Levantamento feito por especialista aponta falhas na legislação brasileira e na gestão de risco de museus: 'tragédia anunciada'
Após mais de 6h, bombeiros controlam incêndio no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio, nesta segunda-feira. Mais antigo do país, museu tem 20 milhões de itens e apresentava problemas de manutenção - 03/09/2018 (Thiago Ribeiro/AGIF/Folhapress)
As imagens que tomaram o Brasil nesta segunda-feira (3) do Museu Nacional do Rio de Janeiro consumido pelas chamas, infelizmente, não são uma exceção. Incêndios são os grandes vilões do patrimônio cultural brasileiro, como aponta José Luiz Pedersoli Júnior, especialista em gestão de risco do Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração do Patrimônio Cultural (ICCROM), na Itália.
“O Museu Nacional é o triste caso da tragédia anunciada”, diz. “Os incêndios são um grande fator de risco para museus, não só no Brasil, mas em todo o mundo, pela combinação de fatores como grande quantidade de materiais orgânicos inflamáveis e prédios históricos antigos, com falta de estrutura e de manutenção. Além da legislação inadequada, gestores com curto período de mandato e descaso com a cultura. A soma final resulta em desastres incalculáveis como este.”
Segundo levantamento apresentado por Perdersoli em suas palestras, pelo menos uma instituição cultural brasileira é destruída pelo fogo anualmente. Analisando a década atual, em 2010, foi a vez do Instituto Butantan, tragédia científica que destruiu 70.000 espécies de cobras conservadas no local. Em 2011, o fogo consumiu a Capela São Pedro Alcântara, outro prédio tombado sob administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mesma responsável pelo Museu Nacional. Nos anos seguintes, estão listados os incêndios no Arquivo Público do Estado de São Paulo (2012), Memorial da América Latina (2013), Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios (2014), Museu da Língua Portuguesa (2015), Cinemateca (2016) e a casa Erbo Stenzel, residência histórica do escultor paranaense, em Curitiba (2017). Sem falar do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1978, que perdeu mais de 1.000 obras de arte, entre elas telas de Pablo Picasso e Salvador Dalí, em um prejuízo estimado em 60 milhões de reais.
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