Estrela do Salão do Automóvel de São Paulo de 1966, Galaxie 500 foi o primeiro veículo de passeio produzido pela Ford no Brasil e inaugurou o segmento de luxo no país
O Ford Galaxie 500 nacional trazia desenho moderno e atual. Os faróis “em pé” eram marca registrada do modelo
Embora os automóveis Ford já rodassem no Brasil desde 1914, foi somente a partir de 1919 que a empresa fundada por Henry Ford fincou bases em terras verde e amarela. Naquele ano foi aprovada pela diretoria da Ford Motor Company, a criação da filial brasileira, com capital inicial de 25 mil dólares, e que teria os cuidados do diretor E. A. Evans e Benjamin Kopf para São Paulo. O senhor Evans estabeleceu o início das operações com apenas 12 funcionários, num depósito de 2 andares na rua Florêncio de Abreu, no centro de São Paulo, onde se iniciou a montagem de automóveis Modelo T e caminhões Ford TT. Foi o primeiro fabricante de automóveis a se estabelecer no Brasil. No primeiro ano de operações da filial brasileira foram vendidos 2.447 automóveis, e mais de 4 mil unidades foram vendidas no ano seguinte.
A imagem de luxo era reforçada pelo seu tamanho, maior que todos os carros nacionais
A rápida expansão do mercado brasileiro leva à ampliação da linha de montagem. Em 1921 foi inaugurada uma sede própria da filial brasileira à rua Solon, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, em um prédio especialmente construído para funcionar como linha de montagem. Foi a 1ª instalação industrial construída no Brasil com esse propósito, sendo o engenheiro responsável pela obra B. R. Brown, que havia supervisionado também a construção da fábrica norte-americana de Highland Park, a principal instalação industrial da Ford na época. O Gerente-Geral da filial brasileira era o dinamarquês Kristian Orberg, que se manteria no posto até 1953.
Já em 1923, a filial brasileira da Ford Motor Company contava com 124 funcionários, e tinha capacidade de produção anual de 4700 carros e 360 tratores. A capacidade diária de produção era de 40 veículos. O volume de vendas surpreende em 1924; o Modelo T, nesse ano, vendeu 24.250 unidades, foi o recorde da filial brasileira até a década de 60, quando foi introduzido o Ford Corcel. A Ford participaria ainda da 1ª exposição de automóveis do Brasil, no Palácio das Indústrias, em São Paulo, entre 4 e 12 de outubro daquele ano. E desde aqueles tempos remotos também havia uma preocupação com o pós-venda, em 1927, É apresentado o novo Modelo A que, com seu motor de 4 cilindros e 40 HP, proporcionava novos níveis de desempenho e imensa durabilidade. Um dos veículos de melhor relação custo-benefício da história do automóvel e um dos modelos antigos de maior índice de sobrevivência.
Ainda em 1927, a Ford lança o modelo A, o popular “Fordinho” no Brasil, que substituiu o Modelo T e trouxe novos recordes de vendas. Sempre atenta às novas oportunidades, em 1939 a Ford do Brasil começa a atuar no segmento de cargas e transporte de massa por isso passa a disponibilizar o motor Hercules Diesel nos caminhões e chassis de ônibus de exportação. Foi muito usado aqui no Brasil.
Mas foi no pós-guerra que a Ford começou a se desenvolver fortemente no Brasil. Em 1953, foi inaugurada a nova unidade da Ford no Brasil, no bairro do Ipiranga, SP. Montando automóveis americanos e europeus, caminhões, tratores e chassis de ônibus, foi a mais moderna instalação industrial automobilística da época. Em 26 de 1957, o 1º veículo Ford brasileiro, o caminhão F-600 V8 a gasolina, deixa a linha de montagem da fábrica do Ipiranga, com 40% de nacionalização. Em outubro daquele ano foi produzida a primeira pick-up F-100 nacional. Tanto o F-600 como a F-100 contavam ainda com motor V8 importado.
Em 1958 é inaugurada no complexo industrial do Ipiranga, pelo então Pres. da República Juscelino Kubitschek, a nova fábrica de motores V8. Esse motor era conhecido como Power King. Com o bloco em Y, tinha deslocamento de 4,5 litros e desenvolvia 161 cv. Esse motor seria o escolhido para equipar o futuro carro de passeio que a Ford lançaria tempos depois.
