Nesse artigo, Fran Christy avalia os benefícios e malefícios da ponderação em contraste com a ação rápida. Onde está o equilíbrio entre agir impulsivamente e hesitar, pensando demais antes de tomar decisões?
Muito ouvimos sobre ponderação e não sermos impulsivos, o que pode nos levar a acreditar que toda ação rápida é negativa. A impulsividade, contudo, é uma consequência da ansiedade e da precipitação. Nem toda ação rápida pode ser classificada como impulsiva. A ponderação, na realidade, tem apenas o papel de nos dar oportunidade para refletir o suficiente sobre a situação a fim de não tomar uma decisão errada. A maioria das pessoas, contudo, pondera muito mais do que o necessário, o que na verdade tem outro nome: postergação. Postergar a tomada de decisão não é ponderar! Evitar escolher porque você não está conseguindo decidir sobre qual o caminho ideal a seguir não é a mesma coisa do que ponderar no intervalo entre uma ideia e um impulso de ação.
De uma forma generalizada, agir é sempre preferível a esperar. É claro que não podemos extrapolar essa afirmação para tudo quanto é situação, mas estamos falando aqui de “ideias” sobre coisas a fazer, decisões sobre mudanças em nossas vidas e atitudes que precisamos tomar. A ponderação deve ter seu tempo e espaço, mas na maioria das situações, nunca mais do que alguns dias. No espaço de alguns poucos dias já é possível refletir o suficiente sobre a situação e concluir se a ação é para você ou não. Estender esse intervalo de tempo sem uma razão bem definida e justificada apenas revela hesitação e insegurança e não “sabedoria” ao supostamente evitar a impulsividade.
É claro que há possíveis decisões cujas consequências podem ser drásticas como pedir demissão ou comprar um imóvel. Contudo, o processo de reflexão em si não precisa durar anos, ou mesmo meses. Não é preciso mais do que alguns dias de reflexão para que você saiba se é sua intenção é pedir demissão mesmo ou não. O mesmo é válido para outras escolhas. Você pode demorar para tomar uma atitude e finalmente agir, mas a decisão em si já está tomada.
Agora, existe motivo para a hesitação? Se há medo, de onde ele vem? Pense: se você fosse uma pessoa extremamente autoconfiante, você hesitaria frente a mesma decisão? Muitas vezes, o problema não são as reais consequências, mas a insegurança gerada pelo medo delas. Se esse é o problema, que bem fará o tempo nesse caso? (ou seja, que bem fará esperar e não agir agora?).
Há um certo conforto na expectativa de tempo. Acreditamos que o tempo nos oferece oportunidade de nos escondermos de nós mesmos, como se esperar fosse uma forma de nos proteger da velocidade da vida. Mas é claro que isso é apenas uma ilusão e nós sabemos disso, mesmo assim, não abrimos mão da confortável hesitação.
Há algumas técnicas que podemos usar para avaliar se esperar é mesmo a melhor das opções. Uma delas é refletir se a espera resultará em algum benefício visível e mensurável. Ser paciente às vezes é o próprio segredo, então em algumas situações, esperar é a solução. Quando nada bom virá da espera e o problema todo é o medo das consequências da ação, é preciso lidar com essa insegurança ao invés de achar justificativas lógicas para continuar esperando.
Na maioria das questões de emprego, esperar é geralmente a pior das opções. Numa situação em que a pessoa está insatisfeita com o emprego atual, não tem possibilidade (nem vontade) de crescer naquele ramo ou empresa e não haverá mudança alguma resultante da espera, hesitar não tem justificativa. As pessoas hesitam nessa situação mais por medo de não conseguir outro emprego do que pela esperança que o atual venha a melhorar.
O problema é que a vida passa e todo esse tempo desperdiçado com hesitações não pode ser recuperado. Essa perda é muito pior do que uma eventual consequência negativa – e geralmente passageira – resultante de uma decisão rápida.
