Eu cresci com gana de fazer algo criativo, de me destacar. Eu também acreditava que a criatividade era algo mágico e genético. Logo que eu fiz oito anos, eu comecei a testar as artes, uma por uma, para ver se eu havia herdado algum talento. Eventualmente, me tornei jornalista. Por muitos anos, contei as histórias de outras pessoas. Eu era bem sucedido, mas raramente me sentia realmente criativo. A primeira luz que tive apareceu no meio dos anos 90. Enquanto escrevia um livro chamado What Really Matters – Searching for Wisdom in America (O que Realmente Importa – Buscando por Sabedoria na América), participei de um seminário de cinco dias sobre desenho, com Betty Edwards, autora do Drawing on the Right Side of the Brain (Desenhando do Lado Direito do Cérebro). Quando Betty deu uma olhada no autorretrato que desenhei no primeiro dia, ela sorriu. Meu desenvolvimento artístico, ela disse gentilmente, parecia ter sido paralisado quando eu tinha por volta de seis anos. Isso não era, ela se apressou em acrescentar, evidência de falta de habilidade, mas de falta de treino.
Desde cedo, somos ensinados na escola a desenvolver as capacidades racionais e linguísticas do lado esquerdo de nosso cérebro, que é direcionado à conquista de objetivos e impaciente por conclusões. O hemisfério esquerdo do cérebro dá nome aos objetos para reduzi-los e simplificá-los. Um nariz se parece com outro nariz, por exemplo. Então, quando nos pedem para desenharmos um, nós nos remetemos à memória que temos de “nariz”, o reproduzimos e seguimos em frente.
O hemisfério direito, por outro lado, é mais visual que verbal. Ele tem a capacidade de ver de maneira mais profunda e sutil que o esquerdo, imergindo-se no que realmente está lá, em toda a sua riqueza. Quando se aprende a usá-lo, Betty nos disse, desenhar o que você vê é, relativamente falando, uma brisa. Como era de se esperar, ao quinto e último dia do workshop, eu consegui desenhar um autorretrato que era, sem sombra de dúvidas, eu mesmo, e surpreendentemente realista. Após alguns meses de prática, eu conseguia me autodesenhar com um nível significativo de habilidade e até mesmo expressionismo. Eu tinha começado a efetivamente aprender uma linguagem não verbal completamente nova. Mas o que isso tem a ver com criatividade? No fim das contas, muito.
Nos últimos cem anos, pesquisadores chegaram a um número razoável de consensos com relação aos estágios previsíveis do pensamento criativo. Foi Betty Edwards a primeira pessoa a me mostrar que os estágios variam entre as predominâncias dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro.
1. Saturação. Uma vez que o problema ou desafio criativo seja definido, o próximo estágio da criatividade é uma atividade do hemisfério esquerdo que paradoxalmente requer que a pessoa se absorva naquilo que ela já conhece. Qualquer rompante de criatividade se encontra inevitavelmente nos ombros de tudo aquilo que veio antes dele. Para um professor, pode ser fazer um mestrado. Para mim, envolve ler bastante e com atenção, e depois separar, avaliar, organizar, selecionar e priorizar.
2. Encubação. O segundo estágio da criatividade começa quando começamos a nos distanciar do problema, tipicamente porque o hemisfério esquerdo de nosso cérebro parece não saber como resolvê-lo. A encubação consiste em refletir acerca das informações, muitas vezes inconscientemente. Exercícios intensos podem ser uma ótima maneira de migrar para o hemisfério direito do cérebro de modo a acessar novas ideias e soluções. Depois de escrever por 90 minutos, por exemplo, a melhor coisa que posso fazer para refrescar meu cérebro é dar uma corrida.
3. Iluminação. Os momentos “ahá!” – espontâneos, intuitivos, chegam sem ser convidados – caracterizam o terceiro estágio da criatividade. Onde você está quando costuma ter suas melhores ideias? Chuto que não é quando você está sentando em sua mesa, ou tentando conscientemente ser criativo. Pelo contrário, geralmente é quando você dá um tempo para o seu hemisfério esquerdo e está fazendo alguma outra coisa, seja fazendo exercícios, tomando banho, dirigindo, ou mesmo dormindo.
4. Verificação. No estágio final da criatividade, o hemisfério esquerdo recupera sua dominância. Esse estágio é sobre desafiar e testar o rompante criativo que você teve. Cientistas fazem isso em laboratório. Pintores o fazem na tela. Escritores o fazem transformando uma visão em palavras.
A chave principal para nutrir nossa criatividade intencionalmente é entender como ela funciona. Eu descobri que os estágios frequentemente se desenvolvem em sequências imprevisíveis e se envolvem uns com os outros. Mesmo assim, tê-los em mente me ajuda a saber onde estou em um processo criativo e como chegar onde eu preciso. Por fim, a maior criatividade que você pode atingir depende de fazer ondas frequentes – aprender a envolver todo o cérebro movendo-se intencional e flexivelmente entre os hemisférios direito e esquerdo, atividade e descanso, esforço e relaxamento. Essa também é uma boa receita de como se deve viver.
Fonte: Excellence Studio
Um comentário:
Muito boa a postagem!
De uma olhada em meu blog vidadegaroto-j.blogspot.com
Jonatan Souza
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