Evangelho de Lucas, 1, 39–56
A visita de Maria à sua prima Isabel, segundo o relato do evangelista Lucas, mostra, para as comunidades espalhadas pelo Império Romano, um exemplo de acolhimento da Palavra de Deus. Ao saber aceitar e praticar a Palavra de Deus, Maria se torna um modelo para as comunidades cristãs. Ela escutou e logo se deixou envolver: foi encontrar-se com a prima, que precisava de auxilio. “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judéia.”
Esta sua prontidão, sem mais nem menos, chama muito a minha atenção. Veja bem, para entender melhor, mais de 100 quilômetros separam Nazaré das montanhas de Judeia, e o percurso era feito sem os veículos que desfrutamos hoje em dia.
A disponibilidade de Maria em ir ajudar quem estava necessitando era totalmente despojada de qualquer interesse pessoal. Quantas vezes, entre nós, temos dificuldade de ajudar porque temos medo de deixar algo de nós, ou somos demais preocupados com os próprios interesses pessoais! Dedicação recíproca e realização estão na base da comunicação dialógica entre Maria e Isabel. É um encontro que revelou, através da linguagem gestual e verbal, aquilo que o próprio coração estava sentindo, mostrando, assim, toda a infinita gratidão para o Deus da vida. É a prova de que a mensagem de Deus realmente chegou aos seus destinatários.
Maria percebe que Isabel a entendeu e não estranhou o segredo Dela, que não ousou contar para ninguém. Aliás, sente-se humanamente acolhida, estimada e apreciada: “Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” O carinho deste encontro é a imagem de um comunicar humano e satisfatório. Com o hino do Magnificat, Maria, quer louvar a Deus pela sua ação na história. “Minha alma proclama a grandeza do Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu salvador.”
O louvor é um pilar fundamental da praxe comunicativa. Não se pode comunicar na tristeza, de cara fechada, fechando o próprio mundo em quatro paredes. Vejamos rapidamente a nossa comunicação na nossa vida eclesial: é alegre, triste, feliz ou chora toda hora?
O Magnificat é uma demonstração dos diversos caminhos tortuosos ou difíceis que a comunicação pode encontrar, e também do aspecto positivo dela na história: “entre as gerações”. “Os que tinham os corações cheios de pensamentos orgulhosos...” que não são capazes de comunicar, são dispersos; no entanto, “aqueles que temem a Deus e são humildes” sabem comunicar de geração em geração: “no coração do homem Lc. 1,52; no âmbito político e social Lc. 1, 51-53 ; no povo da promessa Lc. 1, 54-55.”
Por isso, Maria, que tem uma intimidade com Deus, olha para todos os lados para descobrir, sobretudo, as coisas ou fatos, talvez, menos significantes para sociedade, mas reveladores de grande sabedoria no plano de Deus. Esses são
os comunicadores da Boa Nova, que focalizam as alternativas que a mídia não têm capacidade de enxergar.
Creio que precisamos fazer do canto do Magnificat o canto da vida da gente: a acolhida da comunicação divina por parte de Maria é fundamento da capacidade do nosso comunicar na história e, também, a antecipação da comunicação na outra vida que nos espera, isto é, a do paraíso.
“Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.”
Concluindo lhe pergunto: a sua comunicação é concentrada somente nas suas capacidades humanas, sociais ou é aberta também à divina?
Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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