Duas paralelas vigorosas balizam
a decisão do ministério da Defesa para as três forças armadas investigarem
práticas de tortura e assassinatos em instalações militares no período
1964-1985: os generais, almirantes e brigadeiros de quatro estrelas, hoje, eram
cadetes quando eclodiu o movimento que depôs João Goulart, nenhuma
responsabilidade tendo com as práticas delituosas dos anos de chumbo. Ao mesmo
tempo, integram instituições marcadas pelo corporativismo, ou seja, jamais
adotarão iniciativas capazes de deixar mal Exército, Marinha e Aeronáutica.
A conclusão a tirar do exíguo
prazo para as investigações, de trinta dias, é de que os atuais
comandantes poderão reconhecer a existência de horrores verificados em
determinadas instalações militares, mas em momento algum Irã fulanizar seus
autores. Estarão cumprindo uma
determinação da presidência da República e do ministério da Defesa, por
sugestão da Comissão da Verdade, mas
evitarão o papel de julgar autores de delitos acontecidos décadas atrás. Até porque,
a maioria deles já morreu ou ultrapassou
os oitenta anos.
Não há hipótese de a presidente
Dilma inclinar-se pela tese de vez em quando levantada no Congresso, para a
revogação da Lei da Anistia, possibilitando a punição de torturadores. O
Supremo Tribunal Federal já se pronunciou a respeito, negando a hipótese. Pode
parecer profundamente injusto para com as vítimas e seus familiares, mas foi
esse o caminho afinal admitido como roteiro para a democratização do país.
Evitou-se o choque em condições de perpetuar uma divisão de graves
conseqüências. Em suma, há frustração
dos dois lados, mas as investigações anunciadas parecem a fórmula menos
pior para a construção do futuro.
Fonte: Carlos Chagas / Jornal
Diário da Amazônia
Nenhum comentário:
Postar um comentário