terça-feira, 4 de abril de 2017

1001 razões para NÃO ter Facebook!



 


Liberdade!
Quase seis meses fora da rede, sem histórias, sem piadas edesinformações. Seis meses longe dos meus grandes amigos do peito, aqueles mais de quatro mil que conquistei com muito suor, e mantive com lealdade, ao longo dos três anos de uso da rede. Aqueles amigos que nunca antes vi na vida, mas que no entanto escreviam-me de forma pessoal e elogiavam minha beleza, como se me conhecessem há décadas. Ainda penso naqueles elogios profundos que o povo do FB se acostumou com tanta perspicácia e sinceridade em fazer: “lindaaaaaaa”, “maravilhosaaaaa” “princesaaaa” (O excesso de aasss deve ser porque o indivíduo está berrando, e através do efeito sonoro que causa ao aumentar qualquer palavra, consegue um adjetivo mais intenso).

Acreditem ou não, mas embora o dolo por ter perdido o contato com essa gente, nem sinto falta daquelas fotos da Cleide tiradas na frente do espelho; ou aquelas de peitos apertados pelos próprios braços nas fotos da Susi; na boca de pato nas imagens que Malu postava antes de dormir quando se sentia bonita, estava com tedio, sem sono ou simplesmente sem coisa melhor para fazer. Nem sinto falta daquela enxurrada de fotos que Mariana postava sobre sua filha bebê comendo a primeira papinha - com aqueles babadores que dizem: 

Sou da mamãe” ou “Sou do Corinthians”... 

As mensagens de “luz” de Maria, tratando todos seus amigos da rede por anjo e suas amigas por flor. Nem tenho saudades das piadas homofóbicas do João, sempre exaltando seu pinto hetero como herói dessa sociedade pervertida – tendo ele o bilau politicamente correto da nação. Nem senti falta da agressividade nos posts sobre política de Gustavo: o único capaz de reconhecer e apontar os erros no atual cenário. Sua ciência baseava-se, basicamente, em gritar: 

Cambada de fdp! É por isso que o país está na merda, por causa de sacanas como vocês! Vão se foder malditos ladrões...”. 

Sim, ele sabia mesmo como escrever e tinha uma oratória muito sábia. Tampouco sinto falta das fotos de carros importados que o Gui adorava postar, ou menos ainda, das mulheres peladas e tatuadas do Renato. 

Acreditem ou não, mas não tenho saudades das indiretas da Irene – aquelas minadas de supostas certezas de que ela é uma mulher correta, honesta, coerente e sadia, enquanto o “indiretado” não presta para nada, é malvado, não tem coração... A Irene também era a mulher que usava palavras difíceis em suas indiretas com a intenção de doutrinar o público (seus amigos virtuais), explicando o significado de algumas palavras entre parênteses, sempre lúdica e informativa, focada na missão de deixar os burros menos burros. Que inteligente era com todas aquelas palavras de dicionário e mesóclises que inventava... (A culpa da mesóclise mal empregada não era dela, afinal, quem de nós, para escrever bonito, não as coloca em lugares errados apenas para soar mais imponente? Se está certo ou errado é outro esquema...).
Talvez sinta falta da Edileia que quebrava o maior pau quando um ateu infeliz discordava de seus posts de adoração a Deus. Por falar no filho de Deus, lembrei-me do Ronaldo, que mantinha firme sua missão de converter, evangelizar, e doutrinar seus amigos via on-line. 


Quantos posts de rezas, provérbios, mensagens de luz, discussões religiosas, xingamentos de política, indiretas de Cleide para Mileide, poesias, fotos de bebês babando, de cachorros cagando, frases de Gina, piadas de Charlie Sheen... devo ter perdido desde que exclui meu perfil no FB? Às vezes penso nisso com nostalgia... Dói-me o coração! Que maravilhoso era ver aquela gente (mais de quatro mil amigos que tinha por lá) compartilhando cada minuto de felicidade, cada pum, cada momento de fome, quando comiam, ou o que comiam, quando acordavam..., em momentos que até então (antes do advento FB) eram íntimos, secretos, resguardados na privacidade.
A palavra de ouro dos usuários do FB é MOSTRAR, o que se tem e o que não, o que somos, e principalmente, o que não seremos NUNCA. Enquanto uns tentam mostrar que são normais, outros tentam desesperadamente mostrar que são loucos, descolados, capas de revistas em fotos montadas, modelos que não foram descobertos, artistas, poetas, pessoas sensíveis, inteligentes. São pessoas que vestem a camisa do contra, do favor, dos elogios, dos insultos, da guerra, da paz, de movimentos babacas, de palavras cheias de artifícios, de diretas, de indiretas, da balada, do familiar, dos solteiros, dos traidores... 
Importante não é SER, mas PARECER, já dizia um filósofo. 
Só falta o nariz vermelho e uma placa que diga: Comprem suas fichas e apostem todas em mim; em meu caráter maravilhoso e em minha felicidade estonteante (a felicidade que demonstro ter, e inclusive, dos meus segredos de ser assim... tão EU! Tão Demais!!). Morram de inveja de minhas fotos, de meus posts, de minha alegria, do meu uísque, das minhas drogas, do meu pensamento único, dos meus cabelos e pele macios, daquilo que sou e vocês nunca, ainda que queiram, serão!

