O Prof. Hélio Rodrigues da Rocha, servidor público municipal/SEMED, concluiu o seu Curso de Doutorado, sendo que o projeto de esquisa desenvolvido versou sobre um estudo das representações da Amazônia brasileira e a elaboração da tradução para o português do Brasil do Livro The Sea and Jungle, do jornalista britânico Henry Major Tomlinson (1873-1958). Essa obra é o resultado de uma viagem de návio a vapor S.S. Englannd à Amazônia no ano de 1909 carregando materiais e suprimentos para a Estrada de Ferro madeira-Mamoré que, na época, estava sob o comando de Percival Farquar. O navio foi o primeiro transatlântico a subir o rio Madeira.
Afirma o Prof. Hélio, que foi uma das contribuições da pesquisa é a tradução que, acompanha de algumas notas de rodapé, possibilitam a leitrua por todos os brasileiros que gostam desse gênero narrativo, como também os que atuam na área da história e historiografia literárias, filosofia, estética, política, economia. etc.
Abaixo o texto escrito pelo ex-orientador do Prof. Hélio:
TEORIA E HISTÓRIA LITERÁRIA DA UNICAMPAcredito que o trabalho do Helio Rodrigues da Rocha seja bem interessante: ele "descobriu" este relato do Henry Major Tomlinson, um jornalista inglês polêmico que em 1909 - época da borracha - vem ao Brasil e à Amazônia na época da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. O seu livro, "O mar e a selva", é um retrato muito impressionante das condições de vida nesta epopeia já bem representada por filmes e livros. A obra conheceu certa fama na época, e está sempre sendo reeditada no exterior. No próprio Brasil nunca o foi, e esta é a oportunidade. No decorrer do relato aparecem muitas reflexões sobre o contraste entre o primitivo e a civilização, entre a Inglaterra eduardiana e o Brasil selvagem e maravilhoso. Sendo publicado, este livro certamente chamará a atenção por ser uma visão de 100 anos atrás e que já adiantava tantas questões sobre a Amazônia - que não é só natureza, mas também uma forma própria de organização humana.
RESUMO
Estudar as representações da Amazônia brasileira e elaborar a tradução de The Sea and Jungle, de Henry Major Tomlinson, são os objetivos centrais desta tese. O autor deste relato de viagem é um jornalista britânico que, no final de dezembro de 1909, dispensado de seus ofícios no Morning Leader, embarcou no navio S. S. England, em Swansea, País de Gales e, depois de cruzar o oceano Atlântico, aportou em Belém do Pará, Brasil, e dali seguiu, via rios Pará, Amazonas e Madeira, para Porto Velho, atual capital do Estado de Rondônia, ponto inicial da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. O navio levava suprimentos e maquinaria para a referida ferrovia. É justamente ao longo de parte de seu traçado, na extensão entre Porto Velho e a cachoeira denominada Caldeirão do Inferno, que esse peregrino londrino empreende uma excursão tendo como guia o texano Marion Hill, com quem se encontrou ao chegar aquele porto, em plena selva.
O Mar e a Selva é um relato que estabelece fios tessitivos com Odisseia de Homero, e se compõe, portanto, tanto de histórias de marinheiros e de aventuras do herói, quanto de descrições do mundo real e de um mundo mítico e fictício que contribuem na constituição do sujeito. Em se tratando de um discurso de um viajante-peregrino adoto, então, certos paradigmas: a noção de discurso e “artes da existência” cunhadas por Michel Foucault; a primeira em A arqueologia do Saber e A ordem do discurso e, a segunda, em A história da sexualidade: o uso dos prazeres; adoto, também, alguns conceitos advindos dos Estudos Pós-Colonialistas, Utópicos, Crítica Literária, Filosofia e Estética.
O Mar e a Selva é um espelho que reflete e refrata uma determinada realidade social de dois mundos, o do viajante e o do viajado, ou seja, do nativo e, a partir dessa “dança de espelhos”, investigo em que medida o narrador critica sua sociedade pelos olhares que lança a outras comunidades amazônicas. Além disso, verifico como ele reconstrói a si mesmo a partir da convocação de antigos viajantes (Hakluyt, Humbolt, Wallace, Bates), de correntes filosóficas (Pirronismo e Gymnosofismo), de escritores como Thoreau, Emerson, Drake, Spruce, Pikes, Raleigh, Burney, Defoe; de personagens bíblicos (Moisés, Jonas, Josué), de lendas e mitos gregos e romanos, etc. ao palco de sua composição literária e, conjuntamente, do “si mesmo”. O eixo argumentativo desta tese é que este relato apresenta-se, em primeiro lugar, como uma crítica político-moral à Inglaterra e ao Brasil e serve como um exercício de elevação dos pensamentos rumo ao Sublime, “a alma do corpo retórico”, diz Weiskel via Longino. Em segundo, as representações da Amazônia a configuram ora como os Campos Elísios, ora como o Tártaro. Assim, alto e baixo, vastidão e infinitude, luzes e trevas, vilania e nobreza, paraíso e inferno, feiúra e beleza, ordem e desordem, vida e morte se entrelaçam no percurso do viajante ideal, porque capaz de compor um relato que é a “arte da existência” de um eu distendido.
Fonte: Todo material foi fornecido pelo Prof. Hélio Rodrigues da Rocha, sendo postado na íntegra.
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