sábado, 24 de maio de 2014

A arte de construir significados

A língua escrita é repleta de formalidades e requer certa maturidade para se lidar bem com ela. Para escrever com coerência, substância, precisão e o mínimo de objetividade  e sentido textual é necessária, em primeiro lugar, a ativação do intelecto, dos neurônios e do estoque mental.

Afinal de contas, o cérebro é um músculo que precisa ser ativado regularmente; e escrever é um ato, um movimento, uma ação e como todo processo desse tipo requer exercício continuado. Adquirir o hábito, cultivar o prazer, pois, é com o tempo, a rotinas e a continuidade que  se vai  aprimorando certos talentos ou atividades que pareciam impossíveis ou inacessíveis, com o ato de escrever. É uma questão de cultivar, dedicar-se e começar a desenvolver a criatividade e exercitar o intelecto.

Existe uma relação e uma coesão intrínseca entre a escrita e a vida, que transita o caminho da criatividade e da intelectualidade, incansavelmente. Por esta razão, quando o desenvolvimento do processo intelectual não é saudável, isto contribui para a formação de indivíduos alienados, inertes ou uma espécie de fantoches nas mãos de quem detém o poder econômico, social, cultural e simbólico.

O ato de escrever depende ou se entrelaça com o processo de leitura de signos e de mundo. E essas leituras são iniciadas logo ao nascer, no mesmo instante de nossa apresentação ao mundo real. Assim, o indivíduo se alimenta de várias leituras poéticas, cientificas, reais e imaginárias por toda sua vida, até provocar a satisfação cerebral que vai estimular as estruturas cognitivas e auxiliar na produção intelectual. Antes dos sites e dos blogs não existiam tantos suportes onde as pessoas pudessem facilmente expressar suas ideias e anotar seu pensamento para estre não "evaporar" e para ser compartilhado com os outros, principalmente por meio da linguagem escrita. Evidentemente, os mais criativos se utilizavam de suportes os mais variados, sendo adequados ou não. Como exemplos, temos os muros das casas alheias ou do patrimônio público, os postres de iluminação, as portas dos banheiros públicos, os guardanapos das mesas dos bares ou as próprias mesas dos bares, as cadeiras escolares, calçadas, cadernos, seus  próprios corpos, em resumo por meio da linguagem não verbal.

Enfim, em qualquer lugar, nem que fosse à areia da praia, para o mar logo apagar, o importante sempre foi dizer o que estava preso na garganta, mas, hoje, as pessoas vão mais além. Elas querem dizer o que sentem, o que as incomoda; questionar o que não compreenderam; falar, porque precisam ser ouvidas para sentirem que alguém  as escuta; dizer simplesmente por dizer, mesmo quando não estão se sentido sós, porque é moda. E outros, cansados da mesmice, dos modismo, falam, gritam, escrevem, imaginam,, sonham  contam piadas, se expressam de alguma forma apenas para dizerem: - Me expresso logo estou vivo.

A lógica cartesiana mudou. Não pensamos porque existimos. Precisamos nos expressar de alguma forma, real, digital, on line ou virtual, porque é só saindo do casulo, da concha ou da bolha que nos isola do mundo, através da palavra, do som, da imagem, do pensar, da afetação, da inquietação (afetação e inquietação que provoco em  mim e nos outros) que vamos existir. Só assim ou outro poderá reconhecer em mim um semelhante.

Entretanto, escrever implica uma atividade cerebral e um exercício mental que exige esforço contínuo. Por esta razão, a tela em branco é fascinação. O computador chegou e agradou, especialmente os portáteis, em termos de suporte para escrita,venceu todos os outros desde os tempos das cavernas.

Nos dias de hoje, você se afasta de todos os livros, relaxa e espera que a digestão complete o seu processo ou então você vai lançando fragmentos, depois faz uma leitura e organiza os dados em arquivos e pastas, depois salva tudo. E não precisa mais do que uma mochila para guardar sua escrivaninha, sua  biblioteca, seus sentimentos, seu mapa mundi, seus desejos, seu dicionário bilíngue, suas emoções, sua agenda telefônica e tantos outros apetrechos em um só compartimento. Em, segundos, você dá uma volta ao mundo e fala com inúmeros amigos, salva, fecha e pronto. Pode imprimir ou guardar.

É um mundo tão fantástico e com tantas possibilidades que o ato de escrever não precisa mais de tantos artifícios como antes. Alguns autores ou professores costumavam dizer "Espreme, que sai". Todavia, isso, na atualidade, só é necessário quando não se tem um arcabouço teórico recheado, dinâmico, bem alimentado e com uma base consolidada pela leitura e ativação cotidiana da imaginação que dê fluência a esse processo. Como vemos, mais importante que a existência dos recursos, é o que se faz com eles.

Os diários on line não vieram favorecer apenas as adolescentes, nem os capitães de navio no desenvolvimento e na modernização do ato de escrever. Mas aos poetas, literatos, jornalistas, cientistas, políticos, jovens, adultos, crianças , idosos e a todos que queiram se aventurar no mundo da escrita, da memória, da criatividade e da socialidade.

Fonte: Edileusa Pena - jornalista, professora doutora da UFMT e poeta nas horas de folga / Jornal Cantinho do Poeta - Rondonópolis-MT


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