sábado, 22 de abril de 2017

Resenha Política

MODUS OPERANDI – Embora haja em geral uma indignação nacional em torno das revelações feitas pelos delatores da construtora Norberto Odebrecht, em particular pelos detalhes chulos pela qual a propina rolou solta entre agentes públicos, os acordos feitos para que os empresários dedurassem os políticos são também compreendidos como uma contribuição à impunidade já que o modus operandi dessas empresas sempre foi superfaturar para ganhar aos borbotões e comprar quem oferecesse obstáculos. Muitos dos empresários delatores voltaram aos seus confortáveis imóveis para desfrutar do usufruto do que acumularam anos corrompendo: é o que denominamos “os meios justificam os fins”.

LOCUPLETAÇÃO - Acostumados a corromper políticos e servidores públicos onde quer que seja, essas empreiteiras (ou a maioria) utilizaram o mesmo método de propinagem brasileira a políticos no estrangeiro. A natureza empresarial é corromper para vencer qualquer concorrência e entregar a obra com aditivos vantajosos e invariavelmente criminosos. Prova é que os dois principais delatores da Odebrecht (Emílio e Marcelo), em ar de deboche, informaram que corromper era algo institucionalizado na empresa.

HIDRELÉTRICAS – Não provocou surpresas por estas bandas o envolvimento dos nomes de políticos locais (e do pessoal que perdeu os mandatos) com a lista da Odebrecht. Publicamente já especulavam esses nomes e foram amplamente divulgados por aí (basta reler várias matérias publicadas nos veículos de imprensa desde que surgiu a Lava Jato). O que surpreendeu foi a delação de que sindicalistas também chafurdaram no mesmo cocho da ilicitude dessas empresas para que garroteassem a fúria dos militantes insurretos que provocaram estragos nos canteiros de obras de Jirau e Santo Antônio. Apesar das evidências expostas, ainda é necessário aguardar as investigações conclusivas para que essas delações sejam confirmadas.

MENTIRA - Sindicalistas ouvidos pela coluna negaram as revelações e lembraram que nos dois canteiros das usinas houve vários conflitos. Num deles com depredação dos alojamentos e de vários ônibus queimados. Fatos fácil de constatação revendo matérias da época sobre o episódio. Contudo, verdade ou mentira, a investigação será esclarecedora.

MEIO AMBIENTE – As relações dos executivos das construtoras de Jirau e Santo Antônio com a maioria dos políticos rondonienses era conhecida por todos que frequentavam as rodadas socais e políticas. Quem verificar o material jornalístico publicado anos atrás quando as usinas começaram a ser construídas vai verificar que muitos discursos feitos em favor do meio ambiente e contra as obras mudavam de acordo com as circunstâncias. As usinas sempre foram criticadas pelos eventuais danos ambientais provocados na Capital, mas encontravam em parte da casta política bons aliados para sufocar quaisquer investigações. Chegaram a abrir uma CPI com resultados pífios. Alguém lembra? Portanto, nada é novo, exceto a confissão!  

DESDOBRAMENTOS – Há muita sujeira a ser revelada seja no campo político seja no campo empresarial. Os contratos das prestadoras de serviços nos canteiros das obras, por exemplo, também podem ser reveladores, pois muita gente que cantou alto por aí em passar o país a limpo pode esconder os reais motivos pelos quais foram agraciados com contratos vantajosos. Os desdobramentos das investigações são imprevisíveis. Quem viver verá!

INFERNO – “Impossível tapar o sol com a peneira”, diz o adágio. As gravações com as delações dos executivos da Odebrecht, revelando as relações nada republicanas com o ex-presidente Lula, são estarrecedoras e o desgaste é monumental. Nem tudo do que foi revelado caracteriza um ato criminoso do petista no que tange à individualização da conduta, mas as tratativas estabelecidas entre o maior líder popular do país com os donos do capital são tão devastadoras quanto aqueles que operaram toda esta esculhambação. A verve que sustenta a popularidade do ex-presidente queima na medida de cada nova revelação trazida à luz aparece nas TVs. Embora as editorias sejam claramente mais severas em suas manchetes com ele do que com os demais investigados.

