Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com base nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 1998 a 2010 apontou que poessias e letras de canções aparecem em 42% das questões de literatura. Romances estão psresentes em cerca de 12% das perguntas, e contos em apenas 3%. Enquanto isso, histórias em quadrinhos ocupam 19% do teste. Para o professor de literatura brasileira da universidade, Luis Augusto Fischer, os resultados são "assustadores e podem prejudicar o ensino nas escolas".
O pesquisador afirma que a prova foca na vertente da linguagem, e não da cultura. "O Enem prestigia mais a literatura enquanto leitura do que a literatura enquanto aprendizagem cultural", afirma. Fischer explica que a primeira vertente - o que é a mais utilizada no teste - é mais simples, pois implica somente na leitura direta de um texto, seja ele letra de música, quadrinhos ou um conto. Um exemplo de questão é pedir para o candidato analisar um romance e afirmar se o discurso utilizado é direto ou indireto, por exemplo.
De acordo com Fischer, pensar a literatura como cultura exige mais complexidade, uma vez que um texto será analisado pelo conhecimento de sua história, enredo e características do autor. "As duas são imprescindíveis, mas a prova foca somente em uma. Com esse privilégio à leitura, se perde muita coisa do vasto patrimônio cultural letrado que já existe e ao qual todos devem ter acesso na escola", defende. O estudo mostra que há, por ano, uma média de 13% de questões que mencionam texto literários e semileterários. Além sisso, a frequência de autores foi considerada baixa ao se avaliar todos os testes de 1998 a 2010 (inclusive a prova de 2009 que vazou). Carlos Drumond de Andrade apareceu 19 vezes; em segundo lugar, vêm Machado de Assis e Manuel Bandeira, com sete citações. nenhum outro autor aparece mais de cinco vezes. Graciliano Ramos e João Cabral aparecem três vezes cada, menos do que Jim Davis, do Garfield e Bob Thaves, da tira Frank e Ernest, com quatro referências cada.
"Acredito no sistema do Enem de desperezar a decoreba de certos vestibulares, mas o caso é que a prova trata o texto literário como um texto qualquer. Um poema de Drummond, por exemplo, é colocado no mesmo nível de uma tira em quadrinhos", afirma o professor.
Na visão de Fischer, o fato pode prejudicar o ensino literário na escola, uma vez que o ensino médio se molda à demanda do processo seletivo de ingresso às universidades. "Na escola brasileira, a literatura tem sido porta de acesso não apenas a livros, mas também a outras artes. Sem isso, me parece que vamos perder esse acesso, além de perdemos parte importante, talvez fundamental, da formação cultrua dos alunos nesses campos", compleata
LER COM AUTONOMIA
Apesaar de concordar que o Enem precisa evoluir, o professor de literatura do cursinho Universitário, de Porto Alegre (RS), Edir Alonso defende o uso que a prova faz de textos mais populares. "O modelo de avaliação tradicional, com base na leitura dos clássicos, acaba por enfrentar uma dura ralidade: está distante da vida do jovem leitor médio", diz.
Fonte: Alto Madeira.
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