Há uma linha de pensamento a qual simpatizo muito, e que deu origem à minha
teoria carpe diem original, que defende a noção de que nós nos alinhamos com aquilo que aceitamos em nossas vidas. Os adeptos da lei da atração também dizem a mesma coisa. Pessoas que vivem no que chamo de “fluxo de serendipidade” ou simplesmente fluxo, agem de acordo com seus instintos, o que popularmente chamamos de “seguir o coração”. De vez em quando as coisas dão errado para essas pessoas, mas no geral, a vida vai muito bem, as coisas simplesmente acontecem, “do nada”, elas quase sempre estão no lugar certo, na hora certa. Elas próprias não sabem explicar o que fazem para se dar bem na vida, mas elas costumam ser muito bem sucedidas. Meu pai é uma dessas pessoas e convivendo com ele minha vida inteira eu pude observar certos traços de personalidade que “batem” com outras pessoas que também parecem viver em “fluxo”. Uma dessas características é extrema autoconfiança, essas pessoas não hesitam por medo, jamais, elas simplesmente vão e fazem. Não pedem permissão, nem dão satisfação. Se não deu certo, que seja… Não há ansiedade, não há medo, não há arrependimento. Elas simplesmente seguem seus instintos e agem rápido, pois como elas não sentem ansiedade ou medo, elas não hesitam. O resultado é uma “abertura” da vida para elas. As outras pessoas se sentem atraídas por elas, lhes dão oportunidades, querem fazer negócios com elas, querem fazer parte de suas vidas.
A ansiedade e o medo que alimenta a hesitação coloca bloqueios em sua energia e sem que possamos explicar, todos à sua volta percebem isso. A vida não “flui” para você, tudo é empacado, difícil. A solução não é algo que eu possa explicar em um simples parágrafo em um artigo, mas passa pelo trabalho nessa insegurança, pois é isso que está bloqueando a energia da vida em você.
Uma mudança de paradigmas que deve ocorrer para que o nível dessa insegurança diminua é parar de colocar pressão e importância em cima de cada aspecto da vida, como se uma consequência fosse final.
Enquanto a pessoa que vive em fluxo diz “e daí se não der certo?!”, a pessoa insegurança trava “mas e se não der certo, meu Deus?!” Você percebe a diferença em perspectiva? A pessoa insegura faz uma tempestade em copo d’água com todas as possibilidades e é justamente a falta de preocupação que liberta a outra.
Acredito que o segredo para superar esse tipo de insegurança seja o mesmo para superar outros tipos de medo como o medo de falar em público. O segredo é simplesmente se expor e passar pelo maior número de experiências possível, até você perceber, como a outra já percebe, que se não der certo, não é lá grandes coisas, você vai e faz de novo, muda, faz outra coisa, enfim, continua sua vida.
A impulsividade, sim, deve ser evitada. Devemos evitar agir sem pensar. Mas ao mesmo tempo, devemos nos acostumar a não pensar muito, apenas o necessário, mantendo o foco na racionalidade (e não no medo, nos “e ses”) e tomando decisões com frequência gerando um grande volume de ações que nos dão experiência, conhecimento e sabedoria.
Um outro aspecto a favor de agir ao invés de esperar é que sabemos muito pouco sobre o caminho que se desenrolará a partir da ação até começarmos a percorrê-lo. Pensar e refletir não nos dá perspectiva sobre o que não sabemos e a única forma de obter mais informações sobre como é e como será uma determinada opção é envolver-se com ela. Não é possível obter total clareza de cima de nosso pedestal enquanto estamos seguros e protegidos do “perigo” da realidade olhando tudo à distância e muitas vezes, sem essa clareza, nós nem sequer podemos tomar uma decisão certeira. A perda de tempo ao hesitar e evitar decidir é imensurável, especialmente quando no final das contas, depois de muito tempo ponderando e pensando, nós tomamos uma atitude, só para descobrir que não era o que queríamos e daí então, nós desistimos, mudamos de ideia. Não seria muito melhor ter chegado a essa conclusão o mais rápido possível? Me diga o que você pensa na seção de comentários abaixo!
Fonte: Fran Chisty - Excellence Studio