quinta-feira, 29 de outubro de 2015

COLUNA DO HERÓDOTO - A VOLTA DO ALMIRANTE

A gente aprende pelo amor ou pela dor. Este é um adágio popular muito conhecido no Brasil. Porém ele se aplica às nações? A constituição japonesa  diz que o povo renuncia para sempre à guerra como direito soberano da nação, tanto quanto `a ameaça ou ao emprego da força como instrumento  de regulação de conflitos internacionais. Tendo em vista este objetivo, não manterá forças terrestres, navais e aéreas nem qualquer outro potencial de guerra. O direito de beligerância do Estado não será reconhecido. É uma declaração de pacifismo e uma aviso aos seus aliados que não contem com militares nipônicos em suas aventuras guerreiras e intervencionistas sob qualquer pretexto. A população está atenta para que essa clausula não seja modificada por deputados e conselheiros pressionados por interesses imperialistas. Á propósito, como no Brasil, para mudar um artigo da constituição são necessários os votos de dois terços dos parlamentares das duas casas. A diferença é que no Brasil são necessárias para a aprovação duas votações na câmara e no senado. No entanto, no Japão o projeto vai a referendo popular.
  Os grupos pacifistas lembram o drama nacional quando o Japão se tornou uma potencia imperialista no final do século 19 e início do 20. Invadiu regiões vizinhas, matou, torturou converteu populações em escravas e acalentou a utopia do Império do Sol Nascente. Uma poderosa marinha competia com as forças das potencias ocidentais na disputa pela presença no extremo asiático. O governo de inspiração fascista cultuava a guerra, ressuscitava praticas medievais de lutas marciais e obediência cega ao superior máximo, o imperador. Este considerado de origem divina. Samurais modernos armados de espadas e equipamento sofisticado. O choque com outras potências mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Reagindo a um estrangulamento econômico planejado pelos americanos, atacou Pearl Harbour e filiou-se ao Eixo ao lado da Alemanha nazista e a Itália fascista. O auge dessa política desaguou na tragédia que todos conhecem: as bombas atômicas sobre Nagasaki e Hiroshima e as centenas de milhares de mortos vítimas dos ataques nucleares.
  Aparentemente o Japão aprendeu pela dor. Os grupos pacifistas lutam para impedir a expansão das forças armadas. Elas devem ser suficientes apenas para proteger o país, mas não para escorar novas aventuras guerreiras. Não se cansam de lembrar o estado que a nação ficou depois da guerra, a fome, a destruição, os doentes e debilitados pela radiação das bombas. Contudo parece que a dor se esquece. Grupos ditos nacionalistas advogam o sonho de mudar a constituição que dizem foi imposta pelos americanos no final da Segunda Guerra e aceita por um povo cansado do conflito.  Três milhões de mortos foi o preço pago pelo aprendizado, que aos poucos vai sendo esquecido.  Esses grupos  alegam que o Japão precisa ser um país “normal”. Os ex inimigos, atuais aliados, os Estados Unidos, apoiam a iniciativa, não porque o Japão vá deixar o guarda-chuva de defesa americano, mas porque pode colaborar nas intervenções internacionais. Por exemplo o envio de tropas para o Iraque. Seria a atual constituição pacífica uma mostra de ingenuidade e obsolescência?  Para garantir sua sobrevivência ao lado de potências como a China, países hostis como a Coreia do Norte é preciso ter uma força militar parruda? Se estivesse vivo o almirante Yamamoto poderia responder.
Fonte: Heródoto Barbeiro - Coluna do Heródoto /Record News - São Paulo/SP


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