60 segundos e um minuto não são a mesma coisa. Por que isso? Uma pesquisa publicada no Psychological Science com o titulo “Quando inicia o futuro”, diz, essencialmente: dividir o tempo em partes menores pode parecer o futuro mais próximo. A essa altura podemos acrescentar que a questão de ilusão temporal é ditada também pela maneira de se manifestar a temporalidade. Assim sendo, podemos afirmar que o tempo é ‘pequeno’. Portanto, 60 segundos ou 1 minuto para o cérebro humano não são a mesma coisa. Quem fala isso são dois pesquisadores, Daphna Oyserman, da Michigan University, e Neil Lewis, da Southern Califórnia, que publicaram na Psychological Science.
Eles analisaram a percepção subjetiva do tempo de alguns estudantes universitários, categoria que, muitas vezes, deixa para amanhã aquilo que se poderia fazer hoje. Esse argumento tinha sido introduzido antecedentemente num Congresso da Society for Personality and Social Psychology de Austin (Texas) com outro estudo, com o titulo “Iniciarei entre 30 dias ou entre um mês? Os efeitos do enquadramento do tempo sobre a motivação para agir”. A palavra chave para compreender a percepção temporal é o ‘enquadramento’, saber encaixar o tempo, e pode assumir significados diferentes, dependendo do contexto em que ele é usado: da sociologia à informática, ou do mundo das telecomunicações, etc.
No ano 1974, Erving Goffman, sociólogo norte-americano mais influente do século XX", (suas principais áreas de estudo incluíram a sociologia da vida cotidiana), definiu o ‘enquadramento do tempo’ como capacidade de criar esquemas de interpretações com os quais classificamos fatos e eventos, estruturando assim maneiras de pensar e agir na nossa realidade. Portanto, a percepção condicionada pelo ‘enquadramento’ temporal, pode até condicionar não somente a questão psicológica do ser humano, mas até a própria saúde. Quer ver um exemplo de tudo isso? Volta o teu olhar pela nossa cidade ou estado: o que você percebe quando lê ou escuta que cada dia a violência aumenta? Tantos assassinados por dia!Tantos assaltos por dia!
É bem diferente, no entanto, ler ou escutar que cada ano a violência aumenta, tantos assassinatos ou assaltos por ano! A reação das pessoas é bem diferente. Nesses dias, muita gente entrou e entra em pânico por perceber a dramaticidade da violência no cotidiano. Mas, na verdade, tudo isso acontece durante o ano todo. Portanto, a reação perante um cenário tão dramático aparece diferente pelo condicionamento de como é relatado. Isto é, a influência do enquadramento temporal não atribui a um dia o mesmo valor dos 365 dias, embora seja a mesma coisa, o mesmo resultado.
Para compreender tudo isso, a pesquisa publicada no Psychological Science envolveu 162 estudantes universitários que deviam alcançar uma meta: se raciocinavam em termos de dias para alcançar tal objetivo, era percebido como muito mais iminente de que pensar em meses e anos. Por exemplo, se o grupo pesquisado era perguntado quanto faltava para as provas das disciplinas, aparecia dizer que 90 dias era muito mais próximo que dizer 3 meses, e naturalmente o empenho para estudar aumentava muito mais encarando o tempo em dias. Tudo isso pela percepção de como enquadrar o mesmo tempo.
Assim sendo, podemos alertar não somente os estudantes, mas também todas as pessoas, que condicionadas por essa síndrome da procrastinação, podem ser prejudicadas no tempo e no dinheiro da própria vida. Continuando com a segunda parte da pesquisa dos 1.100 jovens estudantes entrevistados: perguntaram-lhes quando teriam iniciado a ter uma poupança para garantir a entrada na universidade, visto que são bastante caras. Aqueles a quem tinha dito de ter a disposição 18 anos planejaram o investimento com uma demora média de 4 anos comparado com aqueles a quem foi dito de ter 6.570 dias.
A mesma coisa aconteceu, segundo a pesquisa, com aqueles que planejaram a aposentadoria. Foi revelada a mesma demora de 4 anos daqueles que lhes foi dito que faltam 30 anos em relação aqueles que lhe disseram de ter a disposição 10.950 dias. Mais uma vez foi levantada a questão que ao mesmo grupo foi dito a mesma coisa, embora com referências temporais diferentes, e a recepção não foi unânime. Isto é, o enquadramento temporal do cérebro os induziu a fazer uma leitura diferente. Efetivamente, a lição de tudo isso é: acostumar-se a raciocinar usando os dias no lugar dos anos o futuro parece mais próximo.
Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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