“Os justos têm vez ainda na nossa sociedade?” Ou ainda “Parece que o desonesto, o iníquo, o perverso e malvado se dão bem na nossa sociedade!”. Essas e outras palavras me são confiadas quase diariamente pelas pessoas que encontro. Eu costumo responder para não desanimar diante da aparente vitória do mal, porque Deus não abandona os seus fiéis, os justos, os que se preocupam em seguir os caminhos do Senhor. E para reforçar isso, nos vem ao encontro essas palavras sábias do salmo 36 das Sagradas Escrituras. São Palavras de Deus e, portanto, incontestáveis. Veja o que nos diz:
“Não te irrites por causa dos que agem mal nem invejes os que praticam a iniquidade, pois logo eles serão ceifados como a erva dos campos, e, como a erva verde, eles murcharão. Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança. Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração ele atenderá. Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá. Como a luz, fará brilhar a tua justiça; e como o sol do meio-dia, o teu direito. Em silêncio, abandona-te ao Senhor, põe tua esperança nele. Não invejes o que prospera em suas empresas, e leva a bom termo seus maus desígnios. Guarda-te da ira, depõe o furor, não te exasperes, que será um mal, porque os maus serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra. Mais um pouco e não existirá o ímpio; se olhares o seu lugar, não o acharás. Quanto aos mansos, possuirão a terra, e nela gozarão de imensa paz. O ímpio conspira contra o justo, e para ele range os seus dentes. Mas o Senhor se ri dele, porque vê o destino que o espera. Os maus empunham a espada e retesam o arco, para abater o pobre e miserável e liquidar os que vão no caminho reto. Sua espada, porém, lhes traspassará o coração, e seus arcos serão partidos. O pouco que o justo possui vale mais que a opulência dos ímpios; porque os braços dos ímpios serão quebrados, mas os justos o Senhor sustenta. O Senhor vela pela vida dos íntegros, e a herança deles será eterna. Não serão confundidos no tempo da desgraça e nos dias de fome serão saciados. Porém, os ímpios perecerão e os inimigos do Senhor fenecerão como o verde dos prados; desaparecerão como a fumaça. O ímpio pede emprestado e não paga, enquanto o justo se compadece e dá, porque aqueles que o Senhor abençoa possuirão a terra, mas os que ele amaldiçoa serão destruídos. O Senhor torna firmes os passos do homem e aprova os seus caminhos. Ainda que caia, não ficará prostrado, porque o Senhor o sustenta pela mão. Fui jovem e já sou velho, mas jamais vi o justo abandonado, nem seus filhos a mendigar o pão. Todos os dias empresta misericordiosamente, e abençoada é a sua posteridade. Aparta-te do mal e faze o bem, para que permaneças para sempre, porque o Senhor ama a justiça e não abandona os seus
fiéis. Os ímpios serão destruídos, e a raça dos ímpios exterminada. Os justos possuirão a terra, e a habitarão eternamente.(...)”
É evidente, nessa oração, que o mal não tem vez, embora possa ter uma aparente vitória. De fato, o triunfo dos perversos será derrotado pela intervenção de Deus e, por isso, diz o salmo, precisa confiar e esperar em Deus. É Ele a nossa vitória. Na parte central do salmo, evidencia-se a ação de Deus que julga tanto o ímpio e quanto o justo, dando a cada um o que merece, destinando, assim, o fim do ímpio e a salvação do justo. Terminando, o salmo proclama que o justo deve sempre esperar pelo Senhor, é Ele a sua vitória. No entanto, o ímpio vai se perder. O salmista exalta o triunfo do justo, embora que possa passar por provações cruéis da vida. Ele vai herdar a terra, na Bíblia a terra é considerada quase uma criatura vivente, portanto, uma herança para aqueles que seguem os caminhos de Deus.
Isto representa o símbolo efetivo do dom de Deus na história humana. E a partir desse dom que vai ao tempo se aperfeiçoando, tornando-se manifestação do reino de Deus, em que os seres humanos poderão viver uma perfeita comunhão com Deus, em que não se terá mais nem luto e nem dor, nem choro e nem opressão. Assim sendo, o mal será derrotado e não terá mais vez na vida dos fieis.
É a esperança em Deus que dá aos filhos de Deus de apostar na vida para sempre. Deste modo, o justo, embora veja a vida dos malvados favorecida-bonita ao contrário dele, não desanime porque tudo isso passa rapidamente, e é somente uma pura ilusão de uma vida sem futuro. No entanto, a vida dos justos está nas mãos de Deus. É isto que vale! Assim sendo, afastar-se de Deus, decidir de fazer sem ele, é causa de sofrimento e de "morte". Nesta rejeição, o que é mais importante para a vida, o que dá riqueza de sentido, é marcado negativamente perdendo aquela bondade do qual ele era o portador: o amor é tingido de ambiguidade, o trabalho de fadiga, a maternidade de dor, e em seguida, a relação fraterna de ódio (Gn 4) e aquela social de soberbia (Gn 6-7).
Fonte:Claudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.
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