OUTSIDERS – As eleições nacionais e estaduais de 2018 vão ser uma prova de fogo para todos os políticos dentro e fora da malfadada lista “odebrecht-ana”. O eleitor está possesso com todos, indistintamente, visto que os partidos em geral estão envolvidos nesse mar de lama. Tende a ser uma eleição atípica e diferente das demais, o que propicia um terreno fértil para os ‘outsiders’ com discursos negando a política. Não há sistema eleitoral perfeito nem candidato imune ao erro. No entanto, não existe saída senão via política. As labaredas que queimam nossos políticos são as mesmas que queimaram em tempos pretéritos as autoridades italianas. O que surgiu depois das cinzas de lá é tão ruim quanto o que ainda existe cá. Portanto, 'outsiders' não são solução em país nenhum.

APOSTA –  O quadro político eleitoral de Rondônia para 2018 começa a tomar feições, em particular as candidaturas de governador com as especulações em torno dos nomes colocados no âmbito das agremiações partidárias, a exemplo do PMDB com Maurão, PDT com Acir, PSDB com Mariana ou JR e PP com K-Sol Massaranduba. Ocorrer que nem todos aí serão candidatos o que nos leva a intuir uma eleição a ser definida em primeiro turno. Uma aposta da coluna. 

GENOCÍDIO – Um livro a ser lançado sobre massacre aos índios brasileiros no período da Ditadura Militar (1964-1984), ainda no prelo, narra 20 casos de mortes de índios e graves violações as comunidades nativas, entre eles, índios da tribo Suruí Paiter, em Rondônia. As mortes são registros colhidos pela Comissão da Verdade que constatou somente nesta tribo a morte de 200 índios.  É uma boa oportunidade para que nossas autoridades reconheçam as atrocidades praticadas contra as comunidades indígenas brasileiras e para que estas etnias tenham seus direitos respeitados e os danos ressarcidos.

INFLUÊNCIA – A revista EXAME divulgou um levantamento inédito feito pela consultoria Medialogue para constatar a influência dos prefeitos das capitais na internet e Dr Hildon (PSDB), prefeito de Porto Velho, está entre os dez mais bem posicionado.  Desde que assumiu a administração municipal o tucano imprimiu um ritmo alucinado e sempre é fotografado com populares nas redes sociais. Gostem dele ou não é hoje o político mais popular junto ao cidadão comum da capital. Num momento tão inóspito para a espécie.
HARAQUIRI – A ânsia reformista do Congresso Nacional afronta em grande parte direitos individuais que ao tempo foram sendo consolidados. Nossos parlamentares escolheram um momento de crise aguda para tratorar tais direitos e impor uma agenda privativista e mínima de estado. A reforma Trabalhista, por exemplo, traz em seu bojo mais afrontas do que avanços. Não há clima político nem moral para um Congresso sob suspeita mexer em direitos e, caso mexa, significará um haraquiri coletivo nas eleições vindouras. 

POETA – Antônio Barbosa, conhecido como poeta da transposição, foi um primeiro entusiasta na PEC que culminou com a lei que garantiu o direito para que muitos servidores estaduais contratados até 1997 migrassem aos quadros da União. Após a aprovação da emenda, Poeta decidiu se afastar da causa por entender que sua contribuição havia sido concluída. Contudo, ao perceber que o processo da transposição está lento e os sindicatos acomodados, decidiu reativar a associação que deu início a tudo para dar a celeridade que o caso requer e percorrer o estado para explicar os passos jurídicos a serem dados. Além de poeta, Barbosa é um expert das entranhas da transposição. Merece ser ouvido. 

Fonte: Jornalista Robson Oliveira- Porto Velho/RO.



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