Nova proprietária dá indicações promissoras, mas o escândalo de fraude do antigo dono ainda não acabou
A fabricante indiana TVS comprará a inglesa Norton por US$ 20 milhões, cerca de R$ 104 milhões. O negócio assegura a sobrevivência da tradicional marca de esportivas, que teve o proprietário e CEO Stuart Garner afastado em fevereiro para intervenção de credores.
A Norton deve a bancos e fornecedoras, além de tributos ao governo e montantes dos fundos de pensão dos funcionários (mais aqui). Assim que foi constatada a insolvência da empresa (incapacidade de pagar os débitos), foi colocada à venda pelos auditores contratados pelo banco credor Metro.
Essa aquisição pela terceira maior fabricante da Índia manterá as instalações em Donington Park e a produção de modelos atuais como a café racer Commando e a esportiva V4. “A Norton é uma marca britânica icônica celebrada ao redor do mundo e nos oferece uma imensa oportunidade de expandir globalmente”, explica o diretor da TVS Sudarshan Venu.
O executivo garante que a Norton terá a identidade da marca preservada e um plano de negócios próprio, mas se beneficiará dos recursos da TVS para crescer globalmente nos próximos anos. Em 2019 foram entregues apenas 128 Norton, das quais 98 no mercado local do Reino Unido.
Já a TVS produz 3 milhões de motos de baixa cilindrada por ano e vende a maior parte no mercado interno indiano. É parceira da BMW na fabricação das G 310 R e GS, e comercializa a Apache RTR 200 no Brasil em parceria com a Dafra.
A compra da Norton somará modelos de média e alta cilindrada ao catálogo, incluindo duas futuras 650cc de 2 cilindros: a scrambler Atlas e a esportiva Superlight. Também ajudará a abrir portas no mercado ocidental para a TVS, e talvez no futuro vejamos modelos retrô Norton de baixa cilindrada como fazem Royal Enfield e Jawa – originalmente europeias e hoje nos grupos indianos Eicher e Mahindra. A Triumph também está seguindo pelo caminho da baixa cilindrada e para isso se associou à outra indiana, a Bajaj.
O comunicado da aquisição pela TVS menciona a compra de parte dos ativos da Norton, sem especificá-los. Está claro que instalações, propriedade intelectual (projetos das motos) e marca fazem parte do pacote, o que cobriria as principais dívidas com credores e tributos. Outros US$ 17 milhões foram desviados dos fundos de pensão dos funcionários, pelos quais há uma investigação em andamento que implica Garner.
História da Norton
Assim como outras grandes fabricantes inglesas a Norton surgiu na virada do século 19 para 20, na região industrial de Birmingham. James Lansdowne Norton começou em 1898 como fabricante de componentes e passou à produção das motocicletas usando motores de terceiros.
Já na primeira década do século 20 começou a construir a fama de sua marca vencendo corridas. Em 1907, a primeira edição do Tourist Trophy da Ilha de Man foi vencida com uma Norton utilizando motor fornecido pela Peugeot. O propulsor próprio já estava em desenvolvimento, mas só seria lançado no ano seguinte.
No TT de 1924 a Norton se notabilizou pela primeira vitória com velocidade média ao redor de 100 km/h. Também venceu a categoria sidecar com a Model 18 de 500cc. Nos anos 1930 as Norton venceriam sete vezes a categoria principal de 500cc.
Após a interrupção causada pela 2ª Guerra Mundial, o sucesso na categoria principal do TT continuou com total domínio da prova de 1947 a 1954, especialmente com a Norton Manx. Em 1949 foi adicionada à linha a bicilíndrica Dominator, uma resposta necessária diante da concorrência italiana (Gilera e MV Agusta) e britânica (AJS e Triumph) no primeiro ano de Campeonato Mundial de Motovelocidade. A Norton terminou na 5ª posição.
Isso foi antes da criação do chassi “featherbed”, instalado primeiramente na Manx e depois na mais leve Dominator. O novo chassi foi o paradigma da época em handling, se beneficiando de experimentos da Norton ao mover o posicionamento do motor na estrutura para chegar a um ajuste fino.
Consolidou-se a fama de que a Norton tinha o melhor chassi e assim surgiram inúmeros híbridos preparados com outros motores, que supostamente uniram o melhor de cada fabricante, caso das chamadas Triton, o motor Triumph aclamado pela potência em um chassi featherbed Norton.
Na década de 1950 a Norton estava em dificuldades financeiras e foi vendida para o grupo proprietário de AJS e Matchless. Retiraram-se das corridas em 1954 e um ano depois lançaram a Dominator de 600cc. A escalada de cilindrada e potência se acelerou na década seguinte com Manxman 650 e Atlas 750, cujo principal mercado era o americano.
Esse aumento de cilindrada acentuou um indesejável nível de vibração. Foi desenvolvimento um novo chassi com coxins de borracha sob o motor para atenuar o problema na nova Commando 750, de 1969. O cenário já era de declínio nas vendas causado pela concorrência japonesa, que inovava para tomar mercado das inglesas.
A Norton fechou as portas em 1976, numa época em que o governo britânico tentava salvar a indústria automotiva local por meio de subsídios e estatizando participações societárias. Fusões como a da Norton com Triumph e BSA (que já operavam juntas para economia de recursos) não bastaram para salvar a marca da falência.
Os direitos sobre o nome passaram por diversas mãos nos anos 1980 e 1990, resultando em projetos de novos modelos que não vingaram até a compra por Stuart Garner.
Fonte: Revista Duas Rodas
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