Ninguém melhor do que um ex-radical islâmico para explicar a explosão de raiva e violência de militantes muçulmanos pelo mundo, em reação a um film e amador e de baixa qualidade, produzido nos Estados Unidos e divulgado via internet, com uma mensagem considerada ofensiva ao profeta Maomé e à religião islâmica. Encontramos Usama Hasan, nascido no Reino Unido de família paquistanesa, participou quando jovem dos protestos contra o livro Os versos Satânicos, de Salmam Rushdie.
Até que, um dia, Hasan chegou à conclusão de que trilhava o caminho equivocado. Manteve sua fé religiosa no Islã, mas abandonou a militância voltada para a violência, e hoje trabalha como pesquisador sênior de uma organização, a Fundação Quilliam, em Londres, dedicada a campanhas contra o radicalismo islâmico e a favor de maior diálogo com outros seguimentos da sociedade. Tivemos uma conversa sobre os últimos acontecimentos. Quem são essas pessoas protestando com violência por todo o mundo contra o filme que seria ofensivo a Maomé? Não percebem que se trata de uma iniciativa de apenas algumas pessoas, sem endosso ou patrocínio do governo americano?
--São muçulmanos de diferentes orientações, mas grande parte segue o islamismo ou Ilsã político. Misturam-se com os chamados "salafistas", seguidores de uma interpretação conservadora e literal das leis religiosas islâmicas. Vivem em países autoritários, onde os governos controlam a mídia, e por isso não entendem que o poderoso governo americano não possa proibir um filme. Você foi um dessas pessoas? Foi um salafista? --Nasci e fui educado aqui em Londres, mas acabei envolvido com grupos radicais islâmicos quando era jovem e participei de protestos contra o livro de Rushdie. Como os militantes que vemos hoje nos protestos contra o filme, eu não entendia bem o conceito de liberdade de expressão, que em sociedades ocidentais impedem governos de proibir filmes ou livros, mesmo quando ofensivos a um ou outro grupo. Pior ainda quando considerados ofensivos à religião, certo?
--Muçulmanos devotos como eu aprendem boas maneiras e comportamento civilizado, respeito a outras pessoas e suas crenças ou suas figuras sagrada. Por isso, eu e outros manifestantes contra Rudhdie na época em que ele foi condenado a morte pelo Irã não entendíamos como nosso sagrado profeta Maomé pudesse ser alvo de insultos num livro. Aprendemos a amar o profeta mais do que a nossas próprias famílias, inclusive pai e mãe. O que muitos muçulmanos não aprendem direito é o conceito de liberdade de expressão, que inclusive nos dá a direito de também dizer o que quisermos para confrontar as ideias que nos ofendem.
Fonte: Silio Boccanera/Diário da Amazônia
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