Os motores modernos possuem cada vez mais potência, e essa potência se encontra apenas nas mais altas rotações. Por isso que para se atingir 180 cavalos em um motor de 1000 cc ele precisa girar a mais de 11.000 rpm. Sendo assim existe a necessidade de abaixarmos o número de rotações para que possamos aproveitar melhor toda esta potência e assim ter força tanto para sair tranquilamente de um farol no trânsito da cidade quanto para passar dos 320 km/h (em um local apropriado, logicamente).
Mesmo em marcha lenta um motor comum vira a mais de 1.000 rotações por minuto, ou seja, muita rotação e pouca força. Para mudar este quadro, coloca-se no eixo do virabrequim uma engrenagem de pequeno diâmetro ligada a uma maior (normalmente quatro ou cinco vezes maior, depende da moto) e essa então ligada ao câmbio.
Três componentes nos ajudam a controlar esse plantel: a redução, ou transmissão primária (que é o conjunto de engrenagens ligadas ao eixo do virabrequim), a embreagem (controla a ligação entre as engrenagens do virabrequim e as do câmbio), e a transmissão secundária que é a que nos interessa hoje.
Enquanto a transmissão primária se encontra bem embaixo do cilindro, necessitando muitas vezes da abertura do motor para manutenção, a transmissão secundária é bem visível aos olhos, o que ajuda muito em sua manutenção, mas também a expõe as intempéries do dia-a-dia como sujeira, água, areia, pó…
Hoje vamos ensinar você a fazer essa manutenção, ou apenas saber quando levar sua querida de duas rodas para trocar a relação em seu mecânico de confiança (não precisa ficar com ciúmes que o serviço é rápido e ele fará com bastante carinho).
A transmissão secundária é composta por 3 principais elementos: o pinhão (a engrenagem menor que fica ligada ao eixo motriz que sai da caixa de câmbio), a corôa (a engrenagem maior que fica ligada ao cubo da roda traseira) e a corrente (a responsável por transmitir a força entre o pinhão, a coroa e consequentemente a roda traseira).
Assim como em relacionamentos com outras pessoas a relação de sua moto pode durar muito ou muito pouco, depende muito do tipo de uso e do cuidado que você tem com a mesma.
Aqui vão algumas dicas para a conservação de sua relação:
1- Mantenha a corrente sempre bem esticada, mas não muito pois você pode estourá-la ou forçar muito seu cubo e quadro elástico.
Se a corrente ficar muito frouxa as imperfeições do solo e até mesmo a força de arrancada e redução vão fazer com que ela fique batendo entre a coroa e o pinhão, o que reduz muito sua vida útil, podendo até mesmo ocasionar um dos maiores pesadelos de todo motociclista, o travamento da roda em pleno movimento. A corrente por estar frouxa pode pular e escapar do pinhão ou da corôa e travar a roda, o que em uma curva ou até mesmo na reta significa tombo certo. Se você apertá-la demais o movimento de sobe e desce da balança vai forçar muito a corrente e você corre o risco de quebrá-la.
No manual do fabricante vem bem explicado aonde medir essa folga em relação a balança e como ajustá-la. Uma dica é observar se ela não está com barriga ou com folga na coroa (foto)
2- Sempre que puder limpe sua corrente, mas procure saber primeiro que tipo de corrente que é.
Esse é um erro muito comum tanto entre proprietários quando em “mexânicos” (mecânicos sem instrução). Aos olhos da maioria, principalmente quando suja, toda corrente parece igual, mas não é. Algumas correntes tem o que chamamos de o-ring, que nada mais é que um anel de borracha que ajuda a manter a lubrificação dos elos e não deixa entrar sujeira entre os mesmos. Algumas correntes tem o chamado v-ring, que é quase a mesma coisa com o mesmo princípio só que em V. Enquanto alguns fabricantes não falam nada alguns indicam a utilização de produtos específicos para a limpeza dessas correntes, caso contrário você pode ressecar esses anéis de borracha e com isso reduzir a vida útil da mesma, como é o caso de usar gasolina que resseca esses anéis.
3- Mantenha o conjunto sempre muito bem lubrificado
A lubrificação do sistema é muito importante pois reduz o atrito entre seus componentes. Tem gente que prefere usar óleo e outros que preferem usar graxa. O problema do óleo é que mesmo o mais grosso deles, com o movimento da moto ele vai respingar tudo na roda e no pneu, fazendo uma lambança daquelas e podendo até mesmo ocasionar uma queda, caso o dono da moto tenha encharcado demais a corrente. A graxa utilizada normalmente é a branca pois é mais resistente a água, porém ela também tem seus problemas: Ela é mais grossa e pegajosa que o óleo, não saindo na chuva e nem respingando, porém tudo o que é sujeira gruda nela fazendo uma maçaroca de óleo, areia, sujeira… necessitando de uma limpeza mais frequente. Hoje em dia em quase toda loja de moto são vendidos óleos especiais em spray que apesar de serem mais caros acabam com os problemas acima e dão muito melhor conta do recado com muito menos sujeira pois entram mais fácil nas emendas da corrente e após aguns minutos grudam como a graxa só que não retém sujeira.
Agora como saber se sua relação está no “osso” e não tem mais jeito de limpar e esticar? Simples:
1- quando o esticador de corrente estiver além dos 2/3 do total (aquela peçinha no eixo traseiro que ajusta a corrente). Pode ir comprando uma relação nova que a sua está nas últimas.
2- quando os dentes da coroa ou do pinhão estiverem ficando afiados. Normalmente as pontas são abauladas porém com o tempo como a corrente vai ficando mais frouxa ela vai se encaixando mais na ponta dos dentes e batendo, causando esse efeito de afiar as pontas.
3 – quando voce perceber que o conjunto está “remontando” (quando anda dá a impressão que os elos da corrente não casam direito nos dentes da coroa/pinhão, fazendo barulho em excesso, estalos e dando pequenos “socos” em mudanças de marcha.)
4 - quando voce perceber que a corrente está “pulando” em excesso. Ao passar por buracos ela baterá na balança ou nos limitadores e fará um “cloc” ou então em aceleradas fortes você sentira ela escapando ou dando um tranco.
Em qualquer uma dessas ocasiões onde for necessária a troca de pelo menos um dos componentes da relação, seja corrente, pinhão ou coroa, todos terão de ser substituídos. Não caia na conversa de trocar apenas o pinhão ou apenas a coroa. Ao fazer isso você estará comprometendo o conjunto inteiro e gastando prematuramente o componenete novo, além de colocar em risco a sua segurança e a dos outros.
Normalmente é fácil de identificar quando a relação está gasta pois você sente isso ao pilotar a moto. Porém para quem está ainda acostumando com a moto essa sensibilidade ainda não está apurada, então não custa nada dar uma olhadinha nos dentes da coroa, mas da moto! Nada de ficar de olho na dentadura de sua sogra.
Fonte: Revista Extreme.com
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