Especialistas / Alertam que fofoqueiros, via de regra, normalmente têm necessidade de chamar a atenção de outras pessoas
Há uma frase, atribuída ao renomado psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), que determina: "Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo". Embora sua autoria seja discutida (há quem sustente que a frase é da ensaísta canadense Lise Bourbeau), é certo que a declaração atinge em cheio quem tem mania de fofocar. É válido ressaltar que a fofoca revela muito a respeito de nosso caráter, nossa personalidade e até como anda a nossa vida. E o que isso mostra, acredite, não é nem um pouco bonito.
Para Blenda de Oliveira, psicóloga e psicanalista, a maioria das fofocas é tóxica e desrespeitosa porque simplesmente não há autorização de quem é envolvido para passar a informação adiante. "E mais: essa informação às vezes sequer corresponde à realidade. Sabe aquele ditado 'quem conta um conto, aumenta um ponto'? Pois é, o que se espalha, em diversos casos sofre alterações e chega aos ouvidos alheios de forma deturpada. E assim segue", comenta.
Os fofoqueiros, via de regra, sofrem de baixa autoestima e apresentam uma necessidade enorme de chamar a atenção dos demais. "Ao propagar os mexericos acabam tornando-se pessoas 'importantes', pois são eles que detêm aquela informação e que têm poder sobre ela", fala Joselene Alvim, psicóloga clínica especialista em neuropsicologia pelo setor de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo.
"São pessoas imaturas, agressivas emocionalmente, inseguras e carentes, que precisam usar a fofoca como meio de atrair e seduzir seu interlocutor", destaca a psicóloga e psicanalista Renata Bento, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. O fofoqueiro desvaloriza o outro e suas qualidades, subliminarmente está emitindo a mensagem que é melhor do que aquela pessoa deixando subentendido que jamais faria algo semelhante. Não se trata de um mecanismo consciente. Aliás, uma análise mais apurada indica que a intenção da mensagem não tem nada a ver com a realidade.
Segundo a psicanalista Gisele Gomes, professora de Teoria Psicanalítica Freudiana na RNA Clínica e Escola Freudiana na RNA Clínica e Escola de Psicanálise, em São Paulo (SP), quando falamos sobre alguém ou sobre uma característica sua que nos "incomoda", estamos falando sobre nós mesmos. "Isso acontece porque a fofoca tem, em sua essência, o mecanismo de defesa da projeção, que em psicanálise é uma forma do indivíduo defender-se dos próprios desejos imputando-os a outro sujeito", pontua Gomes.
ESPECIALISTAS OBSERVAM QUE A FOFOCA MANIFESTA DISTÚRBIOS DE ORDEM EMOCIONAL
A psicóloga clínica Sirlene Ferreira afirma que o costume de fofocar pode refletir problemas emocionais pontuados por ansiedade e ou estresse. "Nesses casos, a fofoca é uma demonstração de um mundo interno e doente. O fofoqueiro necessita muita vezes de ajuda para compreender o que é o mundo imaginário e o mundo real, principalmente se levarmos em consideração que a fofoca é, muitas vezes, formentada por fantasias", observa.
Quem tem o hábito de fofocar toma consciência de sua existência, como um exercício honesto de autoconhecimento. "A medida que uma pessoa fala mal da outras, ela isenta a si mesma de prestar atenção em alguns aspectos sues que necessitam ser melhorados. Refletir sobre tais aspectos, pois, de certa forma, causa sofrimento. Em vez de buscar melhorar, ela fala mal do outro. É uma saída que traz alívio momentâneo, pois a dificuldade da pessoa ainda permanece dentro dela. Por isso ela sempre criará fofocas como estratégia", declara Joselene Alvim, psicóloga clínica especialista em neuropsicologia.
Assim, a compreensão dessa atitude e desse mecanismo pode ajudar a pessoa a refletir melhor sobre si mesma. Em alguns casos, uma psicoterapia, pode ser producente para o reforço da autoestima. "Ocupar-se com a vida de outra pessoa parece ser coisa de quem não consegue ter uma existência plena. Um indivíduo que se aceita, que se sente bem na própria pele e, por consequência, tem boa autoestima e segurança vai se preocupar menos com a vida alheia", pondera a psicanalista Renata Bento.
ESTILO PERVERSO QUE PREJUDICA A SOCIEDADE
Quem faz fofoca basicamente atribui aos outros defeitos, sentimentos e desejos que recusa ou desconhece em si mesmo e que habitam seu inconsciente. "Permeada por julgamentos, a fofoca também traduz os valores e preconceitos que o fofoqueiro carrega dentro de si e é uma forma de reproduzi-los ou fortalecê-los em seu círculo de convivência", diz a psicanalista Gisele Gomes. Para ela, a fofoca também pode partir de uma estrutura psíquica perversa que prejudica a sociedade. "A fofoca pode ser considerada uma espécie de perversão social. O uso indiscriminado das redes sociais e as fake news estão aí para chancelar esta premissa", acentua. Até mesmo os laços sociais supostamente construídos ou reforçados em torno de futricas são frágeis. Afinal de contas, dá para confiar em que passa adiante uma fofoca? Será que quem hoje fala de um colega para você, não via falar de você para outros amanhã?
Fonte: Heloísa Noronha / UOL - Jornal Diário da Amazônia
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