Venho de uma daquelas famílias que respiram o magistério. Sempre fui professor, minhã mãe e meus tios eram professores. Durante anos, ensinei na licenciatura, formando futuros professores. Greves e manifestações de professores não podem deixar de mexer comigo.
Minha mãe dizia que nunca faria greve, um dos marxistas mais bem preparados do curso e sempre coerente, escandalizou-nos ao dizer que era contra greves na Educação. Greve, dizia ele, é para quem dá prejuízo ao patrão deixando de produzir. Se professores e alunos não produzem, os prejudicados são eles mesmos e a sociedade. Portanto, o que devem fazer é trabalhar e estudar ainda mais, para que o estudo seja realmente um instrumento de transformação da sociedade.
Diante do descalabro da Educação no País, das más condições de trabalho e remuneração dos professores, tanto minha mãe como eu professor se posicionariam favoráveis aos protestos de seus colegas atuais e se mostrariam indignados com a repressão violenta que suas manifestações recebem em alguns casos.
Os professores não podem ficar calados diante da situação que está aí. Porém, anos de repetidas greves e manifestações pouco têm feito pela situação docente.
Ao mesmo tempo, as promessas e os planos dos governos têm sido sucesso na expansão do acesso à escola, mas pouco influem na qualidade da Educação. Estudos internacionais, como o ranking mundial de educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), recém-divulgado, colocam o Brasil em 60º lugar entre 76 países. O PIB é de uma das nações mais ricas do mundo e a qualidade de educação das mais pobres!
Um sistema injusto penaliza os trabalhadores não apenas explorando-os com salários baixos e cargas de trabalho desumanas.Ele também os penaliza destruindo o sentido do trabalho, fazendo com que deixe de ser ocasião de construção da humanidade do trabalhador para se tornar apenas "coisa" a ser trocada no mercado.
Para minha mãe, educar era um alto sagrado, que enchia sua vida de sentido e sabor e o aproximava de Deus. Para meu professor, era parte de sua luta para transformar o mundo, e como tal também era ocasião de realização pessoal. Hoje, sei que muitos de meus ex-alunos gostariam de viver a docência assim, mas até essa possibilidade lhes foi triada - tanto pelas más condições de trabalho quanto por uma mentalidade que esvaziou o sentido da Educação.
Outras pesquisas têm mostrado que a Educação é uma das maiores preocupações da população brasileira. Mas qual é o apoio que as pessoas e os movimentos sociais dão aos professores, quando estes reivindicam melhores condições de trabalho, ou às escolas, que estão em condições materiais e humanas críticas? Escolas que contam com mais interação e apoio da comunidade (presença pais e familiares, participação dos estudantes em atividades comunitárias etc.) obtêm resultados melhores do que outras que estão em situação semelhante, mas não têm este apoio.
Poucas profissões têm em, como a Educação, esse caráter de "vocação", de chamado para uma missão de dedicação às pessoas e transformação do mundo. Essa é uma riqueza que os professores não podem perder, que o Estado deve sustentar com políticas educacionais adequadas e toda a população deve apoiar com reconhecimento e colaboração.
Fonte: OPINIÃO - Francisco Borba Ribeiro Neto / Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP - Jornal O SÃO PAULO / Semanário da Arquidiocese de São Paulo
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