GALAXIE 500, A ESPAÇONAVE
Cercada de grande expectativa, o Galaxie 500 fazia sua aparição no 5°. Salão do Automóvel, aberto em 26 de novembro de 1966 no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A primeira unidade era produzida em 16 de fevereiro de 1967, marcava um momento histórico para a Ford e, por extensão, para a indústria nacional que estava completando seu décimo ano de atividades.
Cercada de grande expectativa, o Galaxie 500 fazia sua aparição no 5°. Salão do Automóvel, aberto em 26 de novembro de 1966 no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A primeira unidade era produzida em 16 de fevereiro de 1967, marcava um momento histórico para a Ford e, por extensão, para a indústria nacional que estava completando seu décimo ano de atividades.
O Ford Galaxie 500 foi um marco no Brasil. Era o primeiro sedã de tamanho grande produzido no país. Outra novidade era que pela primeira vez um carro brasileiro estava em sintonia com o seu similar feito em outro país, já que o Galaxie “Made in Brazil” era o mesmo que o modelo norte-americano lançado em 1965. Externamente chamava atenção o seu porte avantajado de 5,33 metros de comprimento, 2 m de largura, 3,02 m entre-eixos, além do enorme balanço traseiro e o predomínio de linhas retas. Os parrudos pára-choques, as calotas, frisos, grade e o retrovisor eram cromados, seguindo a tendência da época. De cada lado da ampla grade vinham dois faróis redondos sobrepostos; as lanternas traseiras eram retangulares.
O assento dianteiro mais parecia um “sofá” de luxo devido aos materiais de alta qualidade empregados. Os ocupantes de trás usufruíram de amplo espaço para as pernas e visão panorâmica devido ao tamanho dos vidros
O espaçoso interior acomodava com folga até seis pessoas em dois bancos inteiriços (o dianteiro com encosto fixo), permitidos pela montagem da alavanca do câmbio, manual de três marchas, na coluna de direção. O painel tinha escalas horizontais nos instrumentos e diversas luzes-espia. Duas delas indicavam motor frio e superaquecido, em vez de um marcador de temperatura analógico (ambas apagadas em temperatura normal); outra apontava o uso do freio de estacionamento, acionado por pedal e liberado por alavanca. Integrado ao conjunto estava um rádio.
O sistema de ventilação forçada, raro no mercado, promovia alguma renovação de ar embora não houvesse saídas de ar de cabine. Os quebra-ventos eram movimentados por pequenas manivelas e molas limitadoras de posição das portas permitiam mantê-las abertas em dois ângulos, 45° e total. Tão extenso era o porta-malas que, à frente de toda a bagagem, ainda cabia o estepe em posição horizontal. Eram oferecidos oito tons de cores (todas sólidas) os nomes faziam alusões a elementos espaciais: Vermelho Marte, Bege Terra, Verde Júpiter, Preto Sideral, Cinza Cósmico, Azul Infinito, Azul Ágena e Branco Glacial. Opcionalmente a capota poderia vir na cor Branco Glacial criando, assim, o efeito “saia e blusa”.
Uma curiosidade era forma de construção do Galaxie. Sua carroceria era fixada sobre um chassi de longarinas de desenho perimetral e não tipo escada com reforço em “X”. Esse tipo de chassi unido à carroceria formava um conjunto rígido e ao mesmo tempo silencioso. A carroceria com deformação programada na frente e na traseira era fator de segurança. O tanque de combustível de 76 litros ficava à frente do eixo traseiro, o que garantia uma boa distribuição de peso. As suspensões, empregavam molas helicoidais bastante macias, em benefício do conforto; os freios eram a tambor nas quatro rodas.
Os primeiros modelos vinham com o robusto motor V8 Power King, de 272 pol³ (4.458 cm³) e comando de válvulas no bloco, que desenvolvia 164 cv de potência a 4.400 rpm e 33,4 m.kgf de torque apenas a 2.400 rpm; acoplado ao trem de força estava o câmbio de três marchas. Pesando 1.780 kg, o Galaxie fazia de 0 a 100 km/h em 15 s, e a velocidade máxima ficava em 150 km/h.
