A pessoa sempre se sente insatisfeita e desejosa de algo a mais nesta vida. E parece que esse ‘algo a mais’ é difícil de alcançar, não obstante a sua total dedicação. A sua pobreza humana e terrena deixa o indivíduo ansioso e preocupado. Por isso, nos diz o salmo 15, das Sagradas Escrituras, “Protege-me, ó Deus, em ti me refugio!”. Essa oração de total confiança a Deus quer manifestar toda a fé desse autor do salmo.
“Guardai-me, ó Deus, porque é em vós que procuro refúgio. Digo a Deus: Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim. Quão admirável tornou Deus o meu afeto para com os santos que estão em sua terra. Numerosos são os sofrimentos que suportam aqueles que se entregam a estranhos deuses. Não hei de oferecer suas libações de sangue e meus lábios jamais pronunciarão o nome de seus ídolos. Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino. O cordel mediu para mim um lote aprazível, muito me agrada a minha herança. Bendigo o Senhor porque me deu conselho, porque mesmo de noite o coração me exorta. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso, meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro, porque vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos nem permitireis que vosso Santo conheça a corrupção. Vós me ensinareis o caminho da vida, há abundância de alegria junto de vós, e delícias eternas à vossa direita.”
Essa maravilhosa profissão de fé nos inspira na nossa vida. Vamos compreender melhor o salmo. Depois que o povo de Israel conquistou a terra prometida, fizeram a distribuição de posse e os sacerdotes da tribo de Levi não receberam nenhuma posse e tiveram direito somente cidade de residência. Por que isso? Segundo o parecer daquele tempo, os sacerdotes consagrados ao culto não podiam se comprometer nas estruturas sociais e políticas para se dedicar o tempo todo em se relacionar ao Templo de Deus como mediação da vida de todas as tribos do povo escolhido. Em poucas palavras, a terra deles era o mesmo Senhor e por isto existia o direito de usar o famoso dízimo das tribos para poder se auto sustentar. Como descreve o autor do salmo? Ele nos apresenta quatro imagens que representam a total dedicação do sacerdote a Deus:
a. O Senhor é pra ele ‘parte de herança’
b. O Senhor é pra ele o seu ‘cálice’, isto é, o seu hospede, o seu familiar que o acolhe.
c. O Senhor é pra ele um ‘lugar delicioso’, isto é, a terra mais linda e frutuosa, muito superior daquelas que as outras tribos receberam.
d. O Senhor é pra ele ‘herança maravilhosa’, isto é, o bem mais raro pra tutelar e transmitir.
Muito bem. Perante tudo isso, podemos entender que esse sacerdote, que escreveu esse salmo, tendo toda essa intimidade com Deus no Templo, não poderia se acabar com a morte: ‘vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos.’ A esperança desse que faz a oração é de ser preservado da morte e de ser encaminhado para “o caminho da vida” para “ver o rosto de Deus”, isto é, para viver a intimidade com o Senhor e ser tutelado e protegido contra o mal e o inimigo.
Um jovem amigo casou seis meses atrás. Feliz da vida. Inclusive, depois que conheceu a sua esposa, começou a participar ativamente da Igreja. Com ela, a sua vida mudou totalmente. Não é mais aquele do passado, mas uma nova pessoa, regenerada. Exatamente depois de seis meses de casado, ele e a esposa, estava saindo bem de manhã cedo da casa deles para ir à feira do Ver-o-peso, em Belém, comprar peixes e para depois revender. Viviam disso. De repente, duas pessoas abordaram o casal e mandaram parar o carro, mas ele achou por bem acelerar e aí, de repente, saem dois disparos contra o carro deles. Um atingiu a sua esposa que logo em seguida veio falecer. Ele ficou incólume. Imaginem o desespero do marido. Ele me contou dias depois que pareceu que o mundo todo tivesse caído em cima dele. Não entendia mais nada. Acrescentou: “Pensei até de fazer besteira, acabar com a minha vida”. Uma dor sem tamanho que esse jovem esposo sente e não para de jeito nenhum. Abraçando-me, eu lhe disse: “Com certeza, essa dor é indescritível, mas Deus é maior que tudo isso. Por isso, coragem, Deus não te abandona, está sofrendo contigo.” E ele me respondeu: “Padre, somente Deus é meu refúgio e eu confio plenamente Nele!” Umas lágrimas desceram no rosto dele e se ajoelhou no banco da capela rezando intensamente.
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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