Que as mulheres vem conquistando de forma acelerada seu espaço no mundo do motociclismo de viagem, não é mais novidade.
Atualmente, aproximadamente 20% da venda das motos no brasil são feitas para elas.
Muitas deixam as garupas dos seus companheiros para pilotarem e escolhem suas motos, das mais variadas, desde os modelos custom, passando por nakeds, esportivas e big trails.
A Valéria Capodaglio (45), foto ao lado, formada em Desenho Industrial e atualmente proprietária de uma loja franqueada, focada em alimentos naturais e saudáveis, é um bom exemplo de mulher que além de pilotar, viaja sobre duas rodas e começou a fazê-lo recentemente. Confira a entrevista que fizemos com ela. Como começou sua paixão por motos?
Sou apaixonada por moto desde os 4 anos de idade. Meus primos moram no interior de SP e eu costumava passar férias na casa deles. Era levada por eles para passear de moto, até que um dia levei uma bronca! Na garupa eu relaxava tanto, que dormia durante o passeio, mas nunca cai!
Quando fiz 18 anos, um mês depois de tirar a CNH (carteira nacional de habilitação), quis fazer o exame para moto também, mesmo sem ter uma. Mas só em 2011, comprei uma Burgman 125. Sem prática, mas com muita vontade, comecei a me locomover por SP com ela. Em pouco tempo, ela se transformou em uma 'bicicletinha'. Perdi o interesse pela scooter e resolvi comprar "uma moto de verdade". Mas isso ocorreu somente em 2014, quando adquiri uma Harley-Davidson Iron amarela!!
Nas duas primeiras semanas até chorei de raiva, pois, deixava a moto tombar do nada. Simplesmente não sabia ficar em cima dela. Levei um tombo numa rotatória, outro numa freada na estrada... até que fiz um curso de pilotagem, onde era a única mulher na turma.
Aprendi sobre equilíbrio, manobras, postura e condução da moto. Fui pegando confiança a cada passeio com ela.
Sendo mulher, já passou por alguma situação diferente em seus passeios?
Uso a moto no dia a dia, pois, tenho o privilégio de morar em uma cidade calma (Valinhos/SP). Dois meses depois que fiz o curso de pilotagem, realizei meu primeiro passeio de Valinhos até Cananeia. Já fiz também alguns passeios curtos no interior paulista. Sou iniciante mesmo, até pilotar com chuva para mim foi uma experiência recente.
Uma vez, num passeio com um amigo, paramos num restaurante para almoçar e o dono do local ao ver que pilotava a minha Harley Iron amarela com guidão "seca suvaco", ficou encantado! Disse que é raro uma mulher pilotar desse jeito!
Todos os homens que conheço no motociclismo, sempre são muito educados. Percebo que eles admiram esta situação. Uma mulher e sua moto. Fazem perguntas, alguns contam que já tiveram uma 'moto igual', outros perguntam o preço da moto. Nunca tive problemas por ser mulher e pilotar.
Por que resolveu mudar de estilo de moto, trocando uma Harley-Davidson Sportster 883 por uma BMW G 650 GS?
A harley é uma moto 'estradeira' e o meu estilo, percebi, é misto. Gosto de pilotar na estrada, mas, quando vejo fotos tiradas em situação off-road, me vejo ali!!! Passando por terrenos estreitos, pilotando através de grandes poças, avistando uma paisagem bem em cima de um morro... eu gosto de natureza! Os carros, caminhões e estradas não bastam. Tenho saudade da Sportster, do peso da moto, do barulho do escape dela, mas ela não ia me levar com segurança para onde quero passar.
Está curtindo a nova moto? Comente sobre algumas diferenças que vem sentindo na pilotagem.
A GS 650 é uma delícia. Macia, ágil, mais leve e muito mais fácil de conduzir. Em curvas por exemplo, basta uma leve inclinada no corpo que a moto responde fácil. É uma moto mais equipada do que a Sportster: tem abs, bolha de proteção, suspensão com ajuste de maciez e aquecimento nas manoplas.
Para mim as principais diferenças entre elas, são:
Altura da moto: a GS é uma moto alta para mim. Tive que mandar rebaixar o banco da moto para sentir mais segurança em manobras de estacionamento, principalmente quando preciso dar aquela puxadinha pra trás na moto, para ficar bem estacionada.
Posição de pilotagem: na GS eu fico sentada com os joelhos dobrados. Na HD Sportster com comando avançado, meus pés ficavam lá na frente com os joelhos esticados.
Outra diferença grande é que a GS tem o painel fixo durante o esterço. Já na Sportster eu visualizava para onde a roda da moto estava indo enquanto manobrava a moto. Mas nos acostumamos com isso.
Não olho mais pra roda da moto. Olho para frente, para onde quero estacionar e assim me sinto mais a vontade nela.
Em outubro/15 você irá realizar um tour desde Lisboa rumo a Marrocos. Quais os motivos a levaram a decidir participar dessa viagem?
Sou aventureira, gosto de pilotar, fazer amizades e viajar. Quero poder aproveitar grandes oportunidades que a vida nos oferece. Me questionei bastante sobre essa viagem. Outro continente, outro povo, costumes... mas após ter visto tantas fotos lindas sempre compostas por natureza e moto, informa"cões e tal aqui no RockRiders.com.br, decidi pesquisar sobre a possibilidade de realizar a viagem, através da agência SaharaMotoTours.com, onde conversei bastante com o Mário Santos, o proprietário e experiente guia da viagem.
Após algumas mensagens recheadas de informações sobre a viagem, relatos de viajantes e tal, decidi e vou fazer essa viagem!
Em breve, estarei inserida em fotos ao Sul de Portugal, passando por fronteiras, nas montanhas do Atlas, nas Gorges, na cidade de Chefchaouen, Fez, Marrakech, entre outros locais!!
Quando penso na viagem, me transporto para as fotos que sempre vejo. Estou aprendendo sobre os locais por onde iremos passar, gosto de me informar e pesquisar antes. Estou também me preparando fisicamente para a viagem, fazendo exercícios de musculação, alongamento e condicionamento.
Quais os conselhos você daria aquelas mulheres que hoje andam na garupa mas que gostariam de também pilotar?
Se você quer pilotar, vá em direção ao seu desejo. Não se sinta limitada. Pesquise, leia, descubra seu estilo de moto e prepare-se. Aconselho também a fazer um curso de pilotagem.
Na Internet temos bastante informações sobre tudo. No meio motociclístico o pessoal também compartilha dicas e ajuda os novatos.
Cada passeio, cada curva, cada viagem, abre um leque imenso de paisagens, oportunidades de superação e de evolução.
Fonte: Entrevista com a Valéria Capodaglio por Policarpo - RockRiders.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário