Salvo raríssimas exceções, será sempre bom ouvir de alguém essa frase, porque traduz um dos sentimentos mais belos e nobres que pode unir duas pessoas.
Tem gente que não encontra jeito de dizer, outros acham que a frase é um pouco artificial, que seria melhor dizer um "eu gosto muito de você" ou, dentre as infinitas possibilidades de se confessar apaixonado por alguém, evitar sempre o ar de coisa escrita que essa frase pode aparentar.
Mas um professor de gramática principalmente se estiver avaliando do que um estudante escreveu, torcerá o nariz e dirá que seu a norma culta, que não se respeitou o que recomendam as regras de uniformidades de tratamento.
Em língua portuguesa dispomos de duas formas de tratamento quando nos dirigimos a alguém: a segunda ou a terceira pessoa. E, na escrita ou na fala formal, se nos decidirmos por uma delas, em toda a extensão do texto ou da conversa deveremos permanecer fieis a ela.
Veja, por exemplo, a oração do Pai Nosso, tal como aparece nas edições mais tradicionais, sempre em segunda pessoa do plural (vós), como em todos os textos da Bíblia: Pai Nosso que estais (vós) no céu, santificado seja vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade...O pão nosso de cada dia dai-nos (vós) hoje, perdoai as nossas ofensas ... e não nos deixei cair em tentação mas livrai-nos do mal.
Há algum tempo, um dos vestibulares mais tradicionais do país solicitou aos vestibulandos que vertessem para a terceira pessoa do singular essa singela (e belíssima) oração.
Que dominava o assunto deve ter andado por um texto assim: Pai Nosso que está (você ou o senhor) no céu, santificado seja o seu nome, venha a nós o seu reino, seja feita a sua vontade...O pão nosso de cada dia nos de hoje, perdoe nossas ofensas...e não nos deixe cair em tentação.
A gramática entretanto, pode reservar aos menos doutos ou aos distraídos certas surpresas nem sempre agradáveis. Pronome de tratamento, isto é, palavras com que, principalmente chamamos a atenção de alguém para o que vamos dizer, exige sempre a forma de tratamento em terceira pessoa, ainda que começado esse pronome com a enganosa forma "vosso" ou "vossa".
Assim, ao se dirigir a alguém, o Emissor deverá usar verbos e pronomes possessivos sempre em terceira pessoa. Veja: Espero que Vossa Senhoria atenda (você) o meu pedido e dê o seu parecer favorável a minha solicitação.
No Brasil, o uso do tratamento em segunda pessoa, mas do singular sobreviveu apenas na faixa litorânea do país, onde mais se fixaram os portugueses, povo que adora usar um "tu" e essas formas a ele relacionadas em qualquer situação. Mas lá a eles fazem isso corretamente
Aqui a sobrevivência é apenas do pronome, razão por que ouvimos muito, particularmente no sul do país, sonoros "tu sabe", "tu vai" ou "tu quer"? Em tempo. Também não gosto muito do "eu a amo". Nessas horas, esqueço a gramatica e penso que até um "eu te gosto" vais soar melhor.
Fonte: Audamir Rodrigues Castro, professor especialista em linguística, escreve aos domingos /Jornal Bom Dia Rio Preto
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