quinta-feira, 29 de outubro de 2015

DEUS NOS FALA

Evangelho de Marcos 8, 27-35

“Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe, e pelo caminho perguntou-lhes: Quem dizem os homens que eu sou? Responderam-lhe os discípulos: João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas. Então perguntou-lhes Jesus: E vós, quem dizeis que eu sou? Respondeu Pedro: Tu és o Cristo. E ordenou-lhes severamente que a ninguém dissessem nada a respeito dele.

E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três dias. E falava-lhes abertamente dessas coisas. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo. Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens.

Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á.”

Para compreendermos melhor esse trecho do evangelho de Marcos, precisamos ver em que contexto foi escrito e quais eventos marcaram aquela circunstância. Estamos nos anos setenta depois de Cristo e a comunidade destinatária dessa evangelização passava por momentos não fáceis. Muita cruz pesava na vida das pessoas. Só para se ter uma ideia, seis anos atrás, isto é, nos anos 64, o famoso imperador romano Nero tinha decretado a perseguição aos cristãos, matando muitos deles. E, justamente no ano 70, Jerusalém estava para ser destruída pelo império romano. Além do mais, surgiu o conflito entre judeus convertidos a Jesus e aqueles fiéis ao Judaísmo. Sabe por quê? Tudo por causa da cruz de Jesus. Para os judeus era uma coisa que nem se podia imaginar ver um Messias pendurado numa cruz porque, segundo o Deuteronômio (21, 22-23), quem fosse crucificado era um amaldiçoado por Deus. Portanto, eles esperavam outro Messias, outro salvador que manifestasse toda a sua majestade. Dito isso, Marcos questiona os seus discípulos em relação ao Mestre, porque sabia que não era fácil aceitar Jesus Messias desse jeito, crucificado. As multidões se afastaram, porque era mais fácilseguir um Jesus que fazia milagres do que um Jesus na cruz. Por isso, o Mestre quer preparar os seus discípulos para compreender a cruz como projeto de Deus. É a cruz o ponto de referência para entender a nossa verdadeira vida de fé. Sempre dialogando com os discípulos, o Mestre, quer saber mais sobre o que os outros dizem, e o que eles pensam. E Pedro prontamente responde que Ele é o Messias. Isto é, o Senhor que todo mundo esperava. E Jesus proibiu a Pedro de falar para o povo, porque a expectativa das pessoas era conforme os anseios delas e assim se beneficiarem. Jamais iam pensar de receber um Messias servo. No entanto, Jesus ensina que é Ele mesmo o ‘Messias servo’, que será preso, torturado e morto na cruz. Perante esse anúncio, agora Pedro reage e pede ao Mestre de se opor. Resposta de Jesus: “Afasta-te de mim, Satanás!”. Por que Jesus fez isso? ‘Satanás’ significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Por isso, Jesus se torna duríssimo com Pedro, porque não permite a ninguém que o afaste da missão que Deus Pai lhe entregou. Também Pedro queria, no final, um Messias conforme os seus desejos. Nesse sentido, temos que nos questionar sempre até que ponto somos fiéis à missão que recebemos de Deus. Ou queremos fazer as nossas missões, confundindo-as com as de Deus? Porém, Jesus, com um tom imperativo, nos convida a segui-Lo carregando a cruz. Portanto, carregar a cruz e seguir a Jesus é aceitar o desafio de ser excluído, humilhado para imitar o testemunho do Mestre em proclamar que todos têm que se tratar como irmãos e irmãs. “Essa é a prova maior de dar a sua vida pelo irmão”.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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