No Brasil, o Galaxie beneficiou-se da total ausência de concorrentes diretos. Ficava no topo de tudo o que se fabricava no Brasil em termos de tamanho e preço. Seu rodar confortável, baixíssimo nível de ruído e as amplas acomodações representavam as apreciadas qualidades dos carros norte-americanos. Em seu primeiro ano de produção foram vendidos 9.237 unidades. Também em 1967, a revista Mecânica Popular elegeu o Ford Galaxie o Carro do Ano.
FAMÍLIA CRESCE
Na linha 1969 passava a ser oferecido na versão LTD de Limited, ou edição limitada. O acabamento mais refinado incluía teto revestido em vinil, grade e frisos diferenciados, tapetes espessos, painel e portas com revestimentos em jacarandá da Bahia, retrovisor externo com ajuste interno (por um botão no painel), lampejador de farol alto, espelho de cortesia no para-sol direito e apoio de braço central no banco traseiro.
O porta-malas conseguia ser amplo mesmo com o estepe posicionado na horizontal e ainda sim sobrava uma grande “caixa” para as bagagens
A partir de 1972 o freio dianteiro passou a ser a disco, em substituição aos arcaicos tambores
O LTD fazia a estreia do motor de 292 pol³ de 4.785 cm³, 190 cv e torque de 37 m.kgf de torque. Era acoplado à transmissão automática de três marchas Cruise-o-Matic, primazia na produção nacional. O ar-condicionado tinha evaporador, comandos e difusores de ar ainda sob o painel. Como opcional havia a pintura metálica.
Na linha Galaxie 1970 o motor 292 passou a ser item de série no Galaxie 500. Na mesma época marcava o lançamento do Galaxie básico, mais simples e acessível, para concorrer com o então novo Dodge Dart e com o Opala 3800. Despojado no acabamento interno e externo, perdia a direção assistida, relógio, a ventilação forçada, o rádio e muitos cromados. Não foi o sucesso esperado, tendo pouco ou nenhum efeito sobre as vendas do Dodge Dart. No final de 1972 a Ford retirava de linha o Galaxie “pé de boi”.
Um ano depois a Ford trilhando o caminho oposto, o do requinte, lançava o LTD Landau. A palavra, de origem francesa, identificava antigas carruagens cujo teto podia ser recolhido metade para a frente e metade para trás, utilizando uma dobradiça central em forma de “S”. No caso deste Ford não havia capota conversível, mas um adorno nas colunas traseiras simulava a tal dobradiça. A diferença marcante do Landau era o vidro traseiro reduzido, para tornar o interior mais privado e aconchegante; calotas raiadas; revestimento da capota em vinil corrugado. No interior havia material aveludado, revestimento dos bancos em couro, opcional, ou em cetim. Luzes de leitura na traseira, controladas pelo motorista, e dois alto-falantes em vez de um só. O câmbio podia ser manual ou automático.
A linha 1972 não sofreu maiores alterações: havia freios dianteiros a disco e teto de vinil areia opcional para o LTD Landau. Alterações estéticas vieram na linha 1973. Houve adoção de novo visual frontal e traseiro nas versões Galaxie 500 e LTD Landau. O capô foi modificado, com parte central mais alta, a fim de casar com as novas grades. No Galaxie 500, a grade era composta de frisos horizontais. No Landau, um conjunto estreito de frisos verticais sugeria a grade do radiador dos antigos automóveis fabricados nos anos 30. A grade era ladeada por painéis na cor da carroceria nos quais as luzes indicadoras de direção se alojavam. A traseira apresentava um novo perfil, com a instalação de lanternas menores. A porção inferior era decorada com painéis, lisos e prateados no Galaxie 500, e com frisos horizontais cromados sobre fundo preto no LTD Landau. O Galaxie 500 passou a compartilhar as calotas raiadas com o LTD Landau.
