sábado, 25 de junho de 2016

Senhor, socorra-nos!

A humanidade, por quanto se possa gloriar, festejar e se alegrar, sempre tem que se defrontar com suas limitações. Às vezes, levanta o seu grito de socorro. O salmo 21 nos ajuda nesse sentido: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? E permaneceis longe de minhas súplicas e de meus gemidos? Meu Deus, clamo de dia e não me respondeis; imploro de noite e não me atendeis. Entretanto, vós habitais em vosso santuário, vós que sois a glória de Israel. Nossos pais puseram sua confiança em vós, esperaram em vós e os livrastes. A vós clamaram e foram salvos; confiaram em vós e não foram confundidos. Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe. Todos os que me veem zombam de mim; dizem, meneando a cabeça: ‘Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama’. Sim, fostes vós que me tirastes das entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes repousar em seu seio. Eu vos fui entregue desde o meu nascer, desde o ventre de minha mãe vós sois o meu Deus. Não fiqueis longe de mim, pois estou atribulado; vinde para perto de mim, porque não há quem me ajude. Cercam-me touros numerosos, rodeiam-me touros de Basã; contra mim eles abrem suas fauces, como o leão que ruge e arrebata. Derramo-me como água, todos os meus ossos se desconjuntam; meu coração tornou-se como cera, e derrete-se nas minhas entranhas. Minha garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua: vós me reduzistes ao pó da morte. Sim, rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores. Traspassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus ossos. Eles me olham e me observam com alegria, repartem entre si as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica. Porém, vós, Senhor, não vos afasteis de mim; ó meu auxílio, bem depressa me ajudai. Livrai da espada a minha alma, e das garras dos cães a minha vida. Salvai-me a mim, mísero, das fauces do leão e dos chifres dos búfalos. Então, anunciarei vosso nome a meus irmãos, e vos louvarei no meio da assembleia. Vós que temeis o Senhor, louvai-o; vós todos, descendentes de Jacó, aclamai-o; temei-o, todos vós, estirpe de Israel, porque ele não rejeitou nem desprezou a miséria do infeliz, nem dele desviou a sua face, mas o ouviu, quando lhe suplicava. (...) Os pobres comerão e serão saciados; louvarão o Senhor aqueles que o procuram: Vivam para sempre os nossos corações. (...)”

Esse salmo nos apresenta as súplicas características do ser humano que resumem a sua peregrinação no solo terrestre. Aliás, essa súplica nos faz lembrar, também, as palavras de Jesus quando foi crucificado. Se lembra disso? Justamente naqueles momentos cruéis da cruz Ele gritou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”

Isto é, conforme a tradição hebraica, citando os versículos iniciais do salmo, a voz alta significa que Ele rezava todo o salmo, confiando e pondo toda a esperança em Deus. Assim sendo, o hino é composto de uma primeira colocação em que tem um potente grito de desespero. E de outro lado entra em cena um Deus poderoso, porém quase impassível, que está sentado no seu trono de rei e que parece de ‘pedra’ perante as lagrimas e a escuridão da história do ser humano. E o suplicante relembra que no passado tinha feito obras grandiosas em favor dos antepassados, mas parece que agora não queira mais agir em seu favor. Calou-se.

O fiel sofre mais ainda ao saber que os ímpios zombam dele dizendo ‘cadê o Deus dele? Cadê o Salvador dele?’. E assim o fiel se sente esmagado na sua dignidade. Por isso que aqui os inimigos são apresentados como animais terríveis e ferozes, isto é, como touros, cães, búfalos e leões. Ao fiel não lhe resta um grito desesperador ao seu Senhor Deus que não o abandone. E a partir daí, dessa lamentação, surge uma confiança total a Deus que o vai libertar. Portanto, um futuro todo ligado ao seu Deus.

Esse salmo é, sim, um grito de lamentação, mas também um hino de conforto e de grande esperança. Lembro-me de um fiel que me confiou um drama que lhe aconteceu uns anos atrás. Ele tinha um filho e apostou tudo nele. Conseguiu que estudasse com todos os sacrifícios, fazendo muita renúncia. Até passar necessidade. Porém, quis que se formasse em nível superior. O rapaz conseguiu com louvor a conquista do seu bacharelado. Mas o drama surge exatamente logo em seguida da sua diplomação. Foi morto! Morto sem saber o porquê! E no dia do enterro, perante o caixão, o pai exclamou: “Meu filho tudo apostei em ti, e agora o que me resta? A minha vida está perdida!” Padre, ele concluiu, “passaram anos martelando-me desse desespero e agora consegui me ligar mais ao meu Deus, porque foi ele que me deu a única consolação. Acreditar que nem tudo está perdido”. É verdade! Passamos por vales tenebrosas, mas nem tudo está perdido, quando se confia em Deus.

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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