Por que vamos à Igreja? Tem gente que quase vive na Igreja. Por que isso? O ser humano não pode viver pensando exclusivamente em si. Ele tem que buscar a razão do seu ser e do seu viver. Nesse sentido, participar da Igreja é uma resposta às suas buscas de vida, compreender a sua vida a partir da sua participação na Igreja. Porém, esses anseios devem responder a uma exigência de conduta de vida, conforme o salmo 14 das Sagradas Escrituras. O salmista se questiona como viver para ter direito de participar do Templo. Veja o que diz:
“Senhor, quem há de morar em vosso Templo? Quem habitará em vossa montanha santa? O que vive na inocência e pratica a justiça, o que pensa o que é reto no seu coração, cuja língua não calunia; o que não faz mal a seu próximo, e não ultraja seu semelhante. O que tem por desprezível o malvado, mas sabe honrar os que temem a Deus; o que não retrata juramento mesmo com dano seu, não empresta dinheiro com usura nem recebe presente para condenar o inocente. Aquele que assim proceder jamais será abalado.”
A questão central, portanto, é essa: “Senhor, quem há de morar em vosso Templo.” Trata-se aqui de um ato penitencial, inicial ao entrar no Templo para a celebração da liturgia sacrifical. Por exemplo, naquele tempo em Babilônia, hoje Bagdá, e no Egito bem nas fachadas dos templos eram escritas as condições para puder participar ao culto. E na maioria das vezes era exigida a pureza chamada ritual e exterior. Isto é, por exemplo, não se podiam usar os sapatos, tanto menos bolsa e ter pó nos pés.
No entanto, nas Sagradas Escrituras e em particular nesse salmo era exigida uma pureza moral que se baseia nos Dez Mandamentos. Neste salmo, constatam-se dois momentos: de um lado os sacerdotes em serviço ao templo e do outro lado os fiéis que pretendem frequentar o templo. Qual é a função dos sacerdotes? Eles definidos “a tenda” devem avaliar a admissão ao culto dos fiéis. Em que consiste esse exame de entrada ao templo? Para “quem habitará em vossa tenda” precisa responder a esses quesitos ligados à ética da Aliança: os primeiros três compromissos são “o que vive na inocência e pratica a justiça, o que pensa o que é reto no seu coração”; os outros compromissos são diretamente firmados com o próximo e isto é: “cuja língua não calunia” que quer dizer em relação aos testemunhos públicos; “que não faz mal a seu próximo” que é a generosidade com os outros; e enfim “não ultraja seu semelhante” no sentido de ter boas relações com todos. Além do mais, o salmista
acrescenta outras sugestões, propostas que refletem sempre as condições da vida social que são iluminadas por Deus. O que se salienta aqui?
O justo tem que tomar as distâncias do malvado, imitando o Deus, que Ele mesmo rejeitou. Essa lógica, no entanto, é derrubada por Jesus, porque ele faz refeições com os pecadores, acolhe as prostitutas, entra nas casas dos publicanos, busca a ovelha pedida, se aproxima e toca os leprosos. Jesus reconhece a dificuldade dos seres humanos em morar na casa do Senhor, porém mostra que quem tem humildade e deseja ardentemente que Deus entre na sua vida aí o Senhor fará a sua ‘tenda’. O Templo é pra quem se deixa possuir por Deus e assim transforma a sua vida.
Não somos nós que conquistamos Deus, mas é o contrário. Ele nos conquista, mas precisamos deixar aberta a porta da vida de cada um. Continua o salmo com o versículo 5 que abre a última série de compromissos necessários para participar da Liturgia. No Oriente, emprestar dinheiro com juros era considerado uma verdadeira usura. Na Bíblia é ainda bem mais claro: “Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que está contigo, não lhe serás como um credor: não lhe exigirás juros.” (Ex 22,25) São esses os comportamentos de integridade que caracterizam os que frequentam o culto e permitem uma verdadeira intimidade com o Senhor Deus. E o nosso Mestre Jesus também diz que se você está para apresentar a sua oferta e se lembrar que seu irmão tem algo contra ti, deixa a sua oferta e vá se reconciliar primeiro com o seu irmão. (Mt 5,23-24)
Deus, com certeza, toma a iniciativa por primeiro ao vir ao nosso encontro, mas também nós temos que fazer a nossa parte: praticando a humildade em reconhecer que o outro não é um nosso inimigo mas um irmão, não é uma pessoa para se explorar mas para nos ajudar nas nossas pobrezas, em todos os sentidos. Deus gosta das transparências dos seres humanos, como prerrogativa de instalar a sua tenda entre nós. Concluo parabenizando todas as mães, sobretudo àquelas mais sofridas e abandonadas!
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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