sexta-feira, 18 de março de 2016

COLUNA DO HERÓDOTO - Per Secula, Seculorum

 Finalmente o ser humano conquistou a imortalidade. E não foi com nenhum remédio milagroso. Nem com a ajuda de Ponce de Leon, o descobridor da fonte da juventude. Nem uma poção milagrosa como a Mandrágora. O responsável por esse milagre á a tecnologia digital, para ser mais exato, o Facebook. Pelo menos 30 milhões de usuários já morreram e foram enterrados ou cremados. Mas estão vivos no Facebook. Segundo a BBC todo dia morrem 8 mil usuários. Tem mais assinantes mortos do que vivos. O Facebook serviria bem como cenário de um filme de terror, onde os mortos não morrem. É possível até que muita gente supersticiosa pare de usar a rede social, afinal, ele se parece com um grande cemitério digital onde vagam fantasmas de vários países e que falam e escrevem em múltiplas  línguas.  Só falta eles curtirem as páginas dos que ainda não morreram. Aquilo que a medicina e a religião não conseguiram, o Zukenberg tirou de letra.  

O mais comum no Face book  é as famílias ou amigos anunciarem a morte do titular da página e eles são considerados in memoriam. Assim tudo o que foi publicado se torna parte da biografia do titular e obviamente ele para de atuar em espaços públicos como curtidas, ou lembretes de aniversários. Afinal depois de morte é mais difícil desejar feliz aniversário para alguém. Alguns amigos ou familiares optam por continuar postando na página como se o morto estivesse vivo. Esquecem deste pequeno detalhe.  Lembro-me de um amigo que ligava para outro que havia morrido e deixava recado na caixa postal, que era atendida pelo próprio. Contudo uma vez que o morto perde, pelo menos por enquanto, o controle de sua página, os familiares podem simplesmente pedir que retirem a página do ar. Ainda assim o defunto continua recebendo ofertas do Decolar.com, E Bay , hotéis, pechinchas de toda ordem, da liguidaçao de uma coleção de tênis ao aparelho de ar condicionado. Muito útil para alguns....

O direito ao esquecimento ainda não é pacífico na legislação de vários países, por isso o morte vive digitalmente quer queira, quer não.  Enfim vivemos a época da alma digital. Enquanto existir bits bytes e ofertas de toda ordem as almas  vão sobreviver, mesmo que já tenham dado baixa no cartão de crédito.E esquecido os três números dos códigos de segurança.  Antes do desfecho final é possível entrar em contato com o site  Eterni.me adquirir uma versão digital de você mesmo e se tornar um avatar. Assim as pessoas no futuro vão poder interagir com a sua memória, história, ideias como se estivessem conversando com você. Um neto pode conversar com o bisavô. O atual gestor da empresa falar com o fundador da companhia. Não faço ideia se isso fosse usado na religião com os seguidores falando com os mestres o impacto teológico que teria. Os robôs do avatar  aparecem na tela e podem ter a aparência do falecido. Claro que mais jovens, botocados, e nas cores da moda. Os amigos e parentes se dividem entre os que criticam a falta de intimidade até mesmo na morte e outros que querem que a memória do falecido permaneça viva para sempre. Muitos não foram consultados. Esta é a pegado no nosso bravo novo mundo: o Big Data não nos permite ser esquecidos.

Fonte: Coluna do Heródoto - Record News / São Paulo-SP

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