É nas rodovias que o Brasil mostra ser um país de extremos: a terra do pedágio mais caro do mundo tem algumas das piores estradas
O Brasil tem as maiores tarifas de pedágio do mundo. Aqui se paga, em média, R$9.04 a cada 100 quilômetros percorridos. Já o valor médio internacional fica em R$ 8,80 pelo mesmo trecho, mas isso não quer dizer que as melhores estradas do mundo estejam aqui. Muito pelo contrário: nada menos do que 88% das rodovias brasileiras têm predominância de pistas simples, 46% têm pavimento péssimo, rum e regular e 66% têm problemas na sinalização, também considerada péssima, ruim e regular.
Os dados são de dois estudos recentes sobre estradas brasileiras. O primeiro, "Rodovias Brasileiras: Investimentos, Concessões e Tarifas de Pedágio", feito pela Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), aponta também os pedágios mais caros do país: São Paulo e Rio de Janeiro. Os paulistas pagam, em média, R$ 12,76 e os cariocas, R$ 12,93 a cada 100 quilômetros. Além disso, os reajustes tarifários sobem além do IPCA (Índice de Preço ao Consumidor). Esse é o caso da BR - 116?RJ, onde as tarifas já acumularam alta de 168% desde 1986, quando foi privatizada.
O segundo estudo é o da CNT (Confederação Nacional do Transportes), que analisou 95.707 quilômetros de estradas brasileiras para concluir que é necessário um investimento de R$ 177,5 bilhões para tornar o país competitivo neste setor.
O documento do Opea, por sua vez, revela que em 2011 os investimentos público e privado nas rodoviais brasileiras somados aproximadamente R$ 14,5 bilhões. Isso mostra que apenas 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto) foi gasto no setor. "Os países emergentes que concorrem com o Brasil investem 2,7% do PIB deles em transportes, que inclui rodovias, portos, ferrovias e aeroportos", disse o coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos.
"Nós investimos menos de 0,7%. Em rodovias, 0,4%. Teríamos de quadruplicar o volume de investimento para conseguir acompanhar o que os outros países estão fazendo"
Mesmo assim, afirma Campos, os pedágios são altos e têm uma diferença no país. "Na experiência internacional a empresa que ganha a concessão do governo tem de construir uma rodovia nova. Aqui não. Basta a recuperação e a manutenção".
Modelo federal de concessão não garante investimento e manutenção
Os estudos do Ipea e da CNT sobre rodovias brasileiras trazem à tona a discussão sobre os modelos de concessão de estradas utilizados pelos governo federal garante menores tarifas pelos usuários, mas não atinge o montante suficiente para investimentos necessários no longo prazo", diz o professor. Cássio Eduardo Lima de Paiva, da Unicamp.
Já o modelo adotado em São Paulo e no Rio de janeiro, em que a concorrência leva em contra o maior pagamento de outorga (espécie de aluguel pago pelo uso das rodovias), faz com esses dois estados tenham as melhores estradas e as maiores tarifas de pedágio. "O pedágio de São Paulo onera o usuário que optar em trafegar pelas melhores estradas. Já nas estradas federais, o pedágio é mais barato, mas não há qualquer manutenção. Basta olhar o estado em que está a Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte", aponta. O caso da BR - 153, que atravessa Rio Preto, se encaixa no mesmo modelo de privatização.
As mais caras do mundo
Tarifas médias para cada 100 km:
Média Brasil >> R$ 9.04 - São Paulo >> R$ 12,75 - Rio de Janeiro >> R$ 12,93
As piores do mundo - 88% >> das rodovias brasileiras têm predominância de pistas simples - 46% >> têm pavimento péssimo ruim e regular - 66% >> têm problemas na sinalização (péssimo, ruim e regular)
As 10 melhores estradas estão em São Paulo
O estudo da CNT (Confederação Nacional do Transporte) sobre rodovias brasileiras aponta que as dez melhores estradas do país estão no estado de São Paulo e são concedidas à iniciativa privada. Já as dez piores estão em estados como Rondônia, Acre, Amazonas e Pará, são federais e não estão concedidas.
Na análise do professor Cássio Eduardo Lima de Paiva, especialista em transportes da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), essa situação demonstra a ineficiência administrativa do governo e faz do modelo de concessões o melhor caminho para garantir a qualidade rodoviária brasileira. "As ações do governo são suficientes para cuidar de uma malha viária deste tamanho. Fica muito difícil manter todos os trechos em boas condições ao mesmo tempo", diz.
O estudo da CNT conclui que o aumento no custo de transporte em decorrência da má conservação das rodovias diminui a competitividade dos produtos nacionais. De acordo com o coordenador de infraestrutura econômica do Ipea, Carlos Campos, a falta de investimentos faz com que os produtos cheguem mais caros no bolso dos consumidores. "Em torno de 60% do transporte de carga do Brasil é feito por rodovias. Na medida em que nossas estradas estão em más condições, isso implica no aumento do frete e do produto".
O Brasil tem 174 mil quilômetros de rodovias pavimentadas, das quais 9% (15 mil quilômetros) estão sob a administração da iniciativa privada, percentual bem superior à média mundial. Segundo o Banco Mundial, as rodovias concedidas representam menos de 5% da malha total dos países.
Estado (SP) testa novo sistema mais 'justo'
Chamado de Ponto a Ponto, o sistema permite que o motorista só pague pelo trecho que realmente andar na rodovia. Atualmente, ele é usado na Rodovia Engenheiro Constãncio Cintra (SP-360) e na Santos Dumont (SPO-75). 70% é o percentual de economia para o motorista que sai de Indaiatuba e vai a Campinas.
As 10 piores estão em estados do Norte, Sul, Centro -Oeste e Nordeste e são federais
Fonte: Fernando Granato - Agência Bom Dia
Nenhum comentário:
Postar um comentário