sábado, 13 de junho de 2015

OS GRITOS CLAMAM POR NÓS

Papa Francisco
O papa Francisco falou em uma de suas últimas homilias sobre o comportamento de alguns cristãos que se afastam de Jesus. Vendo nesses dias todo aquele cenário bem triste de filhos e filhas de Deus que gritavam e se manifestavam até contra a própria simbologia religiosa, pude constatar o quanto é grande o desespero, quando o ser humano não faz a experiência de Deus. Eu creio que a nossa sociedade está sedenta de Deus, mas, infelizmente, busca caminhos que não a ajuda a fazer esse encontro. Por isso, entendo que todas essas manifestações, além da própria convivência educada e respeitosa, são o resultado de um grande desespero de uma humanidade esvaziada em todos os sentidos.

Como resgatar tudo isso? Nesse sentido, creio que papa Francisco possa nos iluminar, lembrando aquele encontro de Jesus com o cego Bartimeu “que grita por Jesus para ser curado, mas é repreendido pelos discípulos para que se cale.” O cego está, justamente, desesperado e reconhece que quem pode ajuda-lo é somente Jesus. De fato, ninguém até agora conseguiu transformar a enfermidade da sua vida. E por isso descarrega todo o seu ser ‘gritando’, ‘gritando cada vez mais’. Queria, com isso, ter a certeza de ser atendido por Jesus. Interessante, disse o papa, que os discípulos que acompanhavam o Mestre Jesus tentaram cala o cego. Não queriam que incomodasse.

Talvez, ainda hoje, os gritos são grandes, como acontecem nesses ‘nossos dias’ pelas vias públicas da nossa sociedade, mas tem muitos que não querem ouvir ou tentam apaga-los com muita diplomacia. No entanto, são os gritos de tantos que querem Jesus, precisam Dele, porque querem salvação. Disse o papa que os cristãos não podem ser indiferentes, não podem fazer da própria experiência de fé somente aquele grupo ou comunidade a quem pertencem. Não podem tapar os ouvidos ou fechar os olhos perante manifestações de desespero que necessitam de ajuda, de salvação por parte de Jesus. Aquele cego Bartimeu ainda hoje é mais vivo que nunca; representa o desespero da humanidade isolada nas suas dores e incompreensões.

Não podemos ser egoístas, fazendo de conta que não ‘ouvimos’. Por isso, o santo padre acrescenta: “Existem cristãos que vivem uma relação fechada e egoísta com Jesus e não ouvem o grito dos outros. Vivem numa atitude mundana ou rigorista que afasta as pessoas de Jesus.” Continua o papa Bergoglio, enumerando, catalogando três tipos de cristãos que podem existir: “São cristãos de nome, cristãos de salão, cristãos das recepções, mas a sua vida interior não é cristã, é mundana. Uma pessoa que se diz cristã e vive como um mundano, afasta aqueles que pedem ajuda a Jesus.”

Francisco diz: “Depois, há os rigoristas, aqueles que Jesus repreende, que colocam tantos fardos nas costas das pessoas. Em vez de responderem ao grito que pede salvação afastam as pessoas.” E “finalmente, há um terceiro grupo de cristão que é aquele que ajuda as pessoas a aproximarem-se de Jesus. É o grupo dos cristãos coerente com aquilo que crê e vive, e que ajuda na aproximação de Jesus às pessoas que gritam pedindo salvação”. Portanto, insistiu o Papa Francisco que todos devemos avaliar o nosso comportamento cristã para ver se estamos de fato aproximando ou afastando as pessoas de Jesus o Cristo.

A essa altura o problema maior muda, não é mais o ‘grito’ (o desespero), mas o afastamento de Jesus. Assim sendo, a nossa humanidade pode correr o risco de não fazer esse encontro com Jesus Cristo. Não fazer a experiência de Deus na nossa vida nos leva a uma concepção de uma vida dupla e não de unidade. E essa duplicidade gera confusão, caos, em que as pessoas não conseguem mais se entender, compreender. Terreno esse que pode somente alimentar violência e conflitos.

O mal toma conta da humanidade. Com isso, é evidente dizer que essa ausência de uma experiência de Deus é fonte do mal entre nós. Os clamores e os gritos na nossa sociedade nos chamam em causa para nos dar um testemunho de cristãos comprometidos com o testemunho de Jesus: ser próximos das pessoas para ajuda-las. Isto é possível, porque temos muitos cristãos que nos dão esse testemunho. E talvez todos nós os conhecemos. Sendo assim, não tenhamos medo de ser cristãos, sobretudo quando precisamos se expor. É bom nunca esquecer que a nossa glória é a cruz de Cristo e não os tronos desse mundo.

Fonte: Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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