Cheguei às terras italianas no começo deste mês para realizar um trabalho pastoral na diocese de Concordia-Pordenone, região entre Veneza e Udine, Norte do país, próspera e bela. Minha tarefa nos próximos dias é animar, missionariamente, a Igreja daqui, com a experiência adquirida ao longo de minha vida sacerdotal, a maior parte dela vivida no Brasil. Essa missão me entusiasma e, ao mesmo tempo, desafia-me. Por aqui um dos assuntos que dominam o cotidiano das pessoas é a repercussão sobre os últimos atentados terroristas praticados pelo Estado Islâmico (EI). Os italianos andam preocupados.
Já conversei com algumas pessoas e constato a sensação de medo. Há poucos passos de onde resido, havia duas vítimas de Dacca, capital de Bangladesh. As pessoas que encontro conheciam muito bem essas vítimas que foram executadas pelos terroristas do EI em um restaurante daquele longínquo país. A lembrança é de que as vítimas eram pessoas queridas e trabalhadoras. Aí, surgem mil questões: por que tamanha violência contra pessoas inocentes? Por que os terroristas agiram daquela maneira cruel? Por que os terroristas estão agindo também longe dos países do oriente médio? Qual a finalidade de tudo isso?
Conforme informações preliminares, esses jovens terroristas eram de uma extração social rica. A imprensa internacional divulga a toda hora a ação do Estado Islâmico por meio de um exército praticamente invisível. A gente se pergunta: quando nasceu? Nasceu em 2013 e antes de ser Estado Islâmico levava o nome de Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). A partir dos anos 2000, era um grupo militar iraquiano de Al Quaeda. O fundador foi Abu Musab al-Zarqawi que queria criar um califado, provocando uma guerra civil no Iraque. Depois, esse Estado Islâmico, em 2013, começou a combater na Síria, grande adversário de Assad.
O chefe atual se chama Abu Bakr al Baghdadi. Ele nasceu em 1971 na cidade Iraquiana de Samarra. Quantos milicianos compõem o EI? Dizem que poderia ter de 15 a 30 mil. Entre eles, teria uns 4 mil estrangeiros, inclusive brasileiros. O último ato terrorista fora do Oriente Médio foi Dacca, na Ásia. Como comentei no início, executaram 20 pessoas em um restaurante da capital de Bangladesh. Com esse ataque mortal, os extremistas islâmicos vão colecionando morte por todo lugar do planeta. E a repercussão dos ataques chama atenção do mundo todo. Essa estratégia, no entanto, talvez tenha sua explicação.
De fato, o Estado Islâmico sofreu derrotas não pequenas nesses últimos tempos. O EI perdeu territórios tantos na Síria como no Iraque, e, assim, os terroristas agem além dos próprios territórios para confirmarem a sua existência e a sua defesa. É interessante notar como fazem esses ataques terroristas no mundo, as escolhas dos alvos a serem executados. Agora foi em Bangladesh, e depois onde será? Creio que eles tenham estratégias muito sutis. O objetivo é chamar atenção e desestabilizar a opinião pública mundial. O califado islâmico quer se mostrar uma grande potência. Uma potência mediada pelo terror.
Vejo que os italianos estão preocupados como se estivessem vivendo em pleno período de guerra. Diante desse cenário, a gente se pergunta: onde será o próximo atentado que possa chamar atenção do mundo? Estamos no mês de julho; e, em agosto, por exemplo, teremos os jogos olímpicos no Brasil. O que falta para que o próximo alvo seja a olimpíada? Nos jogos do Rio estarão presentes quase o mundo todo; e, nesse sentido, seria um alvo de grande prestígio para os terroristas. Soubemos também que entre os 4 mil estrangeiros que fazem parte das milícias do EI há brasileiros. Será que serão esses os possíveis sujeitos de um ataque, se houver nas olimpíadas?
Esse exército invisível do EI, se decidir atacar as olimpíadas, como vai superar o grande esquema de segurança que o Brasil vai dispor? Certamente, as estratégias do terrorismo estudam tudo isso e até mais. Eu me pergunto, também: será que a presença de brasileiros entre as fileiras do EI pode facilitar uma ação terrorista neste evento mundial? A essa altura tudo podemos pensar. O mundo todo é chamado a ponderar todos esses eventos terroristas que não pertencem somente a lugares bem distantes da gente, mas todos podemos ser diretamente envolvidos. É a desestabilização do mundo para fazer prevalecer ideologias de conquistas, custe o que custar.
Vejo que, aqui na Itália, se fala muito disso e creio que também no Brasil aconteça a mesma coisa. Essa globalização realmente é um acontecimento que nos acomuna em tudo: tanto no bem quanto no mal, e sobretudo no mal. Lembro-me nesse momento de Sartre, um dos pais do existencialismo, que dizia o seguinte: “É suficiente que um homem odeie o outro para que o ódio vá correndo pela humanidade inteira”. Terrorismo, guerras, violências são a confirmação do ódio nesse pequeno planeta terra. E isto me preocupa muito.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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