quarta-feira, 24 de agosto de 2016

DEUS NOS FALA

Evangelho de Lucas, 1, 39–56

“Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas! E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre. Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.”

A visita de Maria à sua prima Isabel, segundo o relato do evangelista Lucas, mostra, para as comunidades espalhadas pelo Império Romano, um exemplo de acolhimento da Palavra de Deus. Ao saber aceitar e praticar a Palavra de Deus, Maria se torna um modelo para as comunidades cristãs. Ela escutou e logo se deixou envolver: foi encontrar-se com a prima, que precisava de auxilio. Esta sua prontidão, sem mais nem menos, chama muito a minha atenção. Veja bem, para entender melhor, mais de 100 quilômetros separam Nazaré das montanhas de Judeia, e o percurso era feito sem os veículos que desfrutamos hoje em dia.

A disponibilidade de Maria em ir ajudar quem estava necessitando era totalmente despojada de qualquer interesse pessoal. Quantas vezes, entre nós, temos dificuldade de ajudar porque temos medo de deixar algo de nós, ou somos demais preocupados com os próprios interesses pessoais! Dedicação recíproca e realização estão na base da comunicação dialógica entre Maria e Isabel. É um encontro que revelou, através da linguagem gestual e verbal, aquilo que o próprio coração estava sentindo, mostrando, assim, toda a infinita gratidão para o Deus da vida. É a prova de que a mensagem de Deus realmente chegou aos seus destinatários.

Maria percebe que Isabel a entendeu e não estranhou o segredo Dela, que não ousou contar para ninguém. Aliás, sente-se humanamente acolhida, estimada e apreciada. O carinho deste encontro é a imagem de um comunicar humano e satisfatório. Com o hino do Magnificat, Maria, quer louvar a Deus pela sua ação na história. O louvor é um pilar fundamental da praxe comunicativa. Não se pode comunicar na tristeza, de cara fechada, fechando o próprio mundo em quatro paredes. Vejamos rapidamente a nossa comunicação na nossa vida eclesial: é alegre, triste, feliz ou chora toda hora?

O Magnificat é uma demonstração dos diversos caminhos tortuosos ou difíceis que a comunicação pode encontrar, e também do aspecto positivo dela na história: “entre as gerações”. “Os que tinham os corações cheios de pensamentos orgulhosos...” que não são capazes de comunicar, são dispersos; no entanto, “aqueles que temem a Deus e são humildes” sabem comunicar de geração em geração.
Por isso, Maria, que tem uma intimidade com Deus, olha para todos os lados para descobrir, sobretudo, as coisas ou fatos, talvez, menos significantes para sociedade, mas reveladores de grande sabedoria no plano de Deus. Esses são os comunicadores da Boa Nova, que focalizam as alternativas que a midia não têm capacidade de enxergar.

Creio que precisamos fazer do canto do Magnificat o canto da vida da gente: a acolhida da comunicação divina por parte de Maria é fundamento da capacidade do nosso comunicar na história e, também, a antecipação da comunicação na outra vida que nos espera, isto é, a do paraíso. Concluindo lhe pergunto: a sua comunicação é concentrada somente nas suas capacidades humanas, sociais ou é aberta também à divina?


Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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