O destino e a fortuna ou sorte
- O termo "destino" corresponde corresponde ao latim "fatum". Já que uma das características da moral estoica é a liberdade que responde pela independência de sábio de face das contrições oriundas de fora da alma, então interessa saber o ser humano ficar livre dos determinismos quer naturais ou físicos quer circunstanciais. De um lado Sêneca aceita o determinismo do destino, mas de outro lado professa que o sábio vive na quietude plena do espírito porque nada há que o constrange, assola ou deprime, deixando-o em estado de consternação. A fim de elucidar acerca desse aparente contraste entre opressão exterior e liberdade interior, convém atender para as explicações dadas, por Sêneca em diversos lances das "Cartas".
- Antes de mais, Sêneca trata dos elementos que limitam e coartam, reprimindo a capacidade de opção expontânea da parte do ser humano. Assim ninguém escolhe nem nascer nem as propriedades genéticas do corpo. Tudo isso é um mero fato contra a qual a vontade humana não tem como reagir. Cabe-lhe apenas aceitar o que a natureza determina. A propósito é célebre aquela frase de Sêneca: "O destino guia quem o segue, mas arrasta que recusa a segui-lo" ("Ducunt volentem fata, nolentem trahunt").
- Há, com efeito, uma série de constrições que a natureza impõe sem consulta prévia, a saber, a carga genética do corpo, as tendências congênitas do espírito, certas circunstâncias do meio ambiente como os cataclismas. Em face desses determinantes absolutos, ante os quais não existe opção, cabe ao ser humano aceitar de modo resignado e complacente. Então a liberdade reside nesse modo altaneiro de acolher o inevitável e conviver tanto quanto possível com o mesmo. Portanto aquelas constriçõe oriundas do destino configuram a fatalidade de cada indivíduo. Quem a tais limites submete-se serevolta está agindo de modo racional e honesto. Isso qualifica sobremaneira o sábio.
- Além do conceito de destino, Sêneca trabalha com um outro bastante semelhante a saber, a "fortuna". Essa implica as circunstâncias exteriores que, normalmente, afetam o agir humano tal como pobreza ou riqueza. Embora ante o destino, o ser humano não disponha de liberdade de escolha, porquanto o que é imposto pelo destino fica fora do alcance de qualquer decisão moral da parte o agente, o mesmo já não ocorre com os produtos da fortuna.
- Segundo a filosofia estóica, o ato humano, sob o aspecto moral, classifica-se em três categorias: bom, mau e indiferente. Bom é o conforme à reta razão; o que a contraria é mau; o indiferente é aquilo que dependa das circunstâncias para ser bom ou mau. Assim a virtude em si é um bem, o vício é um mal enquanto coisas exteriores como riqueza e saúde são indiferentes já que dependem de modo de conviver com elas.
- Retornando à oposição entre o destino e fortuna, constata-se que as determinações oriundas do destino estão alheias àquela tríplice categoria de bom, mau e indiferente. Já o mesmo não ocorre com o conceito de fortuna. Assim, a morte, sendo efeito do destino, de per si, não é boa nem má, mas mera fatalidade. Ela é um fato real. Existe. Por sua vez, a condição social do cidadão livre ou escravo são modalidades indiferentes enquanto dependem de modo de encará-las. Aliás Sêneca adverte que o escravo pela lei humana pode ser moralmente livre ao agir segundo a razão.
- Em face do destino ou da fortuna o ser humano se rege de modo diverso. Enquanto diante do destino esse é aceito e seguido compulsoriamente, perante a fortuna ele fica condicionado pela sua razão que pode reagir e assumir posicionamento moral, sabendo como acomodar-se até como superá-la.
- Por isso Sêneca e outros estóicos falam do amor ao destino, mas não do amor à fortuna. Isso porque o destino é projeto absoluto, incondicional, imposto fatalmente pela natureza e pela Providência, ao passo que as alternativas da fortuna ficam passíveis de alterações por força do modo de agir do agente racional que se defronta com ela. A liberdade do sábio pode transmudar as circunstâncias negativas e adversas em bem moral. Ele então dispõe das virtudes como a prudência na escolha de caminhos e meios. Dispõe também de coragem e da fortaleza para enfrentar o imprevisto com galhardia e nobreza. Por isso, o sábio não teme nem se submete aos azares da fortuna. Ele sabe como reagir e comportar-se.
Fonte: Do Livro SÊNECA -Filosófo Estoico e Tutor de Nero
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