo do mais lindo sol, pensa como seria bom se estivesse em Gramado, no inverno, de botas, tomando um chocolate bem quente. Não é que ele queira sempre o que não tem; apenas não consegue viver o momento presente e nunca tem paz. Ou está lembrando do passado ou pensando em como vai ser bom quando o futuro chegar. É duro fazer parte da tribo dos inquietos.
Com eles, não há risco algum de monotonia. Acordam te sufocando com beijos e abraços ou na mais fria das indiferenças. E o pior: sem saber o porquê. No mio do dia, eles podem telefonar agindo como a mais dócil das criaturas e sem conseguir explicar por que foram tão insuportáveis horas antes. Nem explicar, nem entende. É duro fazer parte da vida dos inquietos.
Mesmo quando está tudo bem - com o amor perfeito e o trabalho legal -, alguma coisa atrapalha: é a tranquilidade. Como é possível alguém viver em total paz e harmonia com as pessoas e com o mun do? Não é nada simples responder a essa pergunta. É difícil a vida dos inquietos, e ninguém imagina quanto sofrem essas pessoas tão vitais - porque vitalidade é o que não lhes falta. Elas sofrem, mas que ninguém confunda esse sofrimento com infelicidade. Não tem nada a ver. Para esse grupo, nunca há paz. Existem, é claro, ocasiões de intensa e fugaz felicidade, mas paz mesmo, nunca. Na verdade, o grande momento dos inquietos é quando eles começam a planejar uma mudança de vida, seja quebrar uma parede, seja mudar de profissão ou de país.
Eles estão em eterna tensão, para o bem ou para o mal. Não podem é ficar parados. Os inquietos não se conformam com nada que se pareça com a estabilidade e, por isso, os caminhos que escolhem, não importa qual seja o objetivo, são sempre os mais difíceis. Os inquietos simplesmente não sabem viver sem uma complicação, e a luta para eles é melhor que a vitória. Eles não compram, jamais, uma casa de campo pronta; preferem um terreno. Então, levam dois anos para construí-la e mais dois fazendo o jardim, decorando etc. No dia em que ela fica pronta, as flores crescidas, essas pessoas sentem um grande vaio - que só se resolve quando encontram um comprador. E E assim passam a maior parte da vida, com algumas pausas para refletir por que são desse jeito e como poderiam se aquetar para ser mais felizes - para, quem sabe, encontrar uma certa paz. Só que não conseguem.
Mas um dia, talvez, os inquietos compreendam que todas aquelas pausas para refletir foram tempo perdido - e que teria sido bem mais simples se apenas tivessem reconhecido, alguns anos atrás, que não há nada a fazer, pois é impossível mudar. E é melhor mesmo que não saibam nunca disso: se soubessem, terão, de certa maneira, encontrado a tal paz - o que para eles pode ser fatal.
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