terça-feira, 5 de julho de 2016

DEUS NOS FALA

Lucas 9, 51-62

“Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém. Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em um povoado dos samaritanos para lhe arranjar pousada. Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém. Vendo isto, Tiago e João disseram: ‘Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma?’ Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. [Não sabeis de que espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.] Foram então para outro povoado. Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: ‘Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás’. Jesus replicou-lhe: ‘As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça’. A outro disse: ‘Segue-me’. Mas ele pediu: ‘Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai’. Mas Jesus disse-lhe: ‘Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus’. Um outro ainda lhe falou: ‘Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa’. Mas Jesus disse-lhe: ‘Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus.’”

O evangelista narra que Jesus quis ir a Jerusalém para a festa da Páscoa. Naturalmente vindo da Galileia tinha que passar pela Samaria; e aqui se sabe que entre esses dois povos não tinha uma perfeita sintonia, e sobretudo sabendo os samaritanos que Jesus queria ir para Jerusalém a coisa piorou. Por isso rejeitaram Jesus e aqueles que o acompanhavam e não lhes deram hospedagem. Aí a gente se pergunta: por que o rejeitaram ao saber que ia para Jerusalém? Parece, segunda a concepção daquele tempo, que Jesus, o Messias, fazendo o seu ingresso a Jerusalém, seria aclamado com filho de Davi, isto é, tomaria o poder e, portanto, conquistaria todos os povos pagãos e, neste caso, também os samaritanos seriam submetidos a Ele e ao povo de Israel.

Por isso, eles não querem recebê-Lo, para não serem mandados por Ele e por Israel. E os discípulos Tiago e João, verdadeiros defensores de Jesus, queriam se vingar por tudo isso. Mas o Mestre os ‘repreendeu severamente’, porque essa atitude extrema impedia de compreender o projeto de Deus. Quantas vezes também hoje cristãos que apelam à radicalidade querem dar respostas a partir do próprio entendimento e não de Deus, e desse jeito alimentam hostilidades, divisões no meio da humanidade? Seguir Jesus é seguir o projeto de Deus Pai. Significa seguir a própria voz mais profunda, não do mundo, mas das necessidades do profundo da alma. E justamente para fazer isso precisamos ser livres interiormente. O Mestre Jesus oferece vida e não a proteção, a felicidade e não a tranquilidade. Jesus queima as certezas que o mundo oferece.

Continuando o evangelho, Lucas nos apresenta mais três personagens anônimos que pretendem seguir Jesus. Interessante como o autor quis focar o número três, que, para ele, significa a totalidade. A totalidade das pessoas que queiram ser seguidoras de Jesus devem viver a proposta Dele. Qual é? Ruptura com o passado, pela casa, a família e, sobretudo, com o pai que representava a tradição. Ao primeiro homem Jesus respondeu: “As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” Isto é, esses animais eram considerados os mais insignificantes e inúteis, porém têm um refúgio, mas Jesus não, embora seja o executor do projeto de Deus. Reafirma assim a emarginação e incompreensão de Jesus Cristo.

A outro Jesus disse-lhe “segue-me”. Mas ele queria primeiro enterrar o pai, porque tinha acabado de morrer. Mas o Mestre responde para ele deixar que os mortos enterrem os mortos. Por que fala desse jeito? Porque o pai representa a tradição e, segundo Jesus, é um mundo de mortos que deve ser gerenciado pelos mortos, mas aqueles que acolhem o Messias devem se abrir totalmente à novidade do Reino de Deus. E enfim o último que queria se despedir da própria família para depois segui-Lo, Jesus é categórico: “Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus”. Isto é, essa novidade do Reino de Deus, que é Jesus, não deixa espaço às saudades. Precisamos olhar sempre pra frente.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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