Os gestores da gigante da mineração Vale devem estar se perguntando o que saiu errado com a Samarco. Certamente deviam ter em mente que as crises podem ser mapeadas, identificadas e prevenidas. E por que a Samarco não fez isso? Certamente porque se convenceu que poderia fazer o que bem entendesse sem que qualquer fiscalização interrompesse os trabalhos e a geração de dividendos para os acionistas. A Vale abiscoitava metade dos lucros, a outro metade ia para a australiana BHP Billiton . O relaxo dos órgãos encarregados de acompanhar a segurança da barragem incentivou os gestores a acreditar que nessa marmelada chamada Brasil, ninguém pode ser punido por dar emprego, exportar minérios e recolher impostos. Que se dane o meio ambiente ou a segurança da população que vive nas cercanias da mineradora. Foi assim desde os tempos coloniais, porque iria mudar agora? Não há porta de repartição local que não se abra para a passagem de um grupo de advogados carregados de pastas com papeis carimbados, com firma reconhecida e um cartão que indica que eles possuem grande influência em escalões superiores. Portanto, para os gestores da Samarco e de suas proprietárias não haveria com o que se preocupar. Ligações com políticos garantem que tudo é possível e punição de qualquer ordem se destina ao pessoal da planície, do andar de baixo. De quem vive `a jusante e não `a montante do perigo.
Construir boa reputação é um trabalho árduo, que exige tempo. Para por tudo abaixo basta uma divulgação maciça nas mídias sociais e tradicionais. Não basta publicar relatórios caríssimos, geralmente bilíngües para adoçar a boca dos acionistas nacionais e internacionais. Investir uma boa soma nos veículos também ajuda a construção dessa imagem uma vez que as notícias desfavoráveis tem mais dificuldades de divulgação. A não ser uma grande tragédia como a de Minas Gerais. Aí não há departamento de comunicação que seja capaz de impedir o estrago. O episódio é uma constatação que não se consegue gerir crises, por mais competentes que sejam os gestores. Depois de uma má notícia, outras sobrevêm, como o estrago que a Samarco continua provocando no meio ambiente. E as más noticias, aquelas que colidem com a reputação, ganham espaço também na mídia internacional. Mas a gigante Vale continua numa boa, esperando que o tempo passe, que o tempo voe e que o jargão que diz que não há noticia que dure mais de 24 horas seja verdadeiro. O que quer se esconder é que é um engodo a afirmação que a empresa se realiza na satisfação da sociedade e não na quantidade de lucro que é capaz de produzir.
A história da mineração no mundo não é das mais humanitárias. No início da Revolução Industrial inglesa, nos século 18, eram os trabalhos mais perigosos e insalubres. Homens, mulheres e crianças eram levadas para as profundezas das minas de carvão submetidas a todo tipo de atrocidade como os desmoronamentos, doenças pulmonares, estupros e outras barbaridades. O noticiário atual, ainda que as condições de trabalho melhoraram, divulgam trabalhadores soterrados vivos, e ataques monumentais ao meio ambiente. Lembrem os casos da China,Chile e África do Sul. Aparentemente as mineradoras não tem nenhum compromisso com a natureza , ainda que sejam mais destrutivas que o desmatamento da Amazônia. Os gestores de plantão se esquecem que as organizações não são sistemas autônomos, estão mergulhadas na sociedade e precisam se interar com ela. Há um momento que a distância entre o que divulgam e o que fazem aumenta e há uma ruptura que explode a reputação. Pode ser uma greve de trabalhadores, ou uma barragem construída sem qualquer preocupação com a segurança, mas com os custos, como a da Mariana. É verdade que a tragédia humana, social e ambiental não vai inviabilizar uma gigante mineradora. Há remédios para restaurar a marca. Um deles é trocar por outra.
Fonte: Heródoto Barbeiro / Record News / São Paulo-SP.
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