sábado, 29 de agosto de 2015

DEUS NOS FALA

Evangelho de S. João 6, 60-69

“Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir? Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: Isso vos escandaliza? Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele estava antes?... O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida. Mas há alguns entre vós que não crêem... Ele prosseguiu: Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido. Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele. Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus!”

Seguir a Jesus significa dizer se deixar questionar por ele. Não podemos, de jeito nenhum, para testemunhar a nossa vocação cristã, simplesmente falar dele, aplaudi-lo e reconhecê-lo prodigioso. A nossa verdadeira vocação em seguir a Jesus é caracterizada em se deixar questionar por ele, para viver seriamente a sua proposta de vida. Como Jesus se encarnou na nossa história, assim também nós temos que se encarnar nele. Realmente, a gente se pergunta, como pode acontecer isso? Falar dele não é tão difícil assim, mas se tornar a vida dele nossa vida, isto é mais complicado. Portanto, até quanto é possível? O evangelista João nos diz que, sem a luz do Espírito Santo, torna-se difícil acontecer. Continua o evangelista, perante as palavras do Mestre Jesus sobre “comer a minha carne e beber o meu sangue”, muitos murmuravam, como o povo no deserto quando saiu do Egito, e por isso o deixaram de segui-lo. Ficou com os poucos discípulos. E o Mestre Nazareno acrescenta: “é o Espírito que dá vida, a carne não serve a nada”. Isto é, para compreender Jesus, precisamos nos deixar atrair por Deus. É ele que dá a vida e luz. Porém, também os discípulos duvidaram da presença de Jesus em partilhar o pão; que ele é o alimento da vida. Sem a sua partilha, não temos como alcançar a verdadeira libertação. 

Aqui temos o significado da eucaristia. Comer o pão sem depois se fazer pão para os outros, isto se torna inútil. Se o amor recebido na eucaristia não for partilhado, não serve para nada. Como é grande o nosso Deus! Aquilo que, aparentemente, é uma falência aos nossos olhos, no entanto, para Deus é uma vitória. A acolhida desse pão para se tornar pão para os outros gera na própria vida uma potência criadora de esperança que supera qualquer tipo de obstáculo. Jesus não tem medo de perder também os poucos discípulos que ficaram, porque ele quis ser fiel a Deus Pai, no seu projeto de redenção. Tanto é verdade que provoca os discípulos de maneira categórica: “vocês querem ir embora também?” Eles seguiam Jesus pelas próprias necessidades e não compreenderam que para segui-lo precisavam fazer que a própria vida fosse destinada ao bem e às necessidades dos outros, sobretudo para quem mais sofre. Pedro, perante o desafio do Mestre, faz a famosa e bela confissão: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”. Pedro, sem compreender tudo, aceita e crê em Jesus Filho de Deus. Professa a sua fé no pão partilhado e na sua Palavra, porque é daí que tira a verdadeira fome e sede do povo. Finalizando, pergunto: até que ponto você sabe desafiar qualquer situação da vida cotidiana para manter a opção do Mestre Jesus? Tem medo de segui-lo? Pedro nos deu uma aula a respeito como acreditar nele, embora com todas as limitações humanas.

Fonte: Claudio Pghin-  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia .

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