Era realmente o must toda essa interação, mas ainda não sinto saudades da atmosfera intelectual e informativa do FB; tampouco sinto culpa de poder ler um livro no lugar de ficar com a carota enfiada na rede, lendo a opinião de Berenice sobre a falsidade de seus amigos, marcando encontros futuros (ou discorrendo sobre passados) em rede pública nacional. Aliás, se pudesse utilizar o tempo que disponibilizei ao longo desses três anos na rede, teria não somente lido oitenta livros, como escrito pelo menos dois mais.
Oh, Berenice disse que:
“Galera, estarei no pagodão do Crioulo doido sábado à noite, arrasando quarteirões”! 
Ok. Mas... E eu Keko, Bere? Para você e suas festas, ainda que destrua o bairro inteiro, ou a cidade, o Estado, o país...

Chamou-me a atenção que depois de anos como usuários da rede, as pessoas ainda não aprenderam para que serve a mensagem privada, ou vai ver é essa necessidade de mostrar ao mundo que suas vidas sociais fora da rede existem e são extremamente movimentadas, que não as deixam serem discretas e comportadas.
Falando em falta de discrição, percebendo essa necessidade das pessoas de mostrarem ao mundo onde estão, o que gostam e desgostam, fazem e comem, o FB passou a revelar ao outro quando a mensagem enviada por ele foi visualizada, quando estamos on-line ou não, quantas horas estamos ativos, desde quando não estamos... Bem, por isso Mariana me cobrava com uma faca no pescoço três segundos depois de ter me conectado: “Geyme, me responde! Eu sei que você está aííí!!” (olha o que o Fb faz: Transforma cidadãos comuns em verdadeiros Sherlock Holmes no aporrinhamento rastreamento de outras pessoas!).
Gentem, para tudo!! Se não bastasse o FB ter focado todas as pontes de comunicação em uma só, agora ainda podemos fazer ligações de grátizzzz! – Vai ver é por isso que ficamos abobalhados, alienados, bitolas da cabeça.

Tem gente que aprendeu a dizer "Eu te amo" somente depois de entrar no FB, via on line, de forma escrita, em mensagem pública, para que todos vejam e saibam o tamanho de seu amor. Não é meio assustador isso? Sei lá, nessa rede todo mundo ama todo mundo... Deve ser contaminação do Pastor Feliciano que ama, eloquentemente, todos seus irmãos. Não é aterrorizante perceber que o FB vicia, e que muitos vincularam a própria felicidade e razão de viver a essa rede, e que se amanhã tudo isso acabar, a felicidade de tantas pessoas acabará também? Você não tem medo de se vincular a isso? Desperdiçar sua vida e alegria para mostrar aquilo que não é e que não tem?
Se alguém que nunca soube se expressar com palavras faladas, com gestos de carinho, que não conseguiu conquistar seu amor com um olhar; que nunca soube fazer amizades duradouras no decorrer da vida, que não conseguiu ser feliz antes, durante oreal, por que raios conseguiria agora, no virtual? MOSTRAR! Amo, sou amado, sou feliz! Gentem, a felicidade nunca foi tão importante quanto agora, depois de se descobrir que é possível exibi-la aos quatro ventos. 
Viver no FB é muito mais fácil, afinal, qualquer coisa é só teclar na tela excluir! Exclui-se o que foi dito, o que foi respondido, a foto que não agradou, aqueles tempos de cabelo pixaim e bóra para outra; vida nova, foto nova, atualizações novas e novas informações de perfil! Hoje somos um, amanhã outros! Ficamos novinhos em folha, adequando condutas para aquilo que esperam de nós, qualquer bobagem que agrade e gere um comentário, curtindo mais agora do que antes tranqueiras que nos interessam ainda menos. Papai, como quero ser conhecido!!!

