quinta-feira, 24 de novembro de 2016

DEUS NOS FALA

Evangelho de Lucas 23, 35-43

“A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus! Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam: Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus. Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.”


Perante esta cena tão trágica da crucificação de Jesus, o povo fica olhando de maneira passiva. No entanto, os chefes zombavam de Jesus, colocando em dúvida a sua condição divina, o Eleito. Também os soldados acharam graça da sua realeza. Um dos malfeitores que estava suspenso ao lado d’Ele o questionou, mas o outro o repreendeu, reconhecendo que Jesus realmente era Deus, e com uma profissão de fé pediu que se lembrasse dele no seu Reino: “Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres em teu Reino.” Jesus respondeu: “Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no paraíso.’”


Pronta a resposta de Jesus, confirmando que, desde já, ele está no paraíso. Esta é a cena central, em que lá do alto da cruz Jesus domina a situação; e lá embaixo os seres humanos que não conseguem entender nada daquilo que está, realmente, acontecendo. Com isso, é evidente, por incrível que pareça, não temos outra maneira de reconhecer a realeza de Jesus senão através da cruz. Quando queremos fazer uma experiência religiosa só a partir daquilo que aparece, sem nos preocupar com o sentido e o significado do que está por trás, nós nos tornamos obstáculos para a Verdade. Não teremos capacidade de reconhecer que Deus age na nossa história não a partir de nós, seres humanos, mas a partir d’Ele, o nosso Deus.


O grande perigo é fazer de tudo isto uma experiência idolátrica que não nos permite abrir a intervenção de Deus na nossa vida. Por isso, podemos fazer como os chefes, os soldados: zombar de Deus, porque achamos que somos nós que determinamos a ação de Deus, como nós pretendemos. A realeza de Deus na nossa vida não é comparada,
portanto, com aquela humana que é uma total submissão aos poderosos desta terra. A realeza de Deus se manifesta através da cruz, enquanto doação total para ajudar a humanidade, sem excluir nenhuma situação de miséria e de pecado. Também o maior bandido pode alimentar esperança de salvação.


Para compartilharmos essa realeza é necessário, simplesmente, reconhecê-Lo e pedir que não se esqueça de nós. Quem muito sofre tem capacidade para compreender melhor essa verdade. Essa realeza se percebe com e na fé. É uma continuação do caminho da cruz. Assim sendo, a Igreja e os cristãos para celebrar a festa da realeza de Nosso Senhor Jesus devem refazer o caminho da cruz.


Jesus destrói a lógica humana da potência, do poder, não se servindo da sua potência divina para salvar a si mesmo, mas doando-se até o fim. Jesus se abandona totalmente à fragilidade da não violência e do amor, que se tornam a verdadeira realeza. Para reconhecer tudo isso, tem que ter a coragem de pedir: “Lembra-te de mim no teu Reino.” Esse espírito de subserviência permite ao nosso Rei que nos proporcione horizontes de vida que nenhum rei desse mundo pode dar. Pergunto-lhe: o que é mais importante pra você, a realeza humana ou a realeza divina? O que lhe atrai mais no dia ao dia, o rei dinheiro, o rei poder, qualquer que seja, ou o Rei Jesus na cruz? O desafio está aberto.

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicador.

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