segunda-feira, 28 de julho de 2014

O PRIMEIRO ELEMENTO DE NOSSAS VIDAS

Por Edileusa Pena
Meu querido Prof. Dr. Ruy Ferreira, como sempre faço todas as manhãs, realizei a leitura de seu texto sobre os inúmeros e graves problemas de nosso país. Também tentei e queria muito escrever sobre a sua despedida como professor-doutor da área de Informática do Campus de Rondonópolis, o qual você ajudou na construção e fortalecimento do ensino superior.
Perdoe-me, meu amigo, mais ando num vazio existencial enorme, que tem me impedido de tecer discussões mais acaloradas sobre assuntos tão sensíveis e imensuravelmente tristes, a exemplo dos movimentos de transitoriedade a que estamos submetidos involuntariamente ou não.  
Está decidido: não quero falar de nossas ausências e mobilidades, porque acredito firmemente que você, ainda um jovem senhor, vai ser bem sucedido em seu tratamento de saúde. Certamente, ainda voltará às salas de aulas, lugar em que você se sente mais confortável. Também não quero pensar nos problemas econômicos, políticos e sociais do nosso país, pois, há muito tempo, deixei de acreditar em contos de fadas, príncipes e princesas encantados e em papai Noel, muito menos em Mãe Dinah ou Dilma.
Então, nesta Páscoa, justamente por ser uma festa cristã e de cunho familiar, me recolhi solitariamente em meu recanto, quase um clausulo, e andei matutando sobre o dia em que teremos que nos despedir dos nossos entes queridos, mais especificamente das mães. Este assunto, vez por outra, bate em minha porta, trazido por alguém, que infelizmente precisa se despedir pela última vez daquela que lhe trouxe à vida.
Fiquei inquieta estes últimos dias relembrando o falecimento da mãe de um amigo querido, que mora em São Paulo, e em meio às festividades de fim de ano, precisamente no dia 31 de dezembro, teve sua mãe resgatada para a Glória Eterna. Diante disso, veio de novo a vontade de fabricar um poema ou uma poesia sobre o assunto, mas, a angústia, tristeza e medo me impediram, naquele momento de escrever sobre qualquer coisa. Afinal, também estava de luto recente e com minha mãe doente, abalada com a morte brutal de seu irmão caçula – José Dantas, assassinado por latrocínio, roubo seguido de morte, na calçada da casa dele.
Hoje, porém, tomei coragem, respirei fundo e debrucei sobre aquilo que mais gosto de fazer: escrever textos opinativos, além de matérias jornalísticas. Então, busquei em minha querida Clarisse Lispector a inspiração necessária para realizar esta atividade. Clarisse Lispector uma vez pronunciou e, eu, aqui, me apodero de sua frase, na qual ela diz: “o mais escuro uivo da dor de separação” é o que um dia sente quem perde para sempre a figura da mãe. Quem foi alimentado por uma placenta e desta forma era parte integrante de outro ser, é cortado ao meio quando este vínculo se desfaz.
Quando nascemos carregamos para toda vida o fio que nos une ao ser humano-mãe, já que, um dia fizemos parte de um mesmo corpo, contrariando a Lei da Física, sugerindo que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar. Entretanto, com mãe e filhos, temporariamente, esta lei se torna nula.
Esclareço a todos: Pelo olhar de tristeza de quem perdeu sua genitora sou capaz de sentir boa parte da dor que emana tal separação. Digo boa parte, pois, é impossível captar por inteiro a dor do outro, sendo esta, individual e intransferível. Eis, que, percebo tais dessabores, não por já ter perdido minha mãe, mas, por entender e sentir visceralmente a complexidade e dificuldade do momento da separação, do último adeus, ancorada em tantas despedidas que já presenciei. Especialmente a do meu pai, que me foi tirado de maneira tão cruel ou dos meus tios, avôs e avós, ora vítimas da violência que galopa a passos largos ou pelo ciclo natural da vida.
Por esta razão de proximidade com a morte, em suas diferentes facetas, sei que, depois da partida vem o luto e o vazio, que são de gosto amargo e demorado. Porém, necessários na decantação da dor e do apaziguamento do espírito, para que nossa vida retome o curso natural e siga em frente. A ausência será sentida por todo o sempre.
Entretanto, o amor por nossa mãe e entes queridos, esse ficará tatuado em nosso coração e de lá não sai enquanto estivermos cumprindo nosso destino, aqui, na terra.
Aqui, abro um parágrafo específico para falar do amor maternal. Tal amor e a lembrança materna muitas vezes serão nossa redenção e acalanto naqueles momentos ruins em que este mundo nos entrega no dia a dia...
Há muita coisa a dizer e denunciar sobre nossa fragilidade no momento da partida, independente do motivo. Como canta e encanta Maria Rita: a hora do encontro também é o da despedida. Estou aprendendo, duramente, que a vida é mortal. Por esta razão, como sou humana e imperfeita, algumas partes delego para Deus, que é o senhor de todas as coisas. Nele, deposito minhas tristezas e medos, pois, Nele, sim, há uma saída segura e confortável. Em Deus e somente Nele, existe a não separação, o amor incondicional e a paz final, que todos nós desejamos por toda eternidade.
Já, prevendo o Dia das Mães, no próximo mês, deixo um recado para os filhos, órfãos de suas mães: desejo toda serenidade do mundo. Usem o amor que lhes foi dado por suas mães para produzir mais beleza e, quem sabe, assim, construir pontes para alcançar o que Jesus tanto pediu: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E, para você, meu amigo, mestre e doutor do conhecimento científico, conselheiro em muitos momentos difíceis e de solidão neste lugar tão longe de casa, de minha mãe, dos meus amigos preciosos, apenas desejo saúde, sucesso e muita sorte por aí afora. Amem muito e permitam ser amados enquanto é possível, quando ainda estamos vivos. Saudações eternas!

EDILEUSA REGINA PENA DA SILVA é mulher, filha, irmã e amiga. Nas horas vagas é professora e jornalista. Mas, sobretudo, é temente ao amor divino, que nunca cessa.

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