O teto de vinil areia opcional conferia um visual mais sofisticado e exclusivo ao Galaxie 500 / Pneus de faixa branca e grandes calotas cromadas eram marcas registradas do grande sedã da Ford
FÔLEGO RENOVADO
Os modelos grandes da Ford só ganhariam uma nova mudança visual em 1976. Os quatro faróis vinham agora em posição horizontal, com as luzes de direção nas extremidades e podiam receber lâmpadas halógenas. A grade era menor, com barras verticais, embora o Galaxie 500 continuasse com frisos horizontais, e o pára-choque dianteiro trazia a placa no lado esquerdo. Na traseira as lanternas vinham em conjuntos de três retângulos, com as luzes de ré ainda no para-choque, e todas as seis eram acesas, conferindo ar imponente à noite.
Um novo motor era apresentado e aposentava o antigo V8 292. Importado do Canadá, de geração mais nova, V8 de 302 pol³ (4.949 cm3), passava a debitar 199 cv e 39,8 m.kgf de torque e melhorando sobretudo o desempenho em baixa rotação. Com câmbio manual chegava a 160 km/h e acelerava de 0 a 100 em 13 s; com transmissão automática, 150 km/h e 15 s. Pneus radiais 215/70-15 e rodas mais largas, opcionais traziam maior segurança, assim como o duplo circuito de freios.
Em abril de 1978, foi lançada uma chamada Série II, que trouxe mais alguns mimos e itens de segurança: para-brisa degradê do tipo laminado, novos estofamentos, volante de 4 raios, limpador do para-brisa intermitente, rádio AM/FM com toca-fitas e antena elétrica, cintos de segurança retráteis para os dois passageiros da frente. Já na linha 1979, foi adicionado o novo aparelho de ar-condicionado embutido no painel, tanque de combustível com capacidade ampliada para 107 litros e borrachões nas laterais.
Ainda meados de 1979, o Galaxie 500 era retirado de linha, restava agora somente as versões LTD e Landau, que ainda teriam algum fôlego para entrar na década de 1980. Mas essa história contaremos mais à frente.
FÃ DOS MOTORES V8
O microempresário Taubateano Helber Campos dos Santos, 33 anos, é um fã de carteirinha dos carros equipados com motor V8. Pela sua garagem já passaram modelos como Ford LTD 1977 e um Landau 1978. A robustez e o DNA norte-americano foram os predicados que fizeram o Helber ser admirador dos Galaxie. “Sempre fui um apaixonado pelos veículos antigos, em especial os Ford V8. O Galaxie, por ter sido o melhor carro já fabricado no Brasil, ainda conserva o ar de exclusividade por ter servido diversas diretorias, chefes de estado e pessoas de extremo bom gosto. Seu desenho clássico e robusto, assim como seu DNA norte-americano, são um dos motivos que fizeram com que eu me apaixonasse pelo modelo”, explica o proprietário.
O motor V8 de 4,8 litros e 190 cv até hoje atrai uma legião de fãs que ajuda a propagar a fama do Ford Galaxie
O antigo alternador da marca Wapsa foi trocado por um sistema mais moderno. Algo que não influencia na originalidade do modelo
O Ford Galaxie 500 1973, que ilustra a reportagem, apareceu em sua vida depois de várias pesquisas pela internet quando ele estava em busca de um Galaxie conhecido como “farol em pé”. Após várias buscas o microempresário encontrou o Galaxie do sonho – era um modelo 1973 com a rara combinação de cores vermelho imperial e teto de vinil areia. “Esse Galaxie chamou a minha atenção devido o perfeito estado de conservação. Fiz apenas as manutenções preventivas e melhorias que achava necessário como revisão de suspensão e freios. Troquei carburador DFV original por um Motorcraft bijet e o alternador por um de 90 Ah, pois o original da marca Wapsa de 35 Ah tem menor capacidade de recarga”, salienta Campos.
Entre pontos fortes destacados pelo dono há o conjunto mecânico forte e robusto, além da simplicidade de manutenção. O conforto e maciez ao rodar. E por fim a rara combinação de cores vermelho imperial e teto de vinil areia. Já os pontos fracos sem dúvida o seu tamanho de mais de 5 metros de comprimento por 2 metros de largura, nos dias atuais é complicado de se achar uma vaga em estacionamentos e nas ruas. Algumas peças de acabamento têm um custo elevado e são somente encontradas em sites e lojas especializados, ou em feiras e encontro de antigos.
Fonte: Oficina Brasil.com.br
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