quinta-feira, 16 de abril de 2020

DEUS NOS FALA

Evangelho de João 8,1-11

Esse evangelho revela mais uma cilada dos chefes da religião daquele tempo contra Jesus. De fato, ele estava incomodando demais com a sua pregação às autoridades religiosas. Por isso, queriam surpreendê-lo na transgressão da Lei e, assim, ser condenado e morto. Não o suportavam mais, porque os questionava constantemente na conduta religiosa. O pretexto da mulher adúltera era mais que condenar a mulher, mas, sim, condenar o Mestre Jesus. Ainda hoje existe esse tipo de lógica, usando pretextos religiosos para excluir pessoas do nosso convívio.

O evangelista inicia com o Mestre recolhido no Jardim das Oliveiras, onde estava costumado a passar a noite em oração. O que ensinava o Divino Mestre? Uma coisa é certa: o povo ia ao seu encontro para ouvi-lo. Fazia qualquer sacrifício para escutar o seu ensino. Então, o evangelista João narra que “chegaram os doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega cometendo adultério”.

Como se vê, prepararam uma cilada para acusar Jesus. Qual era acusação? Se Jesus tivesse concordado em aplicar a Lei, como realmente mandava, teriam dito: veja que aquela bondade que demonstra por aí não é tão bondosa, não, porque quis matar a pobre mulher. No entanto, se tivesse dito ‘não a matem’, eles teriam dito que Jesus não respeita nem a Lei. Portanto, manipulam a Lei, através de uma pobre mulher, para eliminar Jesus. Ele incomoda demais. Mas qual foi a resposta do Mestre, perante um desafio maligno como esse? Então, o evangelista diz: “Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo.” O que quer dizer isso? Quem explica é o profeta Jeremias: “Os que se afastam de Deus serão escritos na terra”.

Mas os seus interlocutores nervosos, insistem em questiona-lo. Perante essa insistência, Jesus se levantou e disse: “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a pedra”. E “inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão”. Assim, mostra que Jesus não quer discutir a Lei, mas a maneira de usa-la. Não podemos manipular a Lei de Deus para os nossos fins. Praticamente, o gesto e as palavras do Nazareno derrubam os adversários. Continua a Palavra: “Eles foram saindo um a um, começando pelos mais velhos”.

No final da história, quem foi realmente julgado pela Lei foram eles, que se consideravam os fiéis da Lei, e não a mulher. E Jesus ficou sozinho com a mulher e perguntou: “Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor.” Então Jesus disse: “Eu também não a condeno. Pode ir, e não peque mais.” Jesus revela a verdade, e à luz da sua palavra tira as máscaras daqueles que se achavam os verdadeiros fiéis da Lei como cheios de pecado, e não tão puros assim. No entanto, a mulher considerada culpada e que merecia ser morta é absolvida por Jesus, resgatando a sua dignidade.

É interessante em tudo isso ver como Deus é misericordioso e os homens não.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação/Belém-PA.



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