“Bendito o homem que não segue os conselhos dos ímpios.” Assim começa o Salmo 1 da Sagrada Escritura. Como é verdadeira essa declaração da Palavra de Deus, porque todos estamos assistindo, no cenário social nacional e internacional, o quanto influenciam os conselhos que levam por caminhos tortuosos e perigosos. A humanidade sente de perto esse drama. Conselhos dos ímpios. Vamos ler atentamente estas sagradas palavras para entender melhor: “Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera. Os ímpios não são assim! Mas são como a palha que o vento leva. Por isso não suportarão o juízo nem permanecerão os pecadores na assembleia dos justos. Porque o Senhor vela pelo caminho dos justos, ao passo que o dos ímpios leva à perdição.”
A primeira palavra do salmo é ‘felicidade’ e a última ‘perdição’ e com isto sintetiza, de modo simbólico, a existência do ser humano. Uma existência marcada no conflito entre felicidade e perdição. O ser humano quer ser feliz, mas não sabe como alcançar isso, ou melhor, encontra muitas dificuldades. O salmista nos mostra uma bem-aventurança e uma maldição destinadas, respectivamente, a dois caminhos, a dois destinos, aquele do justo e aquele do ímpio. Na Bíblia, quando se fala de caminho, quer dizer escolha, opção de vida e moral. Um trecho do livro do Deuteronômio nos confirma tudo isso: “Eu coloco perante você a vida e a morte, o bem e o mal, faça uma opção.” (Dt 30, 15.19) O ser humano é ele que faz a escolha da sua vida. Deus propõe e as pessoas decidem.
Interessante ver como Deus não nos impõe nada, mas respeita a nossa capacidade de decisão. Ele confia na gente. Que maravilha! Ele que tudo pode, tudo sabe, porém, confia em nós não obstante toda as nossas limitações e misérias humanas. É nisso que começo entender a plenitude do amor Dele. Um amor sem limites para nos beneficiar e promover como pessoas livres e dignos de sermos filhos e filhas Dele. Portanto, para compreendermos o nosso Deus temos também essa possibilidade através da compreensão dos seus filhos/as. Assim sendo, qual é o deus tão próximo da gente como o nosso Deus? Fazer essa experiência é pra nós tudo, é vida sem fim, um dia sem ocaso.
O salmo continua descrevendo uma paisagem da natureza: uma árvore carregada de frutos à beira de um rio. Esse é o símbolo da prosperidade, da alegria e, portanto, representa a vida do justo. Essa vida não se apaga, mas permanece. Ao contrário do ímpio que é como a ‘palha seca que o vento leva’. Uma vida sem futuro e ilusória. Qualquer dificuldade da vida o ímpio é levado e desaparece. Praticamente, o ímpio não consegue marcar uma história de vida, mas de perdição. Não consegue resistir perante as acusações de Deus no juízo final e desse jeito será excluído para sempre da comunidade dos justos.
No entanto, o justo é aquele que não se deixa iludir pelas tentações e permanece fiel a Deus como uma árvore plantada à beira do rio, alimentada continuamente pelas suas águas. Essa fidelidade é fundada em seguir a Lei de Deus que é a ‘Torah’. Essa Lei não é simplesmente uma execução de normas, de preceitos e prescrições, mas é revelação divina que o ser humano responde com a sua alegre adesão. Portanto, essa Lei divina, a ‘Torah’, é uma grande celebração da Palavra de Deus. Torna-se assim norma de vida, mas com atitudes alegres e não legalistas, porque a ‘Torah’ é perfeita e revigora a vida do ser humano, como uma planta ao longo das águas. A Lei de Deus é perfeita e realegra, ilumina as pessoas.
Esse quadro do justo e do ímpio, que o ser humano vive constantemente, é um apelo muito forte do salmo, número 1, para não se deixar seduzir pelo mal, mas optar com todas as forças pelo bem, pela justiça e verdade. Esse é caminho recomendado pelo salmista para todas as pessoas. Na tradição cristã, com a vinda de Jesus Cristo, o justo se transformará naquela do Justo dos justos em Cristo, e a árvore simbólica ao longo das águas se tornará a árvore da cruz, “madeira de vida que frutifica para nós com as águas do batismo”. A vida da humanidade é sintetizada nas escolhas da vida, que pra nós cristãos é garantida por Nosso Senhor Jesus. Com Ele tudo posso.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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