Desde a popularização dos celulares inteligentes, as pessoas caminham olhando para baixo, metidas em seus aparelhos, trocando o momento real por uma Matrix, uma conversa por um comentário, o concreto pelo virtual, uma imagem por uma foto, por mais uma postagem; esperando serem curtidas, curtindo qualquer coisa que não interessa para, em troca, receberem um like a mais em suas próprias publicações, em troca de mais um seguidor que o compartilhe, sem tempo de ler qualquer coisa em papel, de visitar alguém ou fazer uma ligação cordial... Desesperadas e ofendidas quando suas fotos no Beto Carreiro não são curtidas pelos invejosos amigos. Cartas? Foi-se o tempo desse método tão antiquado! Deus me livre e guarde se tiver que comprar um selo!

Os mais adeptos e fãs incondicionais de redes virtuais vão me xingar, dizer que no século XXI é extremamente necessário ter um perfil no FB para sobreviver na selva (se um dia estiver perdida e precisar de resgate). Outros afirmarão que o FB é uma via para as pessoas demonstrarem suas felicidades através de fotos e fatos, e que tudo isso NÃO é desespero, solidão, carência... Não senhor! (Será?)...Façam suas apostas!

Quanto mais penso na utilidade do FB, MAIS ele me parece inútil.

Tem gente que se força a participar da rede por acreditar que é a melhor forma de divulgar seus trabalhos e tem gente que é forçada a participar para receber informações de seu grupo no colégio, na Universidade, da cidade onde morava... Como se interagir com esse povo (muitos, até então, mortos), fosse possível somente através dessa maravilhosa rede babaca. Meu Deuzz, como fazíamos tudo isso no passado, sem celular e FB?

Se de um lado um ganha muitooooo dinheiro, o outro perde muitoooo tempo e inspiração (mas cada um deve saber quanto seu tempo vale, não? Pelo que vejo, o pessoal vende seu tempo por fofocas, para receber um elogio, por um amigo virtual para amar agora e outro para xingar depois...). 


Uma rede que permite imagens de decapitação, de pessoas e animais mortos, de pedofilia e pornografia (claro, essas devidamente camufladas), que divulga suas informações pessoais a terceiros transformando-as em ferramentas publicitarias, que o atola de spans, convites de joguinhos e mensagens coletivas; de provocações e mensagens de autoajuda, que forma a sua opinião e a opinião do seu filho com as opiniões mais idiotas do mundo... pode mesmo ser assim, tão sensacional? Uma rede de infidelidades, que põe em risco as relações, que provoca a desconfiança entre casais, que estimula o assanhamento do seu marido a ficar colado na rede vendo fotos de mulheres muito mais gostosas do que você, que facilita o descontrole de pais sobre seus filhos menores... está mesmo ao seu favor?
E você ainda tem coragem de ser viciado nessa porcaria?

Se uma empresa farejou como ganhar dinheiro fácil e ficou milionária com o tempo que você disponibiliza nela postando sua vida (ou a vida que você gostaria que acreditassem que você tem), e você acredita que fazer parte disso continua sendo muito legal, e ainda veste a camisa com aquela frase que anuncia indiretamente que o FB lhe faz um favor ao não lhe cobrar: “FB é de graça e sempre será”, meu amigo... Vá em frente e seja feliz! Você é um alienado!

Nenhum dos meus quatro mil amigos que tinha na rede se disponibilizou em me emprestar dinheiro quando minha conta no banco estourou. Nenhum deles veio me visitar quando saí do hospital depois de operar o braço quebrado, nenhum deles abriu uma champanhe comigo quando comemorei algo importante, nenhum deles me emprestou um lenço quando ameacei chorar. Desses quatro mil “amigos”, nunca vi nem a sombra do ombro deles... 

Chame-os do que quiser, mas “Amigo”? Só se for da onça! Não quero nem de graça! Mas mesmo assim... Muito obrigada pela oferta e experimento, Zuckerberg! 

Auf wiedersehen PROVOCAÇÕES, INDIRETAS, INUTILIDADES DE TODO TIPO!
Charge de Vitor Teixeira

Fonte:Geyme.com

BLOG DO CHADDAD







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